Polêmicas, gols, lesão e desafio nos EUA: Papo em Dia com Kléber Gladiador

Henrique André
12/04/2019 às 20:32.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:13
 (Mauricio de Souza/Arquivo Hoje em Dia)

(Mauricio de Souza/Arquivo Hoje em Dia)

Nascido em Osasco, sétima cidade mais populosa do Estado de São Paulo, Kléber Giacomazzi de Souza Freitas, ou apenas “Kléber Gladiador”, atualmente escreve seu nome na Terra do Tio Sam. Goleador e muitas vezes polêmico, dentro e fora das quatro linhas, o ex-jogador do Cruzeiro goza da maturidade adquirida nos vários clubes que defendeu ao longo da carreira.

Aos 35 anos, o Gladiador hoje defende o Austin Bold FC, clube fundado em 2018, que disputa a la USL Pro, da Segunda Divisão estadunidense. Recentemente, inclusive, marcou o primeiro gol da história da equipe. Aprendendo a lidar com a pubalgia, Kléber tem usado os atalhos do campo para atuar durante os 90 minutos e não voltar a frequentar o banco de reservas.

Nesta entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, o atacante relembra o tempo em que defendeu o Cruzeiro (2009-10), fala da dor de cabeça que teve ao imitar uma galinha contra o Atlético, prega respeito ao alvinegro, fala da consideração que tem pela Raposa e muito mais.

Você se acostumou a defender gigantes do futebol brasileiro e agora atua por um clube criado recentemente nos Estados Unidos. Como tem sido esta experiência no país?

Tem sido uma experiência muito boa. Ter vindo para cá foi uma opção que envolveu outras questões além do campo. Experiência de vida, dar a oportunidade aos nossos filhos de estudarem em um país tão interessante quanto os Estados Unidos. Eu e minha esposa conversamos sobre muitas coisas e definimos morar aqui. Sobre o projeto novo, tem todas as circunstâncias normais de um clube criado do zero, mas é um desafio e tem sido muito tranquilo.

Você foi o autor do primeiro gol da história do Austin Bold. Já merece um estátua na porta do estádio (risos)? Acredita que será seu último ato no futebol? 

Nada de estátua... Fiquei feliz pelo gol, foi simbólico. Eu acho que o gol sempre representa o resumo do trabalho de todos, dos jogadores aos funcionários. Fazer o gol foi legal sim, foi importante para mim, porque tenho me dedicado muito e tenho visto a dedicação de todos também. Último ato? Eu estou feliz aqui, estou feliz jogando, sinto prazer dentro de campo, mas é claro que a gente tem que ser realista e entender o que o momento pede. Vamos ver como as coisas vão rolar por aqui e depois a gente conversa de novo (risos).Reprodução/Instagram / N/A

Em Minas, além de conhecer a sua esposa, você teve passagem importante pelo Cruzeiro. Criou um carinho especial pelo estado? E como você traduziria a importância da Raposa na sua vida?

Sem dúvida! Minas é muito importante para mim, representa muito. Belo Horizonte foi uma cidade que marcou a minha vida. Tenho um carinho enorme pelo estado, é um lugar que eu gosto de voltar justamente por tudo isso. Vivi um grande momento da minha carreira no Cruzeiro, fiz parte de um grupo excelente.

Em entrevista recente, você diz que se arrependeu da “Galinha”, ao comemorar um gol contra o Atlético. Foi um episódio que te deu dor de cabeça?

(Risos) Eu acho que esse momento não pode ser tirado do contexto. Eu tinha uma relação muito forte com o torcedor do Cruzeiro, fiquei envolvido. Saiu sem maldade. Não quis desrespeitar o Atlético. Foi uma brincadeira. O Atlético é um grande clube, com uma torcida apaixonada. Acabou dando dor de cabeça sim (risos). Mas já passou. Sempre que tenho a oportunidade, ressalto a grandeza do Atlético. E isso não diminui a minha consideração pelo Cruzeiro. São gigantes do futebol brasileiro e orgulham o nome de Minas dentro e fora do país. 

Assim como Leonardo Silva, Patric, Fábio Santos e outros tantos jogadores que vestiram a camisa celeste, você chegou a ser procurado para defender o Atlético, em 2014. Na época, ele viu com bons olhos a sua contratação. Por que não deu certo?

