Dunga é oficializado como novo técnico da Seleção Brasileira

Álvaro Castro - Hoje em Dia
22/07/2014 às 11:05.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:28

(Vanderlei Almeida)

Em entrevista coletiva realizada na manhã desta terça-feira (22) na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF),no Rio de Janeiro, Carlos Caetano Bledorn Verri, popularmente conhecido como Dunga, foi oficializado como novo treinador da Seleção Brasileira. Ele retorna após deixar o comando do Brasil em 2010, ano em que foi eliminado da Copa do Mundo nas quartas de final pela Holanda, em derrota por 2 a 1. O anúncio foi feito pelo presidente da CBF, José Maria Marin, pelo novo coordenador Geral de Seleções, Gilmar Rinaldi, apresentado na semana passada e pelo vice e futuro mandatário da entidade, Marco Polo Del Nero.

"É um início de trabalho, apesar da CBF já estar nesse planejamento há dois anos, vamos dar sequencia. Não podemos colocar como terra arrasada essa Copa, tiveram coisas boas, outras precisamos consertar. O talento é importante, mas também o planejamento. No futebol o marketing é muito importante, mas é necessário o trabalho dentro de campo para sustentar esse marketing", disse Dunga.

Para Marin, novo treinador é bem capacitado. "Conforme nós dissemos na última coletiva, apresentamos o novo técnico da Seleção Brasileira. Atleta que foi campeão do Mundo, capitão de uma seleção campeã. Tem capacidade para dirigir a seleção, ficou demonstrado através de números que possui todos os requisitos para dirigir a seleção. foi uma escolha feita através da participação de todos que estão aqui nesta mesa, numa demonstração de unidade e integração visando grandes conquistas no futuro. Um homem experimentado no campo e fora dele e todos nós depositamos total confiança na sua competência e capacidade de trabalho", disse o presidente Marin.

"Começamos agora o nosso trabalho e já estamos trabalhando para montar a comissão técnica, que não será divulgada hoje. A ideia évoltar algumas coisas importantes nessa reformulação. Precisamos que o jogador volte a sentir um frio na barriga na época da convocação e nós que fomos atletas sabendo que isso é importante. Estamos com o coração aberto para tentar um grande trabalho buscando um equilíbrio em um momento tão importante como este", completou Gilmar Rinaldi.

Dunga, de 51 anos, esteve à frente da Seleção em 60 jogos (42 vitórias, 12 empates e seis derrotas, 76,6% de aproveitamento), levando a missão de renovar o time depois do fim do Mundial de 2006 (Alemanha) e da geração de Ronaldo, Roberto Carlos e Cafu. Sob seu comando, o time canarinho conquistou os títulos da Copa América de 2007 e da Copa das Confederações de 2009, além da liderança nas Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa da África do Sul. Ele acumula, ainda, uma passagem frustrada pelo Internacional em 53 partidas (26 vitórias, 18 empates e 9 derrotas, aproveitamento de quase 60%) entre janeiro e outubro de 2013.

Em 2014 o Brasil terá pela frente quatro amistosos. Colômbia e Equador em setembro nos EUA; Argentina em outubro na China, pelo Superclássico das Américas, além da Turquia em novembro, fechando a temporada. Em 2015 o Brasil disputa a Copa América, que terá uma edição especial em 2016, ano das Olimpíadas, que serão realizadas no Rio de Janeiro. Caso conquiste o título continental, o time canarinho ainda terá a Copa das Confederações em 2017, fechando as competições oficiais antes do Mundial de 2018, que será realizado na Rússia.

Dunga e a imprensa

O ex-jogador lembrou de sua última passagem pela Seleção e disse que vai tentar melhorar sua relação com a imprensa. "Sei que eu preciso melhorar muito no contato com vocês jornalistas. A minha passagem na Seleção, foquei muito mais no trabalho dentro de campo e acho que os resultados que obtive dispensam palavras. Mas preciso aprimorar meu relacionamento com a imprensa, é a reflexão que tive nos últimos anos", analisou.

Segundo Dunga, a Copa é um aprendizado. "Me aprimorei durante a Copa do Mundo, tive um aprendizado muito bom e espero reiniciar este trabalho da melhor maneira possível e estamos prontos para receber críticas e sugestões em prol da Seleção. tudo o que for bom, vamos trabalhar e trocaremos ideias para que obtenhamos os resultados", completou Dunga.

Confira abaixo os principais pontos da entrevista coletiva do novo técnico da Seleção Brasileira

O caminho até a Copa do Mundo

Teremos pela frente seleções que cresceram muito como a Colômbia, Equador e Argentina. Teremos que preparar uma equipe para as Olimpíadas e nos prepararmos para as Eliminatórias. Quanto ao futebol, nós temos o talento e qualidade. Gostamos de falar de talento e improvisação e elogiamos o planejamento e organização da Alemanha. Teremos que buscar um futebol com características do futebol brasileiro, trazer jogadores que possam realizar esse trabalho e principalmente trazer jogadores que podem fazer a curto e médio prazo.

A volta à Seleção

O Brasil tem mais ou menos 200 milhões de pessoas e todos queremos jogar futebol. Chegar à Seleção é algo fantástico e retornar é quase impossível. Como na vida não tem nada impossível, as coisas acontecem. Se você for integro, fizer seu trabalho, as pessoas irão reconhecer.

