Esperança de medalha na rio 2016, Alison, do vôlei de praia, não teme pressão

Felippe Drummond Neto - Hoje em Dia
Hoje em Dia - Belo Horizonte
08/11/2015 às 08:11.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:23
 (FIBV/Divulgação)

(FIBV/Divulgação)

Com 2,03m de altura e 110 quilos, não é exagero dizer que Alison Cerutti jogador de vôlei de praia é uma das maiores esperanças de medalha para o Brasil na Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016. Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, o vice-campeão olímpico em Londres-2012, quando jogava ao lado de Emanuel, conta como está se preparando para o maior desafio da carreira, ao lado de Bruno Schmidt. Eles sagraram-se campeões mundiais há dois meses e garantiram, antecipadamente, a vaga na Rio-2016.

Você acredita que o país vai alcançar a meta de terminar entre os dez primeiros colocados no quadro de medalhas?

Acredito que o Brasil vai alcançar essa meta. Comparado às outras Olimpíadas, o investimento foi bem feito. Estamos no caminho certo, mas ainda pode melhorar. Além disso, por competir em casa, acredito que a torcida brasileira fará a diferença para alcançarmos esse objetivo. Temos atletas com potencial de conquistar medalha em quase todas as modalidades e qualquer torneio realizado no Brasil faz diferença, ainda mais uma Olimpíada.

Como você encara a pressão para ser medalhista olímpico?

Enfrento pressão no meu dia a dia. Encaro isso da melhor maneira possível. Sempre que entro em uma competição tenho a pressão de representar bem meu país, minha equipe. Mas Olimpíada é diferente, já participei de uma e sei que é o momento marcante na carreira de um atleta. Acho que as quatro duplas brasileiras vão representar muito bem o país. Tenho certeza de que todos vão se preparar da melhor maneira, vão dar o seu melhor dentro de quadra, mas afirmar que vamos ganhar é muito forte. Todos vão com intuito de conquistar o ouro, ou uma medalha, só que essa pressão pelo resultado é algo pessoal para cada atleta. Nosso time está preparado para isso, pois estamos vivendo isso há dois anos.

Em Londres, você bateu na trave do ouro olímpico. Qual é a expectativa para o Rio?

Não considero que bati na trave, apenas não conquistei o ouro olímpico. Foi uma conquista inédita que eu vou levar para o resto da vida. Sou um medalhista olímpico, ao lado do Emanuel, em um momento único, que eu não trocaria por nada, além de ter sido um aprendizado. Tentei de tudo que era possível, estava bem preparado e fizemos uma Olimpíada maravilhosa, e uma grande final. Agora, olhando para 2016, com a nossa grande vivência, vamos fazer o máximo que estiver ao nosso alcance para conquistar o ouro olímpico.

Jogar em casa, com a torcida a favor, é mais fácil ou a pressão é maior?

Jogar em casa é sempre muito bom. Claro que existe uma pressão a mais, mas estamos prontos para isso. Sabemos da nossa responsabilidade e o que precisamos fazer para atingir nosso objetivo, que é ganhar essa medalha de ouro. Queremos fazer o nosso melhor, e, com isso, a expectativa é a melhor possível. A torcida vai ser nosso terceiro jogador, ela vai nos ajudar e vai incomodar os adversário, por isso temos que usar isso como uma arma em nosso benefício.

Você já programou seu ano olímpico?

Ainda não programamos nosso ano, porque ainda não há o calendário oficial de competições, apenas o pré-calendário que acabou de sair. Posso adiantar que vamos continuar disputando o Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia normalmente, mas com o objetivo de ir preparando fisicamente e mentalmente para chegar no auge em agosto de 2016. Provavelmente vamos abdicar de algumas etapas do Circuito Mundial para não nos desgastar. Outra vantagem é que já estamos classificados ao contrário da maioria das duplas, o que nos dá uma tranquilidade para montar a melhor estratégia possível.

Porque você decidiu trocar de dupla?

Na verdade, eu não troquei de parceiro. A troca aconteceu porque eu resolvi voltar a morar em Vitória (ES). Morei sete anos no Rio de Janeiro, ficando longe da minha família, amigos, foi uma experiência fantástica, mas escolhi voltar pra casa. Trouxe tudo que aprendi no Rio, em relação a centro de treinamento, profissionalismo. Só que eu precisava achar alguém que aceitasse morar aqui. Apresentei o projeto para o Bruno, que mora no Espírito Santo há 15 anos, e tem as mesmas ambições que eu, por isso resolvemos nos juntar. Por tudo isso, minha relação com o Emanuel continua a mesma. A gente é muito amigo, inclusive ele me deu muita força para esse meu retorno para o Espírito Santo.

Foi muito complicada a adaptação ao novo parceiro?

