Futebol brasileiro em crise a seis meses da Copa do Mundo

Felipe Torres - Hoje em Dia
Publicado em 12/12/2013 às 08:24.Atualizado em 20/11/2021 às 14:45.

Trinta de outubro de 2007. A Fifa anuncia oficialmente o Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014. Uma onda de otimismo toma conta dos torcedores. As expectativas recaíam nas melhorias de infraestrutura e na organização do futebol nacional. Mas, a exatos seis meses do pontapé inicial do torneio, a realidade é bem diferente.

O país do Mundial mais parece o país do “caos”. As obras em seis dos 12 estádios que receberão os jogos ainda não foram concluídas. Pior do que isso é o fato de o Itaquerão, que sediará o jogo de abertura, entre Brasil e Croácia, em 12 de junho de 2014, ter a construção afetada pela queda de um guindaste num dos setores. Palco da final, o Maracanã ficou ilhado na quarta-feira (10) com um alagamento que tomou o seu entorno.

Como se não bastasse esse cenário, a última edição do Campeonato Brasileiro, encerrada domingo, foi marcada pela violência dentro e fora dos estádios. As cenas das brigas protagonizadas pelas organizadas rodaram – e chocaram – o planeta.

Greve

O movimento do Bom Senso FC também entrou em ação, cobrando mudanças no calendário e na gestão dos times. Jogadores protestaram no início dos confrontos e ameaçaram realizar uma greve.

Tapetão

Além disso, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) pode mudar a classificação da Série A. A escalação do meia Héverton pela Portuguesa, que teria de cumprir suspensão contra o Grêmio na rodada decisiva, pode livrar o
Fluminense do rebaixamento. O Flamengo também corre risco de alguma punição.

O Vasco também pede os pontos do duelo frente ao Atlético-PR, pois o jogo ficou interrompido por mais de 71 minutos, devido à confusão na arquibancada da Arena Joinville. O tempo limite previsto pelo regulamento é de uma hora.

Alagamento no palco da decisão do Mundial

A Fifa não sabe quantas vezes precisou lidar com o tal “jeitinho brasileiro” durante os preparativos para a Copa. A saga da construção e reforma dos estádios comprova toda a desorganização das autoridades nacionais. A entidade queria ver todas as arenas prontas já em 2014, o que não acontecerá.

O palco de abertura, inclusive, não abriu as portas. O Itaquerão, em São Paulo, ainda convive com o trauma da queda de um guindaste sobre uma peça da cobertura, em 27 de novembro. Dois operários morreram.

O acidente colocou em xeque a utilização do estádio no duelo de estreia do Mundial. O Comitê Organizador Local (COL) bancou a viabilidade do Itaquerão, que só deve ser liberado na segunda quinzena de abril.

Vale lembrar que outras mortes haviam ocorrido em obras do Mané Garrincha, em Brasília, e na Arena Amazônica, Manaus.
Reformado, o “templo” da decisão, em 13 de julho, também enfrenta problemas. Quarta-feira (10), o entorno do Maracanã ficou alagado por causa das fortes chuvas no Rio. Ao contrário do que aconteceu na semana passada, quando as salas de entrevista coletiva, estacionamento VIP, banheiros e corredores internos inundaram, o interior do Maraca não foi afetado.

Até agora, somente a metade dos 12 estádios que receberão confrontos da Copa foi inaugurada: Mineirão (Belo Horizonte), Castelão (Fortaleza), Maracanã (Rio de Janeiro), Fonte Nova (Salvador), Arena Pernambuco (Recife) e Mané Garrincha (Brasília).

Para o temor da Fifa, o som das máquinas ainda ecoa forte na Arena Pantanal (Cuiabá), Arena Amazônia (Manaus), Itaquerão (São Paulo), Arena das Dunas (Natal), Beira-Rio (Porto Alegre) e Arena da Baixada (Curitiba).

"Virada de mesa" ameaça credibilidade da Série A

O regulamento não pode ser desprezado. Mas, se houver mudanças dos clubes rebaixados à Série B de 2014, a sensação será de “virada de mesa” no Campeonato Brasileiro. Ainda mais porque dois gigantes cariocas, Fluminense e Vasco, então “degolados”, podem ser beneficiados.

