As contas das próximas Olimpíadas de Londres estão abertas, apesar das garantias do governo de proibir qualquer derrapagem nestes tempos de rigor, enquanto ninguém espera que o evento faça mágica em uma economia a meio mastro.
Desde 2007, o orçamento dos Jogos Olímpicos não sofreu oficialmente nenhuma variação: eles vão custar 9,3 bilhões de libras (11,5 bilhões de euros) para os contribuintes, um número já quadruplicado em relação ao anunciado em 2005 no relatório vencedor da candidatura britânica. No último balanço, ainda restavam cerca de 500 milhões de libras que não foram gastos e que podem ser utilizados para contingências, indicou o governo recentemente.
Contudo, uma comissão parlamentar avaliou o projeto de lei pública em 11 bilhões de libras, despertando a irritação do secretário de Estado de Esporte, Hugh Robertson, que julgou serem "cálculos tendenciosos". Quem diz a verdade? O tablóide Daily Mail, como muitas vezes, preparou seus leitores para o pior: "Até 24 bilhões"... Mas levou em conta em seu cálculo os 6,5 bilhões de libras injetados nos transportes londrinos para tentar colocá-los à altura do evento.
O mistério deve continuar: "Os custos são obscuros e continuarão sendo", disse à AFP Julian Cheyne, membro do Games Monitor, uma associação de "vigilância cidadã" dos Jogos Olímpicos, que tende para uma estimativa mais alta. Segundo ele, o governo vai continuar até o fim, por razões políticas óbvias, mantendo o orçamento anunciado.
Meio Pequim
Mesmo em um caso extremo, estas Olimpíadas custarão quase duas vezes menos do que o evento de Pequim, em 2008. O governo também tem tido o cuidado de diferenciar estes Jogos dos faraônicos, prometendo "Jogos modestos" e enfatizando seu desejo de reciclar as infraestruturas construídas para a ocasião, que devem permitir a revitalização de uma área desfavorecida do noroeste de Londres. Mas está fora de questão apresentar mais uma vez ao mundo os "jogos da austeridade" de 1948, os primeiros do período pós-guerra, quando algumas equipes trouxeram sua própria comida, para evitar problemas de abastecimento.
Assim, o primeiro-ministro britânico David Cameron decidiu dobrar o orçamento da cerimônia de abertura, que acontecerá no dia 27 de julho e que será vista por bilhões de telespectadores. As despesas com segurança foram seriamente revistas para baixo desde 2007. Mesmo assim, parte dela será de responsabilidade do comitê de organização, o Locog.
Com um orçamento autônomo, os Jogos Olímpicos arrecadaram 2,1 bilhões de libras de fundos privados, incluindo os fundos derivados da venda de ingressos e da participação de patrocinadores, como British Airways e BP, que pagaram um alto preço para se associarem ao maior evento esportivo do planeta. Ainda assim, o governo prefere se manter cauteloso quanto aos efeitos em longo prazo desses jogos, principalmente em termos de imagem, enquanto até mesmo os visitantes podem não ser tão numerosos como muitos esperavam, se for considerado o nível decepcionante de reservas nos hotéis.
Já entre os especialistas, o ceticismo continua a ser a palavra de ordem: "Duvidamos que o slogan 'mais rápido, mais alto, mais forte' possa ser aplicado ao impacto econômico dos Jogos", concluiu um estudo recente da Capital Ecomomics, que contabilizou a contribuição dos Jogos em apenas 0,1% do Produto Interno Bruto em 2012.
"O efeito será mínimo", confirmou o Saxo Bank, observando que a maioria do orçamento de investimento já foi gasto, sem que isso tenha impedido o país de cair em recessão.