RIO DE JANEIRO - O choro efusivo da judoca Rafaela Silva ao receber a medalha de ouro, nesta segunda-feira (8), pode ser traduzido de diversas formas. A primeira delas é por todo esforço ter valido a pena. A outra, talvez mais importante, envolve dramas pessoais superados pela atleta. Em 2012, quando eliminada após erro da arbitragem, ela sofreu ataques racistas nas redes sociais e pensou em abandonar o quimono.
Além de tudo disso, a menina da Cidade de Deus, uma das mais famosas favelas cariocas, literalmente encerrou com chave de ouro o drama brasileiro na modalidade. Até o momento, nenhum dos representantes do país havia se credenciado ao pódio.
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Com a Arena Carioca 2 completamente lotada, Rafa, como foi chamada por todos que estavam de verde e amarelo, deu show e fez valer o "fator casa". Sempre muito segura e firme durante o combate, ela provou ser guerreira também em cima do tatame.
Aos gritos de "olê, olê, olá, Rafa, Rafa", a jovem, de 24 anos, ganhou força extra e acabou recompensada com a maior realização de quem disputa os Jogos Olímpicos: o ouro.
"Comecei a fazer judô por brincadeira e hoje sou campeã mundial e olímpica", comentou a judoca após o grande triunfo. "Neste ciclo eu treinei tudo o que podia. Graças a Deus o resultado apareceu", acrescentou a melhor atleta da categoria até 57 quilos.
Justiça feita
Compensada pela injustiça cometida há quatro anos, na derrota para a húngara Hedvig Karakas, Rafaela foi ovacionada em casa. Seu primeiro técnico, Geraldo Bernardes, que evitou que a atleta abandonasse a carreira após a eliminação em Londres, não escondeu a emoção com mais uma conquista na carreira. Há 12 anos, ele já havia conduzido o aluno Flávio Canto, hoje comentarista, ao bronze em Atenas.
"Superação. Ela mostrou para todo mundo para que veio. Foi com muito trabalho e com muita gente não acreditando, inclusive", disse Bernardes. "Aconteceu o mesmo com o Flávio (Canto). Ele era o meu sonho e ninguém acreditava que chegaria", concluiu.
Outro que ficou muito feliz e com sentimento de ter ganhado mais uma medalha própria foi o próprio Canto. Em entrevista ao Hoje em Dia, ele ainda não se dava conta da grandeza do que havia acontecido ali.
"Extraordinário. Ela é a primeira campeã olímpica e mundial. Estou ainda pasmo. Para ela representa muita coisa e tem um simbolismo enorme, assim como para o país", explanou o ex-judoca. Levada pelo pai, Rafaela treinou no projeto social desenvolvido pelo medalhista em Atenas.