Portanto, estará nas mãos do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) a missão de resolver o imbróglio. O tribunal vai analisar a suposta escalação irregular do meia Héverton, da Portuguesa, diante do Grêmio, na última rodada. Isso tiraria quatro pontos dos paulistas.

A consequência imediata seria a queda da Lusa à Série B e a permanência do Flu na elite.

A denúncia contra a Portuguesa foi formalizada ontem. Punido com dois jogos de suspensão, Héverton cumpriu diante da Ponte Preta, mas entrou em campo, aos 32 minutos do segundo tempo, no empate (0 a 0) com os gremistas, no Canindé.

O caso se enquadra no artigo 214 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) – “incluir na equipe, ou fazer constar na súmula ou documento equivalente, atleta em situação irregular para participar da partida” –, que prevê a perda do número máximo de pontos de uma partida (três), além daqueles conquistados no jogo.

O Flamengo também corre risco de punição, pois teria escalado de forma irregular o lateral André Santos contra o Cruzeiro. Sendo assim, o rubro-negro também poderia disputar a Série B, se o Vasco conseguir os pontos da partida com o Atlético-PR.

Devido a uma briga entre as torcidas, a partida ficou interrompida durante 73 minutos, em Joinville. O artigo 19 do regulamento geral de competições prevê que o jogo só pode ficar parado por 60 minutos. Os vascaínos se apegam a isso para tentar a anulação do jogo e a conquista dos três pontos, o que evitaria o rebaixamento.

Violência das torcidas organizadas "invade" os estádios do país

As cenas que rodaram o mundo na rodada de despedida do Campeonato Brasileiro, domingo passado, não foram as do choro de Fluminense e Vasco, rebaixados à Série B, ou as da sensação de dever cumprido do campeão Cruzeiro. O futebol perdeu espaço para a violência.

A imagem de um vascaíno, com uma barra de ferro em mãos, agredindo um torcedor do Atlético-PR, desacordado, estampou as capas dos principais jornais e sites do planeta. As organizadas do cruzmaltino e do Furacão fizeram da Arena Joinville, em Santa Catarina, uma praça de guerra. O estádio não tinha policiamento na arquibancada.

A briga apenas fechou um Brasileiro marcado pela violência. Foram registrados 11 casos graves por todos os cantos, alguns em arenas da Copa, como a pancadaria entre corintianos e vascaínos no Mané Garrincha.

Nome manchado

Se, em campo, os cruzeirenses deram show e levaram o Brasileirão, nas cadeiras, duas organizadas mancharam o nome do clube. Máfia Azul e Pavilhão Independente protagonizaram várias batalhas no ano.

No clássico contra o Atlético, em 13 de outubro, dividindo o mesmo espaço, se enfrentaram. A festa do tricampeonato brasileiro também teve de ser cancelada, após uma briga generalizada entre as duas torcidas, no entorno Mineirão, na noite de 1º de dezembro.

O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) garante que vai aplicar punições rigorosas para tentar coibir os episódios de violência. Atitudes na esfera cível também foram exigidas, assim como o cumprimento do Estatuto do Torcedor.

Jogadores cobram bom senso

Jogadores sentados e de braços cruzados. Bate bola despretensioso no começo das partidas. O Bom Senso FC entrou em cena no Campeonato Brasileiro deste ano. Jogadores dos principais clubes do país encabeçaram um movimento para discutir mudanças no calendário do futebol brasileiro e na gestão dos times.

A organização ganhou força e apoio dos torcedores. Até uma possível greve no ano que vem ainda está nos planos.
Após discussões com a CBF, o Bom Senso já conseguiu algumas conquistas concretas. Com a Copa do Mundo no país, pouco vai se alterar em 2014. Porém, em 2015, a entidade prometeu contornar a situação.

Assim, haverá um limite de datas para os campeonatos estaduais, que começarão apenas em fevereiro. Os atletas ganharão 30 dias de férias, acrescidos de 30 dias de pré-temporada.

A CBF também garantiu que nenhum clube disputará mais de sete duelos a cada mês, exceto aqueles envolvidos nas semifinais e na decisão da Copa do Brasil e que disputem o Campeonato Brasileiro.
 

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