“Eu, de certa forma, sou imortal”. Johan Cruyff, gênio do futebol, morreu nesta quinta-feira (24) aos 68 anos, vítima de câncer de pulmão. A frase, entretanto, segue viva e fortalecida. Nesta sexta (25), mais do que nunca, na garganta do torcedor do Atlético, que comemora os 108 anos de fundação do clube alvinegro.

O holandês e o time mineiro se cruzaram uma vez, em 1985. Cruyff, que vivia problemas financeiros, foi convidado para assumir o posto de diretor-técnico do Ajax um anos depois de se aposentar e, logo de cara, em agosto daquele ano, disputou o Torneio de Amsterdã.

Chegou à final contra o Galo, que era o atual campeão da competição amistosa. No Estádio Olímpico de Amsterdã, Van Basten, Rijkaard e Koeman superaram Nelinho, Luisinho e Reinaldo por 4 a 1 (veja a ficha técnica e os gols abaixo). Era a vingança dos holandeses, que haviam perdido o mesmo torneio em 1984 para os mineiros, nos pênaltis, após 2 a 2 no tempo normal.

Essa história tem um espaço privilegiado na casa de Vicente Lage. O “109”, como era conhecido, comandava o Atlético na época e duelou com o eterno camisa 14 à beira do campo. Na imagem emoldurada no apartamento do ex-treinador, ele aparece ao lado do então capitão alvinegro, o zagueiro uruguaio Olivera, além de Frank Rijkaard e da lenda do futebol holandês.

“Me lembro muito bem desse encontro. Fiquei conversando com Cruyff sobre aquele time da Holanda da Copa de 1974. Ele era o craque principal do ‘Carrossel Holandês’. Contei a ele sobre a minha conquista da Série B com o Uberlândia, um ano antes. Foi com pesar que fiquei sabendo da morte dele. Era uma das grandes figuras do futebol mundial. Tive a honra de conhecê-lo e, naquela oportunidade, me tornar amigo dele”, conta Lage.

O início, o fim e o meio

Johan Cruyff e Atlético despontaram para o cenário mundial no mesmo ano, em 1971, quando o atacante holandês venceu a primeira Liga dos Campeões da Uefa, pelo Ajax. O Galo, por sua vez, comemorava a conquista do primeiro Campeonato Brasileiro.

O ícone maior do “Futebol Total” e o time mineiro até poderiam ter se encontrado quando Cruyff ainda calçava chuteiras. Em agosto de 1984, o Galo enfrentou o Feyenoord, pelo mesmo Torneio de Amsterdã, nas semifinais.

Três meses antes, o craque havia se despedido dos gramados com o título da Eredivisie (Campeonato Holandês), vestindo a camisa 10 dos grandes rivais do Ajax.

A ida para o time de Roterdã teve caráter de vingança. A última passagem do craque pelo clube do coração havia terminado em briga. Cruyff  fora decretado como um jogador velho, que não merecia a renovação de contrato.

Tratou de ir para o lado "inimigo" e, já aos 37 anos, ergueu a maior taça do futebol local, findando um jejum de dez anos do Feyenoord, onde teve como pupilo outro renomado jogador holandês: Ruud Gullit.

Um ano depois, no duelo de 1985, o clima no Galo é que era de despedida. No confronto que colocou Vicente Lage diante do gênio da Laranja Mecânica, Reinaldo dizia adeus ao Atlético, enquanto Cruyff dava os primeiros passos na nova função, que conduziria com a conhecida maestria.

Naquela goleada por 4 a 1, Everton marcou o gol de honra brasileiro, e as estrelas Frank Rijakaard, Ronald Koeman e Marco Van Basten balançaram as redes do goleiro reserva Pereira.

O lateral-direito Nelinho enfrentou o Ajax, pelo Atlético, nos dois confrontos. O brasileiro na lateral do gramado, e o gênio do futebol, fumando à vontade, à margem do campo. Para a revista “Placar” de setembro de 1985, o ex-atleticano assim analisou o embate:

“Cruyff fez o Ajax mudar da água para o vinho”. Na verdade, Nelinho, ele fez isso com o futebol em si.

*Colaboraram Alexandre Simões, Lucas Prates e Cristiano Martins

Ficha técnica
Ajax 4x1 Atlético
Ajax: Menzo; Rijnink, Koeman, Silooy e Boeve; van't Schip, Rijkaard, Mühren; Vanenburg, van Basten e Wit. Técnico: Johan Cruyff
Atlético: Pereira, Nelinho, Oliveira, Luisinho e João Luis; Elzo, Paulo Isidoro e Everton; Sérgio Araújo, Reinaldo e Edvaldo. Técnico: Vicente Lage
Data: 11/08/1985
Local: Estádio Olímpico de Amsterdã
Competição: Torneio Amistoso de Amsterdã
Gols: Rijkaard, aos 7, e Everton, aos 28 minutos do primeiro tempo; Koeman, aos 14, Van’t Schip, aos 29, e Van Basten, aos 32 minutos do segundo tempo
Árbitro: Robert Wurtz (FRA)
Público: 35 mil pessoas

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