(Lucas Prates)
A torcida, de um lado da rua Guajajaras. Os conselheiros, na calçada oposta, em fila e até com algumas aglomerações, apesar do uso de máscaras. No meio, policiais militares, no chão e montados em cavalos e grades. Esta é a cena do início do processo eleitoral do Cruzeiro nesta quinta-feira (21). Entre 9 e 16h, cerca de 400 conselheiros escolhem os novos presidentes do clube e do Conselho Deliberativo.
A cena é o retrato da política cruzeirense. O torcedor, movido pela paixão, abandona o isolamento social para tentar, em vão, pressionar quem na sua visão destruiu seu clube.
O conselheiro, e já está provado que dezenas deles se utilizaram do Cruzeiro, com salários milionários e comissões suspeitas, é mais uma vez soberano para escolher o representante de uma nação de milhões de torcedores. E mesmo depois de tantas denúncias relativas ao clube, vários deles foram à histórica sede do Barro Preto nesta quinta-feira mais uma vez movidos pelo interesse pessoal.
Apesar da divisão por ordem alfabética, para que os conselheiros fossem votar em horários distintos, isso não foi respeitado. E logo na primeira hora da votação, chegou ao clube Sérgio Nonato, o ex-diretor-geral de Wagner Pires de Sá, que tinha o salário superior a R$ 100 mil fora outras operações suspeitas que estão sendo investigadas.
O carro que o levou ao clube parou em frente a entrada da rua Guajajaras, ele saltou rápido e ganhou as dependências do clube. Sim, quem representava o cruzeirense numa chamada “bancada democrática” agora foge do torcedor.
E assim segue a eleição no Cruzeiro. E ela é o retrato fiel da vida do clube neste momento. A torcida de um lado, os conselheiros do outro e a polícia no meio.
E o que os torcedores que foram ao Barro Preto na manhã desta quinta-feira, acompanhar o início do processo eleitoral cruzeirense esperam, é que uma ação de outra polícia. Não a militar, que os separava dos conselheiros. Mas da Civil, que há um ano investiga o clube e ainda não deu a resposta que vários deles gritavam em direção à fila que se formava na calçada da sede: “você têm que ir é parta a cadeia”.