Morte de Serginho, há 10 anos, motivou novas regras nos estádios

Gláucio Castro - Hoje em Dia
27/10/2014 às 08:04.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:47
 (André Brant)

(André Brant)

O relógio marcava exatamente 21h49 naquela quarta-feira, 27 de outubro de 2004. Lá se vão exatos dez anos. Mas a triste cena do zagueiro Serginho, do São Caetano, caído no gramado recebendo massagem cardíaca e respiração boca-a-boca ainda está bem viva na memória dos amantes do futebol.

Desde o enterro, dois dias depois, em Coronel Fabriciano, no Leste de Minas Gerais, o futebol profissional teve ganhos significativos quando o assunto é a garantia da vida dentro dos estádios.

O Estatuto do Torcedor tornou obrigatória a existência de ao menos uma ambulância, um médico e um desfibrilador para cada grupo de 10 mil pessoas durante uma partida. Sem esses requisitos, o árbitro tem o poder de não autorizar o início do jogo.

Em Belo Horizonte, América, Atlético e Cruzeiro contam com desfibriladores em seus centros de treinamento e até com unidades móveis, levada nas viagens.

“Nós evoluímos muito. Infelizmente, foi a partir de uma tragédia como essa. Este fato lamentável representou um marco na segurança dos atletas, porque ajudou a Fifa, as federações e os envolvidos em medicina esportiva a evoluir”, avalia o cardiologista Marconi Gomes, presidente da Sociedade Mineira de Medicina do Exercício do Esporte.

Apesar da evolução, o especialista avisa que é preciso ainda mais. “Não podemos parar. Tivemos ganhos inquestionáveis, com lições dolorosas. Estamos bem melhor atualmente, mas temos que investir sempre no treinamento dos médicos. Cada segundo na hora de um atendimento desse pode significar a vida do paciente”, acrescenta o médico.

A Federação Mineira de Futebol garante que até os jogos das categorias de base já são realizados com a exigência dos desfibriladores no estado.

Entretanto, como o aparelho custa de R$ 5 mil a R$ 7 mil, os atletas do futebol amador ainda não contam com a mesma garantia, e a maior parte dos jogos acontece sem esses equipamentos.

Triste realidade

A morte de Serginho, aos 30 anos, não foi a única a chocar o mundo do futebol. Menos de um ano antes, o público já havia acompanhado ao vivo o drama do camaronês Marc-Vivien Foe. Em 26 de junho de 2003, pela seminal da Copa das Confederações, na França, o meia sofreu um ataque fulminante dentro de campo. O jogador de 26 anos caiu no gramado aos 26 minutos da etapa final, quando seu time vencia por 1 a 0.

Enquanto o jogo seguia, os médicos tentavam reanimá-lo sem sucesso. Seus companheiros, que só ficaram sabendo da morte ao fim do duelo, ameaçaram não entrar em campo na final, mas acabaram desistindo da ideia e foram derrotados por 1 a 0 para os donos da casa na decisão.

Segundo um estudo realizado pela Fifa em 2012, em cinco anos, foram 84 mortes. Em apenas 20% destes casos havia desfibriladores no estádio.

‘Todo mundo ficou muito assustado’

Atual preparador físico do Atlético, Carlinhos Neves acompanhou de perto o drama do zagueiro Serginho. Naquela noite de 27 de outubro de 2004, ele, então funcionário do São Paulo, estava no gramado do Morumbi quando tudo aconteceu. “Me lembro que todo mundo ficou muito assustado. Eu passei em frente ao hospital depois do jogo e fiquei pensando em tudo que tinha acontecido. Uma tragédia. Depois, teve o complemento da partida e tivemos que preparar os jogadores para atuarem sob muita emoção”, relembra. No complemento do jogo, disputado uma semana depois, o São Paulo venceu por 4 a 2. O lateral-direito do Cruzeiro, Ceará, e o atacante Euller, hoje aposentado, são outros nomes bem conhecidos do público mineiro que estavam em campo na fatídica partida de dez anos atrás.

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