Para mim nunca chegou nada sobre interesse do Atlético. O que fiquei sabendo em relação a esse assunto foi através da imprensa mesmo, então fica difícil comentar algo. 

Até que ponto a pubalgia limitou a sua carreira? Sem ela, acredita que atualmente poderia estar no futebol europeu ou numa outra potência do futebol? Como se sente hoje? Consegue ter sequência grande de jogos?

Acho que limitar não é o termo certo. Me incomodou. Mas não chegou a limitar. Voltei para o Brasil porque eu queria. Já estava fora há um bom tempo, não foi fácil, porque viver na Ucrânia é bem diferente. Voltei e joguei em grandes clubes no Brasil, sem limitação em função do púbis. Infelizmente tive lesões em momentos importantes da carreira, como no Grêmio, em que eu tinha começado muito bem, mas vieram contusões por pancadas que sofri e isso acabou me atrapalhando pontualmente. Me sinto bem, como todo atleta de 35 anos, tirando o Zé Roberto quando tinha 35 anos (risos). Mas consigo ter sequência, no Coritiba, ]só para pegar um exemplo mais recente, tive boas sequências jogando 90 minutos, fazendo gols, sendo importante para o grupo. Aqui em Austin fiz os três jogos completos. Com o tempo, a gente aprende a se posicionar melhor, a evitar desgastes desnecessários. O desafio é usar a Inteligência para conseguir compensar as mudanças que acompanham os anos.

Não tem como falar de Kléber e Cruzeiro e não se lembrar da decisão da Libertadores de 2009, ano em que você chegou ao clube. Sempre que vem a decisão contra o Estudiantes, o que passa na sua cabeça? Verón, em entrevista ao Hoje em Dia, disse que os argentinos foram subestimados naquela noite.

Não me sinto confortável para comentar o que o Verón disse, não sei qual foi o contexto. Mas cada um tem o seu sentimento. Posso falar sobre o lado do Cruzeiro, queríamos ganhar o título com todas as nossas forças, respeitamos o adversário, lutamos muito por isso, mas infelizmente não deu. Aquele grupo vinha jogando muito bem, com uma sintonia incrível com o Adílson (Batista, o técnico). Ficou um sentimento de que era possível. Chegamos tão perto. Lamento muito não ter sido campeão. Mas a vida tinha que seguir. 

Aquele menino, nascido em Osasco, esperava ir tão longe no futebol? Hoje, mais experiente, você se arrepende de alguma coisa na carreira? A ida para a Ucrânia, tão cedo, algumas polêmicas, escolha por alguns clubes... 

(Risos) Essa pergunta poderia ser a entrevista inteira (risos). Cara, futebol sempre foi a minha paixão. Quando era menino, eu só queria jogar bola. E as coisas foram acontecendo. Claro que um menino de 10, 12 anos sonha em ser jogador, sonha com estádio lotado, mas porque gosta daquilo, vê na TV e fica fascinado. Não tinha como imaginar que viveria tudo o que vivi, mas eu sempre quis. Eu passei por algumas situações polêmicas na carreira, algumas foram inevitáveis, outras não. Acontece que depois de um determinado momento, qualquer coisa que acontecia comigo tinha uma repercussão grande e tomava uma proporção muito maior do que o fato realmente representava. Eu tive que aprender a conviver com isso. Sempre fui um cara muito tranquilo, amo minha família e meus amigos e tento fazer o meu melhor dentro de campo. A ida para a Ucrânia teve prós e contras e não dependia só de mim. Já cheguei a pensar que fui cedo demais, mas também tenho certeza que foi fundamental no meu desenvolvimento.

Você está com 35 anos. Já pensa no que fazer quando pendurar as chuteiras? Tem algum projeto em mente? Seguirá no futebol ou pensa em explorar outro rumo?

Como falei antes, vamos ver como tudo acontece por aqui. Tenho pensado em algumas coisas sim, tenho conversado bastante com a minha família. Sempre vivi em função do futebol, vi muita coisa acontecer. Mais para frente a gente conversa de novo (risos).Marcelo Prates/Arquivo Hoje em Dia / N/A

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