Enquanto Cruzeiro comemora boa fase, Galo busca reformulação após perda do ídolo

Alberto Ribeiro e Felipe Torres - Hoje em Dia
Publicado em 30/07/2014 às 07:53.Atualizado em 18/11/2021 às 03:34.
 (Washington Alves e Araceli Souza)
(Washington Alves e Araceli Souza)

Uma metade de Minas fala em auge. A outra cogita até uma reformulação. Os 50% de torcedores azuis comemoram a liderança (28 pontos) isolada do Campeonato Brasileiro. Os 50% de alvinegros estão preocupados com o modesto 11º lugar (15) na classificação da Série A. Cruzeiro e Atlético vivem momentos opostos neste segundo semestre da temporada 2014.

A Raposa manteve o embalo após o último título nacional, apostando na manutenção da base montada pelo técnico Marcelo Oliveira, no ano passado. O time esbanja entrosamento e “voa” em campo. As estrelas Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart não foram negociadas nas janelas de transferência e justificam o investimento da diretoria celeste.

Chegaram reforços pontuais, caso do atacante Marquinhos e do zagueiro Manoel. A eliminação precoce na última Copa Libertadores aumentou a “fome” dos cruzeirenses por novos títulos. A Raposa é apontada como grande favorita a dar mais uma volta olímpica na Série A, em dezembro.

A atual trajetória azul lembra muito a do Galo na inesquecível campanha da Libertadores de 2013. A equipe de Cuca vinha do vice-brasileiro e permaneceu focada. Ergueu o título Mineiro e a taça continental, logo em seguida.

Porém, a motivação parece em baixa agora. Basta observar o fim da história de Ronaldinho Gaúcho com o alvinegro.

Os comandantes Paulo Autuori e Levir Culpi se sentaram no banco de reservas atleticano em 2014. Porém, a espinha dorsal da formação e a mentalidade continuam sendo aquelas implantadas por Cuca. Assim, o desempenho no Brasileirão assusta a Massa. De quebra, o clube contratou somente o meia Maicosuel e se mostra muito desorganizado taticamente.

Times voltam a campo no fim de semana

Cruzeiro não quer perder o ritmo no Brasileirão. Sábado, o time de Marcelo Oliveira visita o Botafogo, às 18h30, no Maracanã, pela 13ª rodada. Por sua vez, o Atlético recebe o Atlético-PR, domingo, também às 18h30, no Independência. O Galo, já sem Ronaldinho Gaúcho, precisa da vitória para tentar se aproximar do G-4 e se afastar da zona da degola.

Alvinegros voltam nesta quarta aos treinos

Os jogadores do Atlético voltam à Cidade do Galo nesta quarta-feira (30) pela tarde, após a folga. A movimentação será grande em Vespasiano, pois Ronaldinho Gaúcho concederá a última coletiva pelo clube, ao lado do presidente Alexandre Kalil.

Já o técnico Levir Culpi começa a armar a equipe para o duelo contra o Atlético-PR, domingo, no Horto, pelo Brasileirão.

Galo ainda luta para se reencontrar após o fim da era do técnico Cuca

Qual é o momento ideal de se trocar as peças? Talvez, este seja o maior dilema entre os dirigentes. Os do Atlético, certamente, convivem com tal pergunta desde o fracasso no Mundial de Clubes da Fifa, dezembro passado, no Marrocos.

Em campo, o Galo não consegue recuperar o brilho da temporada anterior, o que faz a torcida pensar numa mudança radical no time.

“Não creio que uma reformulação total seja necessária. É possível render mais com estes jogadores. Mas o José Mourinho costuma dizer que ‘mudar na vitória é impossível’. Fica sempre aquela gratidão com os atletas campeões.

Aconteceu isso com Barcelona, Corinthians e outros clubes. O Atlético passa por isso agora”, analisa Marcelo Bechler, da Rádio Globo.

Colunista do Hoje em Dia, Cadu Doné também acha que o atual Galo tem condições de apresentar um futebol melhor no Brasileirão. No entanto, fala em “reformulação tática” e lembra que o estilo de jogo de Cuca segue na cabeça dos alvinegros.

