No Villa, Tchô e Cleber Monteiro têm "recomeço" no futebol brasileiro

Vinícius Las Casas - Hoje em Dia
15/03/2013 às 11:01.
Atualizado em 21/11/2021 às 01:55

(Andre Brant)

Início de treinamento no Villa Nova na manhã de quinta-feira (13). O técnico Alexandre Barroso faz uma preleção no centro do gramado, explicando a importância de jogar bem fora de casa. O próximo desafio do Leão será o Araxá no Fausto Alvim. O meia Tchô e o volante Cleber Monteiro estão lado a lado, atentos ao que está sendo falado.

Após a conversa inicial, o clima é de desconcentração por uns instantes. Piadas são contadas, brincadeiras são feitas. O grupo está preparado para iniciar os trabalhos. No aquecimento, batendo bola, Cleber e Tchô formam uma dupla. Um auxilia o outro a realizar as atividades solicitadas. E essa parceria não é apenas uma coincidência. Dentro do grupo, ambos são figuras de destaque, como pontua o técnico Alexandre Barroso.

"Eles têm uma boa formação em termos de categoria de base e com rodagem internacional. Tem inteligência tática acima da média, uma boa qualidade técnica. O grupo do Villa Nova é mais maduro, tem poucos jogadores inexperientes. Dentro desse perfil, Tchô e Cleber trazem uma postura de liderança tanto dentro quanto fora de campo", afirmou o comandante.

Durante o treinamento, em uma atividade tática, pôde se observar o quão ambos são fundamentais dentro do Villa Nova. Cada qual em um aspecto. Cléber Monteiro é o cão de guarda do Leão. Marca, orienta, inicia as jogadas e cobre algum buraco que possa aparecer na defesa. Do outro lado do campo, para mudar os números no marcador, aparece Tchô. Articulador das principais jogadas ofensivas, o meia sabe jogar com e sem a bola, atraindo a marcação e abrindo espaços para os companheiros quando muito marcado. A importância destes pilares da equipe do Villa Nova melhor explica Alexandre Barroso.

"O Cleber faz um papel fundamental no equilíbrio defensivo. Ele atua nas coberturas, faz o início das jogadas, as articulações. É um jogador que sabe fazer o balanço defensivo dos volantes, ele controla a subida dos laterais, faz a leitura da marcação e sobra dos zagueiros. O Tchô dá o ritmo e a cadência ao time. É um jogador que finaliza bem de fora da área, consegue colocar o atacante na cara do gol, faz as inversões, que é muito difícil nesse campo (Castor Cifuentes). Eles têm papeis muito importantes nestes aspectos, assim como outros jogadores".

Expectativas não cumpridas

Nas bases de Cruzeiro e Atlético, Cleber Monteiro e Tchô, respectivamente, se desenvolveram de forma consistente. Ambos chegaram ao profissional com boas referências, foram utilizados pelos treinadores, mas não viveram plenamente a expectativa que foi criada. Fazendo um exercício de relembrar o passado, ambos apontam a falta de oportunidade e as mudanças no comando técnico como fatores fundamentais para que não atingissem o que eles mesmos esperavam.

Monteiro relembra que foi mais aproveitado com Felipão, que, contudo, saiu no meio do trabalho para se juntar à Seleção Brasileira. Paulo César Carpegiani assumiu e, com uma nova filosofia de trabalho na Toca da Raposa, as chances para o volante diminuíram.

"Houve uma transição que foi de fato fundamental. Saiu o Luiz Felipe Scolari, que foi pra Seleção. com a chegada de outro treinador, cada um tem sua cabeça, tem suas opções, com isso, eu comecei a jogar menos. Aquele ano foi conturbado no segundo semestre. A equipe tinha grandes jogadores, o Edmundo, o Rincón, a expectativa era grande, mas a gente acabou brigando para não cair", disse o jogador.

"Então, com essas dificuldades que tivemos, a chegada de um novo treinador, que quis renovar o grupo, foi quando vi a possibilidade de sair e tive o convite pra ir para Portugal", completou.

Tchô viveu uma situação semelhante no Galo, anos mais tarde. Para o meia, que marcou três gols em cinco partidas com a Seleção Sub-20 na conquista do Campeonato Sul-Americano da categoria, faltou uma sequência maior de partidas e uma estabilidade emocional no Atlético, para que ele atingisse as expectativas que foram criadas.
"Não fiz o que eu queria fazer como profissional do Atlético, mas conquistei muita coisa. Não só como profissional, mas também na minha vida pessoal. Considero boa a minha passagem, mas, realmente, eu não fiz o que gostaria de fazer", disse Tcho, que prosseguiu:

"Não tive uma sequência de jogos. Eu entrava jogava, saía e nao tinha uma sequência. E pro atleta render o que ele sabe são no mínimo cinco jogos. Peguei o Atlético em uma época de muita cobrança de resultados. Mudava-se muito a comissão técnica e, não só eu, mas muitos atletas daquela época, não conseguiram render o que sabem por causa disso também", destacou.

