Ouro olímpico é encarado como redenção da Copa do Mundo

Felipe Torres - Hoje em Dia
11/08/2014 às 07:54.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:44

(Flávio Tavares)

Os 7 a 1 sofridos para a Alemanha, na semifinal da última Copa, levaram o futebol brasileiro ao fundo do poço. A Seleção acabou ridicularizada mundo afora e precisou conviver com críticas pesadas. O próximo Mundial será apenas em 2018, na Rússia. Portanto, um sonho antigo se torna, agora, esperado ponto de reviravolta.

O inédito ouro nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, daqui a dois anos, devolveria certa “credibilidade” aos canarinhos e selaria a afirmação de uma nova geração. Neste momento, a palavra reformulação impera na CBF. Além disso, o feito garantiria a única conquista que falta ao currículo do esquadrão pentacampeão.

A primeira participação do Brasil no futebol masculino foi nos Jogos de 1952, em Helsinque, na Finlândia. No entanto, a primeira oportunidade de alcançar o eldorado surgiu com a prata em 1984, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Há exatos 30 anos, a turma comandada pelo técnico Jair Picerni pisava o gramado do estádio Rose Bowl para a decisão contra a França.

A Seleção foi derrotada por 2 a 0, gols de François Brisson e Daniel Xuereb. O ouro ficou no quase, mas acendeu de vez a chama olímpica da Seleção. A partir daí, o país ganharia outras quatro medalhas: duas de prata (1988 e 2012) e duas de bronze (1996 e 2008).

Dupla afinada

Quem terá a missão de comandar os canarinhos no Rio é o técnico da Seleção Sub-20, Alexandre Gallo. O ex-volante do Atlético conta com o respaldo do coordenador de seleções da CBF, Gilmar Rinaldi, e do treinador da equipe principal, Dunga.

O curioso é que os dois últimos entraram em campo nas Olimpíadas de 1984, unidos por Jair Picerni. Na ocasião, depois de ser apontado como técnico da Seleção que viajaria ao território norte-americano, Picerni se viu obrigado a montar o elenco em muito pouco tempo.

Sendo assim, ele não pensou duas vezes. Como a Fifa e o Comitê Olímpico Internacional (COI) tinham liberado a presença de jogadores profissionais – que não haviam disputado Copa do Mundo –, o treinador decidiu chamar um time todo.

Amparado pela CBF, Jair Picerni convidou o grupo do Fluminense. Mas o tricolor estava focado nas finais do Campeonato Brasileiro da época e negou a proposta. Restou ao treinador recorrer ao Internacional, que já não almejava nada na temporada.

“Era reta final de Brasileiro e estava difícil convocar sem atrapalhar os times. Só que o Internacional não tinha se classificado para a fase final e ia fazer uma excursão no Japão. Liguei para o presidente do Inter para ver se podia convocar alguns jogadores e ele falou: ‘Se quiser os 11, pode levar’. E eu levei 11 mesmo. O Inter foi nossa base, e o Dunga e o Rinaldi começaram a história deles na Seleção comigo”, relembrou Picerni, em entrevista ao site da ESPN.

"Seleinter" foi bem, mas parou na França

“Seleinter”, assim era chamada a Seleção que representou o Brasil nos Jogos Olímpicos de 1984, em Los Angeles, nos EUA. O técnico Jair Picerni convocou nada menos do que a equipe completa do Internacional, ou seja, 11 atletas colorados. Durante a campanha da medalha de prata, a primeira do país no futebol masculino, Ronaldo, do Corinthians, Gilmar, do Flamengo, e Chicão, da Ponte Preta, reforçaram a equipe titular.

Selada a escolha dos gaúchos como base do time canarinho, houve muita desconfiança. Comentava-se que apostar em um time contra combinados nacionais seria arriscado demais. “As pessoas achavam que não aconteceria nada. Mas comentávamos que era a nossa chance, tínhamos de ser os primeiros a colocar uma medalha no pescoço, porque ficaria marcado. Os outros até poderiam conseguir depois, mas seríamos os primeiros”, já declarou Dunga à imprensa gaúcha.

O entrosamento colorado se mostrava tão bom que o atual coordenador de Seleções da CBF, Gilmar Rinaldi, lembra do pouco período de preparação antes de a bola rolar nos gramados norte-americanos. “Para ter uma ideia, treinamos somente 15 dias para aquelas Olimpíadas. Agora, vamos começar a preparação com grande antecedência”, disse o ex-goleiro, se referindo à disputa do Rio de Janeiro, em 2016.

Boicote comunista

O Inter, vestindo a amarelinha, não só fez uma boa campanha, como quase trouxe o ouro. Porém, a Seleção seria beneficiada pelo boicote dos países do bloco comunista, liderados pela União Soviética. Os representantes do Leste Europeu se recusaram a disputar as Olimpíadas nos Estados Unidos. Tais seleções costumavam dominar o futebol masculino no torneio.

Na trajetória rumo à decisão, o Brasil cruzou e superou adversários de respeito. Venceu a Alemanha (1 a 0) no Grupo C e despachou a poderosa Itália (2 a 1), com gols de Gilmar e Ronaldo, na semifinal. A Azzurra contava com Walter Zenga, Aldo Serena, Franco Baresi e Franco Tancredi na equipe e era apontada como um das favoritas à medalha de ouro.

A “Seleinter” só parou na França. Quase 102 mil pessoas acompanharam, no Rose Bowl, em Pasadena, as bolas na rede de François Brisson e Daniel Xuereb. Os Bleus, comandados por Henri Michel, ostentavam no elenco jogadores com experiência, campeões da Eurocopa daquele ano.

Neymar e companhia deixaram escapar chance em 2012

O Brasil chegou perto de levar, enfim, a medalha de ouro na última edição dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. Neymar, Thiago Silva, Oscar, Hulk e companhia disputaram a decisão contra o México, no lendário Wembley, como grandes favoritos.

O time do técnico Mano Menezes só não esperava que Peralta aprontasse e decretasse os 2 a 0 dos rivais mexicanos.

Portanto, caiu no colo de Alexandre Gallo a responsabilidade de liderar o país, em casa, no Rio de Janeiro, em 2016. Para complicar, a Seleção principal vem de vexames no Mundial, o que aumenta a pressão. A primeira convocação da Sub-23 deve acontecer no dia 19, junto com a principal, para amistosos contra adversários ainda não definidos.

Neymar garantido

Por enquanto, o atacante Neymar, do Barcelona, é o único nome certo da lista. “O Neymar, além de ser uma referência para os nossos atletas, porque é um ótimo profissional e jogador, é um garoto querido e bacana, de índole sensacional”, comentou Gallo ao site da CBF.

O ex-volante do Atlético, vice-campeão Brasileiro de 1999, garante já ter feito um plano de ação, que pretende garantir o ouro e deixar um legado. A expectativa é formar também uma base para a Copa da Rússia, em 2018. Para isso, Gallo promete uma revolução nas categorias de base da Seleção.

“O México veio para a Copa com dez atletas das últimas Olimpíadas, enquanto nós tínhamos cinco. A Alemanha veio com dez atletas da última Copa, e nós com cinco. Eles têm 20 jogadores prontos para o próximo Mundial. Isso é um trabalho a médio prazo”, analisa o treinador.
 

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