“Há um dilema tático no Atlético. O time não muda. As ligações diretas e os chutões, da época do Cuca, continuam. Os treinadores que o substituíram (Paulo Autuori e Levir Culpi) não conseguem impor algo diferente, muito por causa do meio-campo”, comenta.

Pensar em alternativas para os volantes Pierre e Leandro Donizete, ambos já com 32 anos, seria fundamental, segundo Cadu Doné. “O futebol mostra, há algum tempo, que volantes que apenas destroem estão em desuso. Deu certo com o Cuca porque a bola não parava no setor, ia direto ao ataque”, acredita.

“E o Levir Culpi não implanta nada. Está há alguns meses na equipe e ela não demonstra consistência”, acrescenta Cadu Doné.

Falta de motivação

A suposta falta de motivação também começa a chamar a atenção. A rescisão de Ronaldinho Gaúcho só confirmou o quanto o craque achava que sua missão tinha sido cumprida no clube. O sentimento parece ter contagiado outros companheiros. Para completar, a média de idade dos titulares começa a ficar alta: 29 anos.

Direção estrelada nega venda de Dedé

O Cruzeiro negou nessa terça-feira (29), por meio de nota oficial, que esteja negociando o zagueiro Dedé. O jogador vem sendo especulado como possível reforço da Juventus, da Itália.

Segundo o comunicado, o clube interessado em contar com o atleta, de 26 anos, terá que desembolsar 15 milhões de euros. No ano passado, a diretoria estrelada contratou Dedé junto ao Vasco por 5,5 milhões de euros, contando com a participação de três investidores. Na negociação, o Cruzeiro adquiriu 45% dos direitos econômicos do atleta.

Fome de títulos faz com que a Raposa siga em busca de troféus

Não faltam qualidades para o atual campeão Brasileiro na busca pelo tetra: melhor ataque, time com mais vitórias, líder isolado. Motivos mais do que suficientes para nove de cada dez especialistas apontarem o Cruzeiro como grande favorito à Série.

Afinal, o futebol praticado pelo esquadrão de Marcelo Oliveira está enchendo os olhos da China Azul. O sucesso estrelado se deve a uma política agressiva, adotada pela diretoria, iniciada no fim de 2012.

Dos 30 atletas que formam o elenco no período, o clube investiu para contratar 11. Outros dez chegaram sem custo, como o meia Júlio Baptista. Sete foram formados na base do clube.

“O Cruzeiro está com o time arrumadinho. Manteve a base, construiu um projeto de médio prazo. Isso faz a diferença. No Brasileirão, por exemplo, Corinthians, Fluminense e São Paulo, os perseguidores diretos, têm bons times, mas ainda estão se ajeitando durante a competição”, analisa Cadu Doné, colunista do Hoje em Dia.

“A equipe manteve a formação. Isso facilita a entrada de reforços pontuais. Quando tem entrosamento, qualidade, é possível colocar o Marquinhos entre os titulares e dizer: ‘sua função é essa, cair ali pelo lado esquerdo, como fazia o Dagoberto ou Willian’. O cara se encaixa. O Marcelo é bom taticamente, privilegia um time ofensivo. Os volantes sabem jogar. O time é intenso e veloz. Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e Willian atuam de forma vertical”, completa o analista.

Motivação

O comentarista da Rádio Globo Marcelo Bechler acredita que a “gana” de vencer do Cruzeiro é um dos fatores positivos nesta trajetória azul.

“O grupo não é formado por jogadores com grandes conquistas, caso de Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e até Fábio, que comemorou seu primeiro grande título no ano passado. A equipe tem fome de títulos. Sentiu o gosto de ganhar o Brasileirão de 2013 e quer sentir de novo. A motivação é grande. Além disso, gosta de fazer gols. Se faz um gol, quer fazer dois. Se marcou dois, quer fazer quatro”, opina.

Para Bechler, a força do elenco também faz a diferença. “O time tem bons reservas. Assim, os titulares sabem que se jogarem mal, estarão fora”, conclui.

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