
Polarização, palavra que há tempos está entranhada nos bastidores políticos do Cruzeiro e causa abalo nas relações ligadas aos processos eleitorais desde 2017. A nova divergência da vez está direcionada ao pleito presidencial que será realizado em maio próximo e definirá o presidente que exercerá o "mandato tampão" até o fim de 2020, período em que Wagner Pires de Sá - que renunciou ao cargo no fim do ano passado - comandaria a Raposa.
Frente a frente estão os membros do Conselho Gestor, que lançaram Emílio Brandi como postulante à presidência, e o advogado Sérgio Santos Rodrigues, candidato derrotado nas eleições de 2017, e que, novamente, é um dos concorrentes ao cargo máximo do clube. Essas duas alas não se entendem quando o assunto é à eleição para escolher o futuro presidente do Cruzeiro, que pode ter prejudicado o seu processo de reconstrução com um novo acirramento político.
Polarização
Uma reunião entre membros do Conselho Gestor (CG) e o advogado Sérgio Santos Rodrigues nesta quarta-feira escancarou divergências de opiniões entre os dois pólos. É que os membros do Núcleo Dirigente Transitório entendem que para evitar atrasos importantes no processo de reconstrução seria interessante que apenas um candidato entrasse como possibilidade para a presidência até dezembro deste ano. E a possibilidade colocada pelo CG era uma renúncia de Sérgio ao próximo pleito para que Emílio fosse o presidente. E que em outubro próximo, na eleição que definiria o mandatário celeste para o triênio 2021, 2022, 2023 o apoio seria dado ao advogado.
Já Sérgio Santos Rodrigues, que afirma ter sido surpreendido com a candidatura de Emílio Brandi, agora o candidato do Conselho Gestor, não abre mão de concorrer no pleito daqui há dois meses.
Reunião
Um encontro aconteceu entre membros do Núcleo Dirigente Transitório e Sérgio Santos Rodrigues, e áudio de ambas as partes foram vazados no Whatsapp escancarando as diferenças atuais entre esses "players". Ouça os áudios abaixo.
"Convidamos o Sérgio Santos Rodrigues para fazer um debate sobre a situação de campanha, quem seriam realmente os candidatos, e nós levamos para eles uma proposta onde o Conselho Gestor, que está muito preocupado com a continuidade nos próximos dois meses. Porque quando vamos negociar com banco, credores, Fifa, é muito difícil para negociar para outros realmente cumprir. Viemos com a proposta para o Sérgio, que ele abdicasse da candidatura dele, que é legítima, um cara que nos ajudou muito, foi muito importante nesse processo de tirar essa turma que estava aqui no Cruzeiro (...) que nós gostaríamos que ele fosse o nosso candidato do Conselho Gestor e do grupo Transparência, falo em nome do grupo também, e que ele seria o nosso candidato para outubro", disse Gustavo Gatti, membro do Conselho Gestor, em uma das mensagens enviadas a conselheiros.
O próprio presidente do Núcleo Dirigente Transitório, Saulo Fróes, reiterou que a candidatura de Sérgio Santos Rodrigues é legítima, mas que há tentativas de findar a atual disputa política no clube.
"Gostaria de dizer que hoje (quarta-feira, 11 de março) nos reunimos com o Sérgio Rodrigues, para que possa evitar essa disputa política que está ocorrendo. Para o Sérgio foram feitas várias propostas, inclusive, uma delas, que ele possa integrar o Conselho Gestor, e, também, até mesmo indicar candidato para o Conselho Deliberativo que vai ser formado. Mas, infelizmente, nenhuma dessas propostas foi aceita pelo mesmo, que realmente quer manter sua candidatura, que respeitamos, mas não concordamos. Ele foi radical falando que não aceitava nenhuma dessas propostas, mas que ainda consultaria suas bases. Julgamos importante dar o conhecimento aos conselheiros, à torcida dessa situação, caso esse conselho nção possa permanecer, não possa continuar até o fim do ano, após o dia 21 de maio, é uma decisão unânime de retirar e voltar a ser torcedores fiéis do glorioso Cruzeiro", gravou mensagem que também circulou no WhatsApp.
Outro lado
Sérgio Santos Rodrigues, também em áudio que circulou no aplicativo de bate-papo, falou do encontro com o Conselho Gestor, mas fez ponderações sobre suas propostas de coligação com o grupo.
