Secretário Geral da Federação Mineira de Futebol (FMF) durante o mandato de Castellar Neto, Adriano Aro desde junho ocupa a cadeira pela qual passaram o avô, José Guilherme Ferreira, e tio, Elmer Guilherme. Eleito por aclamação em outubro do ano passado, quando recebeu 119 votos dos 123 filiados, ele tem a missão de comandar a entidade até 2022.
Nesta entrevista exclusiva concedida ao Hoje em Dia, o também advogado eleitoralista fala sobre os projetos da FMF para os próximos anos, detalha os principais desafios e revela a missão de honrar o nome da família na nova função.
Você assumiu a vice-presidência da FMF em maio de 2014, numa parceria com o Castellar. Quais foram os principais desafios encarados naquela época?
Logo no início, recebemos um comunicado do Governo do Estado pedindo a sede de volta, porque ela havia sido cedida em comodato. A Federação já havia perdido devido a dívidas fiscais, mas permanecia no local com autorização do até então governador. Esse foi um choque e um desafio inicial. Como fazer para encontrar uma sede nova e, com esta mudança, recuperar a dignidade da instituição, que sofria um pouco com sua imagem desacreditada. O segundo desafio era o funcionamento da entidade, que sofria com processos judiciais, execuções, dívidas, e ela não podia usar contas bancárias para circular o seu dinheiro. Toda operacionalização era feita por meio de carros-fortes, o que expunha a entidade a um risco muito grande e dificultava a própria administração.
E do ponto de vista de competições?
Do ponto de vista de competições e do nosso relacionamento com os clubes, acredito que precisávamos encontrar maior transparência na organização da competição. Vimos que o Campeonato era custeado por uma taxa de participação, a qual não se dava para saber quais os itens que a compunham. Abrimos estes números, repassando aos clubes as despesas dos jogos e, junto disso, inovamos fazendo a súmula e o boletim eletrônicos.
Neste seu início de gestão, ainda existe algo que vocês não conseguiram concluir?
A fazer sempre existem várias coisas. Acredito que o nosso planejamento para quatro anos foi executado. Um sonho que ainda não foi realizado é um campeonato estadual do futebol amador. Hoje temos vários torneios importantes, como Copa Itatiaia e Corujão, mas nenhum estadual. Acredito que para o ano que vem isso seja uma realidade. Para o futebol profissional, temos o sonho de diminuir as despesas dos campeonatos, pois sabemos que os clubes sofrem muito com elas. Isso depende do mercado, de patrocínios e outras coisas.
Vocês tiveram muitos problemas de relacionamento com o Cruzeiro. Como está esta situação e o diálogo entre as partes hoje?
Desde que aconteceu esta mudança, acredito que tanto da parte da Federação, quanto da parte do Cruzeiro, houve a intenção de estreitar os laços. Já estive pessoalmente com o presidente Wágner Pires e com a diretoria, na sede do clube. Conversamos muito sobre tudo o que aconteceu e me coloquei à disposição para buscar aquilo que estiver ao meu alcance para contribuir com a gestão do Cruzeiro. Acredito que o diálogo tenha sido muito bom e que temos muito a somar. Vi uma receptividade e uma cordialidade muito grande.
Também houveram muitas polêmicas durante os clássicos entre Atlético x Cruzeiro (e vice-versa). A Federação pensa em alguma estratégia para interferir nisso e fazer que haja o mínimo de respeito entre ambos nos próximos duelos?
O papel da Federação é tentar antever estes fatos. Temos que quebrar a cabeça e gastar neurônios para encontrar estas soluções. Uma das alternativas que pensamos para a próxima edição do Mineiro, é tentar convidar as diretorias jurídicas dos 12 clubes para uma reunião prévia; antes do arbitral. Uma vez definidas as regras, pedir que eles nos auxiliem na busca por soluções para aquilo que já existe no regulamente, para evitar conflitos.
Você se sente ou já se sentiu perseguido por ter a herança de ter tido o avô e o tio presidentes da Federação? Isso exerce mais experiência ou mais pressão?
Acredito que isso gera maior responsabilidade. É uma missão mais difícil, conseguir superar e fazer muito melhor do que eles fizeram. Assim como superar o que fez o presidente Castellar. Esse histórico familiar, por um lado, com a convivência com vários dirigentes que conviveram com ambos, gera um carinho muito grande, mas também há uma cobrança muito grande. Enxergo isso com muito otimismo e como um desafio de vida. Vou buscar fazer uma gestão ainda mais transparente, eficaz, e deixar um legado para as próximas gerações.