Sempre que há uma troca de duplas é preciso ter um pouco de paciência. São grandes as diferenças entre eles, mas os dois têm a mesma mentalidade. O Emanuel sempre acredita na equipe, o Bruno também. A principal diferença é que joguei quatro anos com o Emanuel e nosso entrosamento era muito bom. Só de olhar pra ele eu já sabia o que passava na cabeça dele. Com o Bruno, no início tivemos que enfrentar nossas diferenças. Ele tem um estilo de jogo diferente do meu, é um jogador mais calado, enquanto eu sempre fui mais agitado. Hoje as coisas mudaram, sou mais calado, concentrado, e o Bruno é um cara que analisa o jogo o tempo inteiro, e fica o tempo todo observando o que pode melhorar de um ponto para o outro.

Quais ajustes você teve que fazer para que a dupla desse resultado tão rapidamente?

Na verdade, os resultados não apareceram muito rápido. No ano passado, nós começamos oscilando muito no Circuito Mundial. Por ser uma dupla nova, tivemos que jogar torneios qualificatórios, antes de chegar nas grandes competições. Para piorar, no final da temporada precisei operar o joelho, e no início deste ano o apêndice, mas não desistimos de nada. Tivemos que nos dedicar e abdicar de muita coisa, colocando sempre a Olimpíada como o objetivo que queríamos, e este ano veio a recompensa, com os títulos do Super Praia, do Circuito Mundial, da Copa do Mundo, e a vaga na Olimpíada.

Quem serão seus os principais adversários na Olimpíada?

O vôlei de praia evoluiu em todos os países do mundo. Hoje não tem aquela história de que só Brasil e Estados Unidos têm condições de ganhar títulos. Tanto que os últimos campeões olímpicos foram os alemães. Hoje considero que há duplas na Holanda, Itália, Espanha, Estados Unidos, Letônia, Alemanha e do próprio Brasil, que são muito fortes. Na Olimpíada são as 24 melhores duplas do mundo, e todos que chegam lá têm condições de ganhar uma medalha. Por isso que temos que fazer nosso trabalho para chegar lá no auge, independente dos adversários.

No vôlei, a gente vê muitos jogadores migrando da quadra para a areia, mas é raro vermos o inverso. Por que acha que isso acontece? Você já tentou jogar quadra? Tem ou já teve esse interesse?

Comecei minha carreira no vôlei de quadra, onde joguei até 19 anos. Com 20, iniciei minha carreira na areia. Apesar de ter sido comum até os anos 90, atualmente é mais raro um jogador fazer essa transição. O esporte evoluiu e exige muito de seus jogadores, o nível aumentou. Tanto que a nova geração é formada na praia, sem nunca ter jogado na quadra. Apesar das semelhanças até no nome, é um esporte totalmente diferente. A bola e o terreno são diferentes, além do clima interferir no nosso esporte, e também não temos reservas.

Como você se previne das lesões?

Sofri algumas lesões na carreira, mas o que podemos fazer para a prevenção, além de uma boa preparação física, é a fisioterapia. Faço todos os dias pelo menos 1h30. Faço fortalecimento no ombro, no joelho. Tenho uma rotina diária em que faço academia de manhã, depois faço uma preparação física na areia, e no final do dia a fisioterapia preventiva.

Quem é seu grande ídolo no esporte? Por quê?

Meu maior ídolo é o Ayrton Senna. Lembro de acordar cedo para assistir às corridas junto com meu pai e escutar aquela música tocando quando ele vencia. Me arrepio até hoje só de falar. Também gosto muito do Michael Jordan, vejo muitos vídeos dele até hoje. Ultimamente, por conta da minha lesão, eu aprendi a respeitar ainda mais o Ronaldo Fenômeno. No meu esporte, meu grande ídolo é o Emanuel, por tudo que já falei sobre ele, e, na quadra, o Nalbert é meu ídolo, que acabou virando meu amigo também.

Além do vôlei, qual outro esporte que você gosta e acompanha?

Sou fominha por esportes, acompanho tudo. Mas se tiver que apontar um acho que o que mais gosto é o basquete. Sou amigo do Anderson Varejão, que joga no Cleveland Cavaliers, da NBA. Acompanho toda a temporada do basquete norte-americano, os brasileiros que jogam por la. No futebol sou flamenguista, quando era mais novo era viciado, comprava álbum de figurinhas.

Como você lida com o fato de ser considerado um dos galãs olímpicos?

Pra ser bem sincero, não me considero um. Não sou metrossexual, nem tomo certos cuidados com minha aparência. Deixo a barba grande, cabelo sem cortar muito tempo, nem fico me olhando no espelho. Fico grato por este elogio, mas tento fazer minha carreira apenas dentro de quadra, conquistando títulos e fazendo o meu melhor.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por