Conciliar dois empregos nunca foi uma tarefa das mais fáceis. Além de tempo, é preciso muita disposição e esforço para se programar. Imagine conciliar uma das profissões mais perigosas que existem com o esporte mais exigente. É o que o belo-horizontino Rogério Silva faz. Bombeiro militar por profissão, nas horas vagas ele se torna um triatleta de alto nível. Tanto que, nesta segunda-feira (20), ele embarca para Maui, no Havaí, onde disputa no próximo domingo (26) o Mundial X-terra de triatlo.
A prova off-road de triatlo é composta por 1,5 quilômetros de natação, 32 quilômetros de ciclismo e 10 quilômetros de corrida, tudo isso com direito a obstáculos naturais como riachos, lamaçais, subidas e descidas, pedras, terra, areia e vegetação nativa.
Apesar do tamanho do desafio, Rogério está confiante e feliz com a oportunidade de representar o país em uma competição tão desafiadora. “Disputar o mundial X-terra é a realização de um sonho, ainda mais em lugar mágico como é o Havaí. A expectativa é a melhor possível. Mesmo tendo 10 anos de triatlo, a ansiedade é muito grande, como se fosse minha primeira prova”, comemora.
Rogério conquistou sua vaga para o mundial, após se classificar na etapa brasileira do X-terra Brazil, disputada em Ilhabela (SP), em junho. Competidor de provas tradicionais de triatlo, ele considera as provas off-roads mais complicadas do que as que são disputadas em estradas, no asfalto.
“Apesar de ter um percurso menor que as provas tradicionais, o X-terra exige bem mais dos atletas. O percurso é muito mais complicado por ser em trilhas. O ganho de ascensão é muito grande tanto na corrida quanto no ciclismo, o que dificulta ainda mais”, explica Rogério.
A comparação entre provas no asfalto e em trilhas acontece porque no próximo mês Rogério ainda sonha disputar o meio Ironman, que acontece em Miami.
Lá o percurso será composto por 1,9 quilômetros de natação, 90 quilômetros de ciclismo e 21quilômetros de corrida. No entanto, Rogério ainda não sabe se terá condições de disputar por falta de patrocínio. “Para o X-terra, consegui uma ajuda de custo que viabilizou a viagem. Porém para o Meio Iron não sei se terei condições de bancar a viagem”, lamenta.
Pedaladas e braçadas entre um turno e outro
A vida de Rogério Silva já seria muito complicada se ele fosse apenas um triatleta, afinal treinar para percorrer grandes distâncias correndo, pedalando e nadando não é nada fácil. Mas ele também precisa conciliar os treinamentos com a carreira de bombeiro militar.
Atualmente no setor de vistoria de projetos e combate a incêndios, Rogério comemora o fato de não precisar integrar as operações de incêndio diretamente. Com isso, ele fica um pouco mais livre para conciliar a rotina de treinamentos com o trabalho.
“Hoje minha rotina de trabalho é de três vezes por semana, 12 horas por dia. Como temos que fazer uma hora por dia de educação física, aproveito para chegar mais cedo no Corpo de Bombeiros, onde faço meu treinamento de corrida de 6h às 8h.
Depois, trabalho até 19h. Quando saio, faço meu treinamento de natação à noite. Nos dias de folga faço o treino de ciclismo em trilhas e a natação fora da piscina”, explica Rogério. Além disso, quando vai disputar as competições, Rogério precisa pedir liberação para viajar e não comparecer ao serviço.
“Já disputei dois mundiais militares e eles sempre me deram dispensa de serviço, assim como desta vez. Porém, algumas vezes tive que tirar férias para viajar”, comenta o bombeiro.
A profissão, inclusive, foi responsável por Rogério descobrir o triatlo. “Eu estava fazendo o curso para entrar no Corpo de Bombeiros quando fui trabalhar como resgate em uma prova disputada na Lagoa dos Ingleses. Foi meu primeiro contato com o esporte. Depois disso, ainda dei sorte de ter um colega de profissão que era triatleta, que me levou para treinar com ele. Hoje ele parou e eu continuo”, lembra Rogério.