(Lucas Prates)
O pequeno Miguel estava distraído folheando um livro sobre vampiros, na arquibancada do Independência, enquanto o pai, Thales Garbazza, ia à loucura com os gols do América e, ao mesmo tempo, corria de um lado para o outro atrás de informações sobre as outras partidas da rodada. Faltou pouco. O América goleou o Sampaio Correia por 4 a 0, o Boa Esporte perdeu para o Icasa e o Atlético-GO levou a virada do Santa Cruz. Só restou o Vasco fazer a sua parte contra o Avaí. A sensação de quase todos os presentes no Horto era de mágoa e raiva. Mas não em relação aos jogadores, ovacionados ao fim da partida e chamados de “guerreiros” em meio aos aplausos. A responsabilidade por mais um ano na Série B caiu sobre os ombros da diretoria. Já que, independentemente do resultado desse sábado (29), era para o América estar comemorando a volta à elite do Campeonato Brasileiro, não fosse a “mordida” do regulamento e a perda de seis pontos conquistados com muito suor, em razão da escalação irregular do lateral-esquerdo Eduardo. “Essa diretoria é incompetente. Ela também deveria receber uma punição”, criticou Zuleine Leão, a Dona Zuzu, de 79 anos, que acompanhou o time até em jogos fora de casa, chegando a viajar de avião para o Rio Grande do Norte durante a campanha deste ano. A partida já havia sido encerrada, mas os cerca de 5 mil torcedores pagantes ainda permaneceram no estádio por mais alguns minutos, bem como os jogadores no gramado, na esperança de ouvir o gol do Vasco que daria a sonhada e suada classificação ao América. Mas o grito não veio, fazendo ressurgir a irritação com a diretoria do clube. Garbazza, que levou para o estádio a esposa, a sogra e os três filhos, foi ao estádio motivado pela impressionante arrancada do time após a redução da pena de 21 para seis pontos e a chegada do técnico Givanildo Oliveira. “Chegamos ao último jogo com chance de classificação. Eles (jogadores) lutaram muito”, elogiou. O acesso deixou de ser uma luz distante no fim do túnel para aumentar à medida que os resultados se tornavam favoráveis. Um milagre parecia prestes a acontecer. O torcedor Raimundo Saraiva teve que ir para o ambulatório com a pressão alta. Amparado por um amigo, não deixou de ressaltar que estava confiante. Após a partida, jogadores também se amontoaram em busca de um radinho de pilha para acompanhar o atrasado jogo do Avaí. A frustração após os “acréscimos” não abateu o elenco, que preferiu destacar a entrega e o bom futebol. “Estou feliz, satisfeito pelo trabalho. Os números não mentem, chegamos a quase 75 % de aproveitamento. Infelizmente, não deu”, lamentou Givanildo. “A perda de pontos foi crucial. Fizemos a nossa parte. Agora, é levantar a cabeça, porque no ano que vem este clube vai para a Série A”, completou o emocionado Willians, principal destaque da goleada.