Uma foto antiga que circula na internet há tempos chama a atenção pela reunião de dois elementos que parecem tão distantes. Afinal, por qual razão um dos maiores jogadores europeus da história guardaria uma flâmula do Atlético pendurada no quarto?

Há exatos 40 anos, o Atlético viajava pra a França e completava um segundo duelo com um jovem meia-atacante Michel Platini. O craque receberia a flâmula do Atlético oriunda de um desses encontros  e a penduraria na parede do quarto junto a outras lembraças da carreira como jogador. 

Essa imagem causou curiosidade na torcida do Galo por volta de 2013, quando se espalhou, e foi tirada pelo fotógrafo André Perlstein para a revista francesa Le Point, na casa de Platini, em 1977, após Platini enfrentar o Atlético pela Seleção Francesa e pelo time no qual foi revelado - Nancy, num curto espaço de tempo daquele ano. 

Estrela já na época dos dois amistosos contra o Galo, mesmo aos 22 anos, Platini se tornaria lenda no Velho Continente com a camisa da Juventus, sendo tricampeão seguido do prêmio Ballon d'Or (feito único no modelo antigo do troféu) e o maior camisa 10 da França até o surgimento de Zinedine Zidane.

GALO X PLATINI NO MINEIRÃO

Quando formava uma equipe histórica que seria vice-campeã brasileira invicta, recheada de jogadores da base como Reinaldo, Heleno, Ângelo, Marcelo Oliveira, Paulo Isidoro, Cerezo, o Galo fez um amistoso internacional com a Seleção Francesa em 3 de julho de 1977 no Mineirão. 

Venceu por 3 a 1 e virou notícia nacional. Afinal, dias antes, a Seleção Brasileira não tinha conseguido vencer os Bleus (2x2) no Maracanã. Na vitória alvinegra, Platini esteve presente no Gigante da Pampulha, mas como suplente da equipe tricolor, entrando no segundo tempo. 

Mesmo fazendo valer a alcunha de "Galo vingador" para a Seleção Brasileira, o Atlético pegou uma França em clima de turismo no Brasil, segundo relato do Jornal do Brasil. A Folha de São Paulo, entretanto, ressaltou que os franceses saíram de campo "destacando o futebol veloz e objetivo" de Reinaldo e cia.

Já a Revista Placar daquela semana também reservou bom espaço para tratar do evento e fez um texto observando a abordagem de jornalistas franceses na vitória atleticana: "um time mais rápido e entrosado do que a Seleção Brasileira".

O eterno camisa 9 do Atlético, que na partida usava o número 10 às costas, foi o responsável pro "acabar com o jogo". Primeiro, fez o primeiro gol de cabeça. Depois a França empatou com o capitão Trésor. Rei, então, fez jogada individual com direito a chapéu no marcador para servir Marcinho. No terceiro, novamente Reinaldo lançou Marcinho, que desta vez serviu Alfredo para os números finais do confronto. (Veja o jogo na íntegra abaixo, com o gol de Reinaldo aos 55:36).

22.564 torcedores alvinegros testemunharam este duelo internacional do Atlético no Mineirão. O Galo não obteve muito lucro, segundo a reportagem do Jornal do Brasil, que ainda noticiou a braveza da diretoria alvinegra ao saber que não receberia qualquer valor por ter o amistoso sido transmitido à TV francesa.

EM PARIS E A FLÂMULA

O interessante da história é que pouco mais de dois meses depois deste duelo em terras brasileiras, Atlético e Platini iriam se encontrar novamente, agora como o camisa 10 sendo o anfitrião. O craque, anos antes de se tornar um ícone na Juventus, era a grande sensação do Nancy, clube que o revelou em 1972; e também da Seleção Francesa que iria disputar a Copa do Mundo de 1978 na Argentina. 

E foi defendendo o primeiro clube profissional da carreira que Platini reencontrou o Atlético, num 6 de setembro de 1977, em Paris, no Estádio Parc des Princes. E o francês justificou o cartaz, anotando de falta o primeiro gol da partida. Posteriormente, Paulo Isidoro daria a igualdade em 1 a 1 ao jogo. 

Pelo fato do ex-jogador ter entrado no segundo tempo do jogo no Mineirão, é mais plausível creditar este amistoso entre Atlético e Nancy como o responsável por levar a flâmula do Galo ao quarto de Michel Platini. 

O jogo entre Atlético e Nancy fez parte de uma excursão do Galo à Europa, onde enfrentou o Torpedo Moscou-RUS (4x2) e o Sporting Club de Portugal (1x0), em amistosos válidos pelo Torneio de Vigo, no qual o alvinegro venceu. Houve ainda uma derrota para o Porto, em Portugal (0x1), antes do duelo com o Nancy, que seria campeão da Copa do França em 1978 com Platini de maestro.

Logo o futuro presidente da UEFA alçaria voos maiores, indo para o Saint-Étienne, vencendo o Campeonato Francês de 1980-1981 e acertando com a Juventus na temporada seguinte.

No time de Turim, venceria a Uefa Champions League 1984-1985, além do Mundial de Clubes de 1985 contra o Argentinos Juniors. Vestindo "bianconero", Platini seria eleito melhor jogador da Europa em 1983, 1984 e 1985, quando a premiação elegia apenas atletas europeus. 

O Atlético causaria ótima impressão em solo francês, inclusive os jornais da época acreditavam que Paulo Isidoro poderia ser sondado pelas equipes de lá pelo gol no empate em 1 a 1. Fato, porém, é que o Galo voltaria a fazer amistosos internacionais na França. 

O mais emblemático de 1982,  vitória por 3 a 0 contra o PSG no Torneio de Paris - por causa deste jogo, Reinaldo recebeu proposta milionária (R$ 1 milhão de dólares à época) para atuar no Saint-Germain, mas o Galo recusou.