"Quanto a reunião de hoje que foi feita realmente, estive reunido não com todo Conselho Gestor, mas com alguns dos membros. Na verdade essa questão de composição começa um pouco antes. Foi feita uma reunião na semana passada, diretamente com o candidato, o Emílio (Brandi), a gente compareceu, eu e doutor Lidson, meu vice, mais dois intermediários que vou poupar o nome acho que não tem necessidade de falar. Eu fiz a pergunta, "Emílio, porque você quer ser candidato a presidente do Cruzeiro hoje e não queria antes?" Ele me explicou que foi uma decisão do Conselho Gestor, enfim, e deixou claro que eles queriam fazer a modernização do estatuto e que o Conselho Gestor terminasse de fazer o seu trabalho. E ali com ele eu fiz pela primeira vez com ele também uma proposta. Proponho e concordo modernizar o estatuto, a gente até já começou esse trabalho com um grupo de conselheiros, plural, na minha opinião como deve ser, de forma colaborativa, a gente mantém o Conselho Gestor e você vira o nosso vice-presidente (...) E naquele momento ele recusou e a conversa não encaminhou", explicou Sérgio Santos Rodrigues, que deu mais detalhes no áudio de quase cinco minutos.
"Emílio, Você pode até não me conhecer para te dar uma tranquilidade de ser vice-presidente na Chapa, eu me proponho, ou via estatuto ou compromisso em cartório, que eu só assino documento que tenham sua assinatura. Você nem pode ser surpreendido de falar depois que eu fiz coisas nas suas costas. Foi uma proposta, acho, até muito melhor. Ele iria compor a chapa e manteria os dois compromissos dele (...) Ali a proposta que ele tinha feito para mim era a de retirar a minha candidatura, e que ele não seria candidato à reeleição, e os membros do Conselho Gestor eu deveria procurar o apoio de cada um. E de fato teve essa reunião, fui com alguns desses membros e a proposta era basicamente a mesma, era desistir da candidatura", disse.
A intenção do Conselho Gestor era que não houvesse embate político neste momento para não atrapalhar, segundo Gustavo Gatti, os projetos e planejamentos urgentes do Conselho Gestor.
"Nós o convidamos (Sérgio Santos Rodrigues) a participar, sentar à mesa com a gente, tomar conhecimento das coisas todas, e chegaria em outubro com uma candidatura, uma coisa natural do grupo, e as coisas teríamos uma transição muito mais fácil, isso que nós estávamos lutando. Pelo que senti da posição dele, é que ele não abre mão da candidatura e ficou de estudar com os pares dele se renunciaria a essa candidatura ou não. Porém, acho que nós vamos partir para um embate inútil e prejudicial ao Cruzeiro, que pode ficar parado nós próximos dois meses. E teremos uma transição que estamos com 75 dias, e a gora que estamos conseguindo dar forma as coisas. Então nós perderíamos 60 dias até a eleição e perderíamos mais 75 dias. Isso nós vamos somar 105 dias, quase quatro meses, num período muito crítico da vida do Cruzeiro, que não se pode dar ao luxo de ter duas eleições ao mesmo ano", falou Gatti.
Sérgio Santos Rodrigues, mesmo com todas as argumentações do Conselho Gestor, não viu tantas garantias de que em outubro ele seria o candidato único nas eleições para o triênio 2021, 2022 e 2023.
"Por outro lado a proposta que foi feita, envolvemos um grupo muito grande, a gente não concordou por isso, porque em nenhum momento foi uma proposta firme e que todos vão apoiar formalmente em outubro, porque sempre há algum tipo de condicionante. Repetindo, eles mesmo falam que não tem como falar por todos, e aí você tem Conselho Gestor, vice-presidente, tem atual presidente, vários outros atores envolvidos e que nada impede que eles sejam candidatos em outubro. Como estamos caminhando bem aí, o grupo Transparência entendeu que nossa candidatura veio primeiro, ela é legítima, ninguém do Conselho Gestor queria ser candidato, o grupo está firme com a gente e por isso que não caminhou", explicou.
Emílio Brandi
Sobrinho do icônico Felício Brandi, considerado o mais importante presidente da história do Cruzeiro, Emílio Brandi usou o seu Twitter pessoal para falar sobre a disputa política atual no Cruzeiro.
"Temos que pensar no bem do Cruzeiro, não em política e vaidades pessoais. É preciso lembrar que o Conselho Gestor trabalha desde o início do ano no projeto de reforma e modernização do ESTATUTO. Isso é primordial e vem de encontro ao que o torcedor e a sociedade pedem", publicou Brandi nesta quarta-feira.
Ouça os áudios:
Sérgio Santos Rodrigues
Gustavo Gati
Saulo Fróes