Minas Gerais se destaca na revelação de talentos no tênis

Felippe Drummond Neto - Do Hoje em Dia
26/11/2012 às 07:15.
Atualizado em 21/11/2021 às 18:36

(Lucas Prates/Hoje em Dia)

Aos 12 anos, a tenista mineira Mariane Lima acaba de alcançar o vice-campeonato da Copa Gustavo Kuerten, um dos principais torneios do tênis infanto-juvenil nacional. Com a carreira iniciada em 2010, a atleta do PIC é uma das apostas do Brasil, que tenta voltar a ter grandes atletas no circuito mundial.

Desde o primeiro título de Gustavo Kuerten, o Guga, em Roland Garros, já se passaram 15 anos. E, até hoje, o tênis nacional vive das glórias do único brasileiro que liderou o ranking da Associação de Tenistas Profissionais (ATP). O país não criou uma escola de tênis e se mantém às sombras do sistema argentino, que, ano após ano, revela bons jogadores para o planeta.

Os problemas vão desde a falta de apoio familiar até a escolha entre o estudo e o esporte. A solução para que, no futuro, o Brasil possa ter tenistas bem ranqueados, tanto entre os homens quanto entre as mulheres, tem se mostrado muito simples: as “peneiradas”, como no futebol. Com Mariane, por exemplo, foi assim.

Aliado a outros profissionais esportivos, o supervisor técnico de tênis do PIC, Hugo Daibert, criou um programa de detecção de talentos. Nele, as mais de 6 mil crianças inscritas passaram por testes cognitivos e de biotipo, sem o contato com a raquete e a bolinha.

Da triagem, foram selecionadas 50, que deram início aos treinamentos. “A ideia foi dar oportunidade para crianças carentes, apostando que elas enxergariam, no tênis, uma chance de vencer na vida”, disse Hugo.

E Mariane é uma prova de que o programa funciona. A menina que, até abril de 2010, nunca havia segurado uma raquete, conseguiu um importante resultado em tão pouco tempo. “Fiz os testes por diversão, mas acabei passando e me apaixonei pelo esporte. No começo, tive muita dificuldade para aprender a sacar e também o jeito de segurar a raquete”, lembra.

A jovem sabe exatamente o que teve que suar. “Acho que é uma mistura de dom e trabalho. A gente treina muito todos os dias. Espero que continue evoluindo para, no futuro, conseguir me profissionalizar”, comenta a tenista, fã da russa Maria Sharapova, de Guga e do sérvio Novak Djokovic.

LONGO CAMINHO

Daibert ressalta que esse é apenas o começo de um longo caminho a ser trilhado. “Para se formar atleta de alto nível, é preciso ter 10 mil horas de prática e, se não fosse esse programa que capta jogadores ainda jovens, eles nunca teriam tempo para trabalhar tudo que é preciso. Daqui quatro anos, o Brasil será sede da Olimpíada, mas o correto é pensar no pós-2016”, garante o treinador.

Ele acredita que um dos principais problemas na formação de tenistas começa em casa. “Normalmente, os atletas são de família com condição financeira boa. Quando chegam aos 16 anos, os pais não os incentivam a partir para o alto rendimento. Eles preferem que o filho entre na faculdade ou vá morar fora do país. Isso desperdiça talentosos tenistas”, lamenta.

Colocar o esporte em primeiro lugar

Os adolescentes João Pedro Garreto e Francisco Costa Neto, ambos de 14 anos, são hoje os dois tenistas com maior destaque no time Cultura Inglesa/Minas. Respectivamente primeiro e segundo colocados do ranking mineiro e sexto e 17º do Brasil, os dois são as principais apostas do técnico Henrique Quintino. “O Garreto e o Chico estão dispostos a colocar o esporte em primeiro lugar. Trocar de escola para uma com carga horária um pouco menor para que a gente possa trabalhar mais tempo na quadra”, afirma.

Tradicional celeiro da modalidade no Brasil, o Minas Tênis Clube também sofre com as dificuldades para seguir formando jogadores. Mas a instituição, que revelou recentemente os tenistas Marcelo Melo, Bruno Soares e André Sá, luta para superar as adversidades e seguir lançando atletas no cenário nacional.

Não é fácil. Os jogadores precisam treinar duro de 25 a 30 semanas no ano. “Para isso acontecer, a escola não pode interferir”, comenta Quintino, que espera colocar Garreto e Costa para competir fora do país na próxima temporada.

Ele reforça que não é contra o estudo. Pelo contrário: destaca a necessidade de o tenista ficar na sala de aula, mas não com uma carga horária tão alta. “Muitas escolas adotam o sexto horário, mas não justificam o motivo. Isso atrapalha os atletas nas competições e nos treinamentos”, lamenta o treinador.

Mesmo assim, os jogadores sabem que é preciso abrir mão de algumas coisas para ir atrás do sonho de se tornar um jogador profissional. “Desenvolvemos um projeto com o Minas para trabalhar cada vez mais com apenas um objetivo em mente: melhorar a cada dia e jogar os campeonatos mais difíceis”, explica Garreto. “Sonho em me tornar profissional e faço tudo para transformar isso em realidade. Tenho que melhorar muito ainda, mas estou no caminho certo”, completa Costa.

Dois anos mais velho que seus companheiros, João Sérgio Cavallieri quer alçar voos mais altos. Em 2016, ele terá 20 anos e trabalha “de sol a sol” para melhorar seu tênis e, quem sabe, alcançar um ranking que o classifique para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. “Tenho esse sonho de disputar uma Olimpíada. Eu sei que é difícil, porém possível. E não tem nada que me motiva mais que isso. Imagina eu escutando o hino nacional e competindo por meu país”, destaca o jogador.

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