A FMF tenta de alguma forma fazer com que os clássicos voltem ao Mineirão, com torcidas divididas igualmente?
Não me lembro quantas vezes estive no Mineirão com clássicos com torcidas divididas. Foram inúmeras vezes. Eu, particularmente, sou um entusiasta disso. O que depender da Federação, não serão medidos esforços. Entretanto, compreendemos as questões comerciais que envolvem cada uma das arenas e dos clubes também. Assim como gostaríamos muito que tivessem os jogos com preliminares.
Como você vê a questão política do futebol brasileiro, em relação aos escândalos dos últimos tempos em que a CBF esteve envolvida?
Acredito que uma mudança e uma renovação são necessárias. O presidente eleito, Rogério Caboclo, tem plenas condições para tal. Ele é um gestor, que veio do São Paulo, cuidou das finanças do clube por muitos anos e depois atuou como diretor da CBF. É uma pessoa extremamente capacitada. Acredito que o Brasil sofreu com a infelicidade do voto do atual presidente, em relação à escolha da sede da Copa do Mundo de 2026, que parece não refletir a vontade dos filiados. Foi um momento de infelicidade. Mas, conhecendo o presidente da Conmebol, tenho certeza que haverá uma aproximação com o Caboclo e que nossa imagem não será prejudicada.
Você é a favor da continuidade da Primeira Liga?
Quando surgiu a iniciativa e nos perguntaram se seríamos favoráveis, convocamos nossos filiados e fizemos uma reunião interna, para saber se era de interesse apoiá-la. Tivemos quase uma unanimidade; apenas um clube não concordou. A Federação, como reflete a vontade de seus filiados, adotou um posicionamento público de apoio. Na minha opinião, o nosso calendário já é muito difícil, pela quantidade de torneios. Acredito que a Primeira Liga terá uma dificuldade muito grande para formatar o campeonato dela. É possível, viável, mas depende da capacidade de organização dos dirigentes.
Você é sobrinho de Elmer Guilherme, afastado da cadeira maior da entidade, em 2001, pela CPI do Futebol. O peso deste acontecimento te criou algum tipo de empecilho ou te motivou?
Meu tio teve erros e acertos. Acredito eu que mais acertos do que erros, mas sofreu muito com as falhas; para mim, injustamente. Minha vontade de retornar para a Federação, em parte, decorre disso. Destes quatro anos que fui Secretário Geral, nunca passei por situações constrangedoras. Pelo contrário. Tenho a capacidade de fazer uma boa gestão e, se Deus quiser, talvez muito melhor do que a que todos os outros fizeram.
Seu irmão Marcelo, Deputado Federal, sempre esteve ligado à Federação. Existe um uso político em relação a ele ou vocês conseguem separar futebol e política?
Meu irmão é político e tem esta vocação. Vai enfrentar muito provavelmente uma reeleição, caso seja escolhido em convenção, e ama o futebol. O que ele fez foi, ao longo do mandato, tentar auxiliar o presidente Castellar naquilo que estivesse ao alcance dele. Além de parlamentar, é diretor da CBF. Assim abriu várias portas para a FMF. Uma delas foi a eleição do Castellar para vice-presidente da entidade. É Minas ampliando seu espaço. Ele jamais interferiu na administração, mantendo uma distância e nos ajudando em Brasília.
O contrato da Globo vai até 2021, prorrogável por mais dois anos. A FMF estuda alguma maneira de diminuir este abismo financeiro entre os clubes da capital x Interior?
Recentemente tivemos a renegociação do contrato. Tentamos melhorar de todas as formas esta distribuição e conseguimos um ganho real para os clubes do interior. Mas ainda está aquém das necessidades destes. A questão é que a Rede Globo, ao propor o contrato, leva em consideração o retorno que ela tem pelo pay per view. Os números apontam que há, de fato, uma distorção muito grande. São critérios comerciais. Por isso ainda não conseguimos uma melhora significativa para os clubes do interior.
O VAR é uma realidade distante dos Estaduais? Acredita que possa ser implementado a partir de quando?
A Federação não se opõe de forma alguma em relação ao uso do VAR durante o Estadual. Porém, para um clube do interior, o custo ficaria maior do que o de um jogo inteiro. Em Portugal, existe fibra ótica numa central única. No Brasil, atualmente, cada estádio deveria ter uma central. Se no mata-mata de 2019 os clubes quiserem usá-lo, a FMF não irá se opor.