Elliot Paes é uma das armas para a sonhada revolução no futebol brasileiro. Preparador físico que trabalhou no Atlético em 1999 e com um longo contato com o futebol alemão na última década, ele atualmente coordena o mesmo setor das categorias de base da CBF.
No Schalke 04, Elliot trabalhou com três jogadores campeões mundiais em 2014 (Neuer, Höwedes e Özil, todos provenientes da base do clube). Hoje, faz parte da comissão liderada por Alexandre Gallo no desenvolvimento de novos talentos no Brasil.
“Trabalhei no Atlético e fui para a França trabalhar com o Caçapa e no Lyon. Até que o Lincoln pediu para eu ajudá-lo no Schalke 04. Peguei o começo de carreira de Neuer, Özil e Höwedes. Foi uma época de muitas transições, muitos jogadores surgiram naqueles anos. A Alemanha vinha de fracassos e, depois da Eurocopa de 2000, houve uma reviravolta”, diz.
Com novos métodos que impressionaram os alemães, Elliot foi efetivado e até fez serviços informais para o Borussia Dortmund e o Hannover 96. “O treinador da época (Mirko Slomka) gostou dos meus métodos, que tinham mais intensidade do que aqueles que estavam acostumados. Lá, eu consegui trocar experiências”, conta o preparador.
Disciplina
Para que os germânicos conseguissem formar uma equipe jovem e campeã, capaz de chegar em 2018 com fôlego na defesa do título, foi preciso organização e dinheiro. A Bundesliga é um reflexo disso e, há duas temporadas, a final da Uefa Champions League era 100% alemã (Bayern de Munique venceu o Dortmund). A Confederação local abriu os cofres e criou 23 centros de formação de jovens jogadores, sub-15, sub-17 e sub-21.
É uma ajuda bilateral, entre a seleção e os clubes, na qual há avaliação de desempenho dos jogadores de três em três meses. Para Elliot, que admite uma influência positiva do trabalho alemão em sua atuação na CBF, o que pautou o sucesso do projeto dos europeus foi a capacidade de cumprir o combinado e a paciência de esperar os resultados.
O preparador físico destaca que o futebol brasileiro já deu os primeiros passos em direção a uma reformulação no processo de lapidar jovens atletas. Problemas já foram apontados e quatro encontros entre a Confederação e clubes profissionais ocorreram desde setembro de 2012.
“Estamos trabalhando junto aos clubes. Há a dificuldade da Lei Pelé, que proíbe menores de 16 anos de assinar contrato profissional, então a seleção sub-15 fica prejudicada – algo que não existe na Alemanha, por exemplo. É preciso melhorar o calendário e promover competições de alto nível. Mas já fizemos quatro encontros, com a participação de 27 clubes, reunindo 56 profissionais de categorias de base”, explica.
Os três jogadores alemães treinados por Elliot foram campeões europeus sub-21 em 2009. Junto com o trio estavam Boateng, Hummels e Khedira (Schmelzer, lateral do Borussia, também fazia parte da equipe, como reserva). Um ano depois, Neuer, Khedira e o Özil apareceriam para o mundo na Copa da África do Sul.