
“Na minha época, a gente tinha vergonha de perder”, diz, enquanto observa o movimento da água para conferir se fisgou mais algum peixe. Prestes a completar 62 anos, o ex-jogador Paulo Isidoro, jogador da histórica Seleção Brasileira de 1982, imortalizada pela qualidade técnica do grupo convocado pelo falecido Telê Santana, está cada vez mais descrente com o futebol praticado no país.
Depois de dois anos de glórias do futebol mineiro, ele acredita que os dois rivais não conseguirão repetir, em 2015, o sucesso de 2013 e 14. “O Atlético não tem a mínima chance de avançar na Libertadores e o Cruzeiro, muito pouca”, opina o meia, que jogou pelas duas equipes, mas que se notabilizou pelo Galo, no qual atuou a maior parte da carreira (1975 a 79 e 85 a 87), com 399 partidas e 98 gols. No alvinegro, foi campeão cinco vezes. Já na Raposa atuou em 1989 e 90.
O momento delicado pelo qual passa o futebol nacional tem uma explicações muito simples, segundo o ex-atleta. “Hoje, os dirigentes estão preocupados em formar jogadores fortes para serem vendidos à Europa e não se preocupam mais com a técnica. Estamos pobres de talentos.”
Como o futebol para Paulo Isidoro hoje é só lazer, ele pega outra isca, lança o anzol e relaxa. “Nem sei quando fui pela última vez ao estádio. Hoje gosto é disso aqui. Pescar, me divertir e bater papo com os amigos”, brinca. A paixão é tanta que ele acaba de transformar o sítio onde morava, no Bairro Nova Pampulha, no pesque e pague Dois Paulos. “Adoro receber os amigos aqui”, conta, enquanto mostra o terreno de cerca de 10 mil metros quadrados. O próximo passo é construir uma quadra oficial de futebol de sete.
Sítio por apartamento
Há quatro anos, o ex-jogador trocou o sítio por um apartamento no Bairro Ouro Preto, mas praticamente todos os dias está no pesque e pague que funciona de quinta a domingo.
No local, ele mantém também uma unidade da sua escolinha, que conta com cerca de 100 alunos. Quarenta são bolsas para crianças carentes.
“Eu vim do nada e sou um exemplo para eles. Tento passar um pouco do que aprendi e também incentivar os estudos. Se eu tivesse mais estudo poderia ter tido muito mais chance na vida”, alerta o ex-jogador.
Cartas e reconhecimento pela campanha da Seleção de 1982
No dia 4 de julho de 1982, o Brasil inteiro chorou. Na partida que ficou conhecida como “Desastre do Sarriá”, a Seleção Brasileira que encantou o Mundo acabou desclassificada pela Itália, com a derrota por 3 a 2, na segunda fase da Copa da Espanha.
Paulo Isidoro entrou no segundo tempo na vaga de Serginho Chulapa e viveu na pele aquela “tragédia”. Se o resultado sepultou o sonho de mais um título mundial, imortalizou aquela equipe.
“É impressionante. Até hoje eu recebo cartas de pessoas de todos os cantos do mundo falando sobre aquele time. Tenho até que pedir ajuda aos meus filhos para traduzir. São pessoas querendo fotos e autógrafos”, conta.
“Sempre alguém me para na rua e quer falar sobre a Seleção de 1982. Eu acho isso muito bom. Mostra que você não ficou esquecido”, comemora Isidoro. “Antes, o Brasil era copiado no futebol. Hoje, passou a copiar. Por isso não está dando certo”, avalia o ex-jogador.
Para não perder o contato com o mundo do futebol, além da escolinha, que tem unidade no Nova Pampulha e em Confins, Paulo Isidoro disputa jogos com a Seleção Brasileira de futebol master.