O camisa 10 do Leão do Bonfim ainda lembrou a necessidade de uma transição calma entre a base e o profissional para conseguir um rendimento de qualidade do jogador. De acordo com ele, entrar em um time já entrosado é fundamental para o sucesso do atleta mais novo.

Vida em Portugal

Saudade de casa proporcionou retorno (Foto: Andre Brant/Hoje em Dia) 

Tchô e Cleber Monteiro foram na Europa buscar a evolução no futebol e também cultural e social. Em Portugal, com o ex-atleticano no Marítimo e o ex-cruzeirense no Nacional e Vitória de Guimarães, tiveram essas oportunidades. Monteiro ainda teve uma passagem pelo Cartagena, da Espanha.

 

Mas quando a saudade de casa bateu decidiram retornar ao Brasil. Tchô, no último ano, atuou no futebol paulista, pelo Guarantiguetá e Bragantino, mas vê em Nova Lima a oportunidade de recomeçar no futebol brasileiro.

"Fiquei três anos em Portugal e você acaba ficando um pouco 'sumido' no futebol brasileiro. Então é uma chance para voltar a aparecer e é o que venho fazendo", afirmou Tchô.

Cleber Monteiro analisa de forma semelhante. Aos 32 anos, considera que é uma ótima oportunidade de fazer o seu nome ser enxergado no mercado nacional.

"Eu tive uma carreira fora do país por nove anos. A saudade de casa fez com que eu retornasse para o Juventude no meio do ano passado. Rescindi o contrato ao final do ano e, a saudade de casa mais forte, fez com que eu aceitasse o convite do Villa, com o Barroso )Alexandre, técnico)", comentou o mineiro de Belo Horizonte, que prosseguiu.

A boa fase do Leão

No Campeonato Mineiro, apenas Cruzeiro e Villa Nova ainda não foram derrotados em cinco rodadas. A campanha do Leão do Bonfim, para muitos, é surpreendente, uma vez que o passado recente do clube de Nova Lima não foi dos mais animadores. Contudo, no momento, o clube ocupa a quarta colocação, com nove pontos, a mesma pontuação de Tombense e Atlético - este com um jogo a menos - e estão na frente do Alvirrubro.

"Para mim, não surpreende (o bom momento do Villa Nova). Estamos juntos desde o dia 1º de janeiro e, na pré-temporada, eu já observava que as opções foram acertadas. Ali, percebia-se que o time era de muita qualidade técnica e, com a experiência que temos no futebol, vi que dava pra brigar no topo da tabela. Hoje isso é uma realidade, estamos no G4, e vejo que temos possibilidades de alcançar a classificação para a Série D, nosso primeiro objetivo, e sonhar também em estar entre os quatro finalistas", analisou Cleber Monteiro.

Visão compartilhada pelo meia Tchô, que considerou que o Villa Nova já abriu alguns olhos no Campeonato Mineiro.

"Acho que a visão do pessoal já é outra em cima da gente. É o que sempre falo: o mais dificil não é chegar entre os quatro, mas, sim, permanecer. Estamos treinando forte para isso, conseguir permanecer entre os quatro", comentou o camisa 10.

Futuro promissor

Dedicação na marcação é percebida no Villa Nova (Foto: Andre Brant/Hoje em Dia)

Tchô, com 25 anos, exibe confiança, fator importante para qualquer profissional vencer na vida. O camisa 10 encara a oportunidade no Villa Nova como um divisor de águas. E sabe que muitas portas se abrem quando se realiza um bom trabalho.

"Espero muita coisa. O auge do jogador, muitos dizem, é com 28 anos. Estou com 25 (anos) e acredito que tem muita coisa pra acontecer. Acredito que vamos fazer um bom campeonato, muitas portas vão se abrir e muita gente ainda vai ouvir falar do meu nome", afirmou o atleta.

Com a experiência de quem viu Tchô se formar na base atleticana e hoje o comanda no Villa Nova, o treinador Alexandre Barroso aponta que o atleta chegou ao profissional sem ter desenvolvido alguns aspectos do esporte bretão, sobretudo na questão defensiva. Mas observa que hoje ele já apresenta uma evolução muito grande nestes fundamentos.

"O caso do Tchô é o seguinte: ele sempre foi muito técnico desde a categoria de base. Nunca houve uma cobrança ao Tchô pra que se inserisse rapidamente como se joga hoje o futebol. A habilidade, qualidade técnica e tática ele nunca perdeu, até aprimorou. Agora, no Villa, um clube de condições mais modestas, com estilo de jogo que a questão defensiva é importante, o que se vê no Tchô é uma evolução da parte fisica e maior compromisso tático com as ações defensivas. Acho que isso vai ajudar bastante para que ele recupere o espaço que tem no futebol".

Se Tchô tiver um desempenho no restante da sua carreira semelhante ao que teve nas cobranças de falta ao final do treinamento, pode ficar esperançoso. Afinal, o meia balançou as redes várias vezes e, quando isso não aconteceu, os goleiros e as traves sofreram com a qualidade do meia nas bolas paradas. 

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