A importância do Brasil após a derrota em 2014

O torcedor está machucado, mas a Seleção ainda representa muito para o povo. Nós vamos conquistar esse carinho e o apoio através dos resultados e do trabalho. Vocês já me conhecem. Eu não vou vender um sonho, mas uma realidade. Se criou uma expectativa no torcedor e o futebol é imprevisível e há pessoas competentes no mundo todo. Nós já fomos os melhores e precisamos resgatar essa capacidade, temos talento para isso. Precisamos ser humildes e reconhecer que as seleções trabalharam por anos para chegar em bom nível.

O novo futebol

O futebol arte existe, será difícil classificar (para a Copa de 2018) como sempre foi. O futebol mudou. Antigamente somente jogadores brasileiros e argentinos iam para a Europa. Hoje tem um grande intercâmbio, como a Colômbia que tem um time muito competitivo. O que não podemos é comparar o futebol de antigamente com o de agora. Não existirá um Pelé e um ídolo a cada dia. Temos que ter equilíbrio entre talento, humildade e trabalho e passar para as crianças que precisamos nos preparar bem porque a vida cobra os nossos erros.

O futebol muda a cada instante e a cada dia. Para todos que falam de futebol, todos falam de futebol ofensivo e todo mundo entende colocar 5 atacantes. O que vimos foram as equipes marcando 10 metros atrás do meio de campo, criando espaços para atrair o adversário e atacar. Isso seria chamado de jogar defensivamente aqui no Brasil. O importante é chegar com 4, 5 jogadores na frente, mas não estar parado com 4, 5 jogadores na frente. Cai um outro conceito nosso de que o craque não precisa participar. O futebol hoje já não é mais de uma figura. Ele é total em todos os setores do campo e todos precisam participar, como o goleiro alemão jogando de libero.

A herança de 2010

Os meus números e o trabalho realizado foram os indícios para que o presidente Marin e o Marco Polo (Del Nero) me chamassem para a Seleção. Injustiça, usamos muito, mas não existe, tanto que estou aqui. O mais importante que a gente tem que passar é que temos que ter um perfil de comprometimento, respeito, ética. Isso não quer dizer que não cometamos erros. Precisamos reconhecê-los e tentar ser uma pessoa melhor e não repeti-los. Nunca me preocupei com o que vão falar, mas com minhas ações, ter o respeito de meus colegas para que as pessoas possam confiar em mim. Fico feliz pela nova oportunidade e pela confiança, assim como no Gilmar e no Gallo. A responsabilidade agora é nossa de conquistar os resultados.

Em 2010 resgatamos o amor pela Seleção. O jogador não pode escolher os jogos, mas jogar todos. Você tem que excluir pelo rendimento dentro de campo, mas não pela idade. Eu respeito as enquetes e respeitos os sites e quem falou ou deixou de falar. Também tem pessoas que apoiam e e como uma eleição, nem sempre o favorito das pesquisas ganha. Tenho que buscar força nos 20% que estão a meu favor e tentar conquistar os demais com trabalho. Terei que fazer muito mais para conquista-los já que os 76% de aproveitamento não foram suficientes

Tudo o que for em prol da seleção e tiver objetivo de ajudar a seleção coletivamente eu vou estar pronto para ouvir. Nós estamos querendo sugestões da Seleção Brasileira ter um momento de privacidade para treinar jogadas, trabalhos diferenciados e isso é legal e precisa ser feito.

O planejamento da nova Seleção Brasileira

Acho que todas as coisas são importantes. Temos que ter resultados e formar uma seleção para 2018. Temos que mesclar. A Holanda mesclou e temos que passar as duas partes da moeda para o torcedor, assim como a Alemanha, que perdeu seu capitão para a próxima Copa do Mundo. O importante e lançar os jogadores novos com experiência em seus clubes. O caminho precisa do resultado para dar a tranquilidade e aos poucos lançar os garotos. e temos que colocar os jogadores pelo seu rendimento, não pela sua idade.

Dificuldades com a imprensa

Não é que eu tive problema com a Globo, tive atrito com várias pessoas. Sou gaúcho e o combinado não é caro. Eu talvez tenha levado muito na ponta da faca porque cumpri tudo o que foi combinado e o contrário não aconteceu. Não vou mudar minha essência, mas as coisas tem que ser planejadas, colocadas no papel e cada um terá seu espaço. Ninguém vai cercear o trabalho da imprensa, mas a imprensa tem que entender que o objetivo maior é a seleção.

Nelson Mandela conseguiu transformar o seu mundo sem uma arma, com paciência, espero que tenha 1% da paciência dele. Eu penso na Seleção e se ela for bem vou estar bem e feliz. Tem muito sacrifício, mas a alegria e a satisfação e bem maior. Quatro anos parecem muitos, mas quando fechar os olhos já passou.

O exemplo Alemão

E parece que o mundo descobriu a Alemanha agora. Mas sempre foi organizada, sempre teve planejamento. A Alemanha sempre deu importância para o esporte em geral, sempre foi assim. A Alemanha foi campeã com grande merecimento. O melhor jogador deles, o Müller, recuava para marcar e isso não diminuía em nada o seu talento. Para você ver o quanto é importante o planejamento, o recorde do Klose ficou em segundo plano. Aqui no Brasil, se o treinador não coloca ele, iriam matar o técnico. Às vezes as pessoas que estão de fora não entendem isso.


 

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