O promotor principal do julgamento de Oscar Pistorius pelo assassinato de Reeva Steenkamp, realizado em Pretória, na África do Sul, concluiu nesta terça-feira (15) um interrogatório de cinco dias do atleta paralímpico insistindo que ele matou deliberadamente a sua namorada quando eles discutiam.
O promotor Gerrie Nel disse que não tinha mais perguntas após argumentar que Pistorius mente com a sua afirmação de que disparou contra Reeva por erro. O atleta paralímpico atirou na sua namorada através da porta fechada do banheiro nas primeiras horas de 14 de fevereiro de 2013. Ele afirma que confundiu a sua namorada com um intruso que havia entrado na sua casa e que estava para sair do cômodo para atacá-lo.
Pistorius e o procurador discutiram pelo quinto dia em torno das versões do fato apresentadas pelo astro paralímpico. Desde a semana passada, Pistorius tem enfrentado fortes questionamentos de Nel, que disse que ele estava mentindo. O procurador argumenta que o atleta matou sua namorada depois de uma discussão e inventou uma história sobre tê-la confundido com um ladrão no banheiro da sua residência. "Infelizmente, eu tenho que dizer para você que está ficando vez mais improvável", afirmou Nel.
O velocista teve problemas para explicar as supostas inconsistências durante seu depoimento e, por vezes, chegou a chorar. Nel disse nesta terça-feira que as alegadas discrepâncias entre a declaração fornecida no seu pedido de fiança, emitido em fevereiro de 2013, logo após o assassinato, e seu testemunho atual mostram que o atleta está "ajustando" sua versão para tentar montar uma história mais convincente.
O promotor observou que no ano passado Pistorius disse que abriu fogo por medo depois de ouvir um "movimento" no banheiro. Nel indicou que, de acordo com suas palavras, o atleta teria escutado uma pessoa atrás da porta fechada do banheiro.
Agora, porém, Pistorius afirma que disparou ao perceber um som de "atrito de madeira", que interpretou como o produzido por um possível invasor que saía do banheiro para atacá-lo.
Nel fechou seu interrogatório pedindo a Pistorius para assumir a culpa por ter atirado em Reeva, mas ele não deu uma resposta direta, dizendo apenas que abriu fogo por acreditar que sua vida estava sob ameaça. Isso provocou, então, uma série de questionamentos irônicos do procurador.
"Devemos culpar alguém. Devemos culpar Reeva?", perguntou Nel, que tem duramente criticado Pistorius por não assumir a responsabilidade. "Não, minha senhora", respondeu, se dirigindo para a juíza Thokozile Masipa. "Ela nunca disse para você que estava indo ao banheiro", disse Nel, para depois questionar: "Devemos culpar o governo?".
Quando Pistorius respondeu com nova referência a um suposto invasor que estava no banheiro, Nel rebateu. "Quem devemos culpar pelas (balas) Black Talon que atravessaram seu corpo?", afirmou o procurador, tentando minar a versão do atleta paralímpico, que pode ser condenado à prisão perpétua se tiver premeditado o assassinato de Reeva.
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