Secretário da ONU elogia combate do Brasil à aids e rechaça epidemia pelos Jogos

Estadão Conteúdo
09/08/2016 às 10:48.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:15

(Divulgação)

O Rio-2016 será a Olimpíada com maior distribuição de preservativos da história, disse o médico Luiz Loures, secretário-geral assistente da Organização das Nações Unidas (ONU) e diretor executivo adjunto do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids (UNAIDS).

No Brasil para lançar a campanha #EuAbraço, que tem como objetivo combater o preconceito contra os portadores do vírus HIV, Loures negou a possibilidade de nova epidemia mundial da doença a partir dos Jogos no Brasil, cuja resposta à epidemia elogiou.

Foi da estratégia brasileira para controle da Aids que Loures falou ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em encontro no País no dia da abertura o evento.

"Outro ponto é a campanha que o Brasil está fazendo com o (aplicativo de relacionamento gay) Hornet.", disse ele. Loures revelou que atualmente 70% dos encontros homoafetivos na Europa começam na internet.

"Se é aí que o sexo começa de alguma forma, é aí que eu tenho de intervir, e o Brasil é o primeiro país que está implementando isso de forma sistemática", afirmou. "Então eu dizia ao secretário (que a gente tem que pegar a experiência brasileira para expandir para outros níveis".

Mas a Aids não é única preocupação, porque Ebola e zika também são sexualmente transmissíveis. A seguir, os principais trechos da entrevista ao Estado de S. Paulo.

Sexta-feira (dia 5) o senhor se reuniu com o (secretário-geral da ONU) Ban Ki-moon e com a (diretora-geral da Organização Mundial de Saúde) Margaret Chan. Quais eram as preocupações que eles expressaram em relação a essa Olimpíada, em relação a epidemias?

Um aspecto extremamente importante que nós discutimos foi a transmissão sexual dessas doenças. Ebola, zika, e HIV, todas podem ser transmitidas também sexualmente. Outro aspecto é a discriminação. No caso do Ebola, a discriminação levou a um número muito maior de mortes. Na questão de inovação, eu tomei oportunidade para instruir o secretário-geral Ban Ki-moon em alguns aspectos da resposta do Brasil: é o maior número de preservativos distribuídos historicamente em uma Olimpíada. O outro ponto é a campanha que o Brasil está fazendo com o (aplicativo de relacionamento gay) Hornet. (em parceria com o Ministério da Saúde, o aplicativo exibe banners com mensagens de prevenção do HIV). Se eu não chego mais perto de onde o problema está, não tem como avançar. Na Europa, hoje, mais de 70% dos encontros sexuais entre gays está começando na internet. Se é aí que o sexo começa de alguma forma, é ai que eu tenho de intervir, e o Brasil é o primeiro país que está implementando isso de forma sistemática. Então eu dizia ao secretário (Ban Ki-moon) que a gente tem que pegar a experiência brasileira para expandir para outros níveis.

A zika é uma preocupação da ONU para a Olimpíada?

Preocupo-me mais com zika em escala global. Minha preocupação com Brasil, nesse momento, não é a maior. Estou mais preocupado com tendências nos Estados Unidos e Europa.

A ONU tem alguma previsão de epidemias mundiais que possam partir da Olimpíada?

Do ponto de vista epidemiológico, eu não vejo nenhum risco, não tem nenhuma razão para ter preocupação de expansão do zika, nem do HIV. Ao contrário, a Olimpíada é recorde em distribuição de preservativos, tem a campanha do Hornet e dos abraços, eu acho que são os Jogos Olímpicos mais protegidos em relação ao HIV que eu tive conhecimento. O resto é história, e sucesso ao Brasil que vai ter uma grande Olimpíada.

Qual é o comportamento do jovem brasileiro que tem aumentando as infecções de aids?

Não é só no Brasil, isso é uma tendência mundial. Eu acho que um fator fundamental para explicar essa tendência global é o gap de geração. A minha geração organizou a resposta à aids, mas nós não conseguimos passar o conhecimento para a população mais jovem.

 A educação sexual, 30 anos depois da descoberta da aids, continua sendo um tabu?

Sem dúvida. Sexo é tratado como um tabu, como uma porta fechada. Sexo é uma questão de poder. Na relação homem/mulher, o homem é um predador. Do ponto de vista de saúde pública, homem é um problema pior. O problema de disparidade de gênero aqui não é retórico, é o que está fazendo a aids crescer. O progresso médico foi fenomenal, mas não houve nada do ponto de vista de educação sexual. Foi como se a epidemia passasse em paralelo. Se a educação sexual fosse uma rotina nas escolas, nas famílias, a aids hoje teria acabado.

 Como o teste rápido é feito? Se a pessoa é diagnosticada, qual a orientação?

O dilema que nós estamos vendo hoje: expandir o teste rapidamente fora das unidades de saúde, mas fazer isso garantindo sigilo. Há duas semanas houve um hacking da base de dados em um país grande, que eu não posso te dar o nome, que foi seguido por chantagem. Na minha opinião, o equilíbrio deve ser no sentido da normalização do teste. Então na hora que chega para fazer o teste, o paciente precisa saber onde está entrando.

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