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Com a missão de receber as revelações de Atlético e Cruzeiro, os técnicos Levir Culpi e Marcelo Oliveira acham fundamental uma mudança no processo de formação do jogador brasileiro.
Para o comandante do Galo, um dos grandes problemas para se utilizar um atleta recém-promovido das categorias de base é a falta de educação dos jovens. Segundo o treinador, além do trabalho físico e técnico, a formação do atleta necessita de acompanhamento psicológico.
“Os meninos que sobem nem sempre são bem educados, em todos os aspectos. É preciso educar para que eles possam entender uma situação. É um trabalho de assistência social. Isso é fundamental. É um trabalho para duas gerações e talvez nem se alcance o resultado. É necessária uma união do aspecto pedagógico ao técnico” afirma Culpi.
Para o comandante do Cruzeiro, Marcelo Oliveira, o jovem atleta perde princípios básicos da formação ao longo do processo e chega sem identidade ao profissional.
“Não temos mais vínculo, o que ajudava muito na formação de jovens jogadores. Muitas vezes, o atleta chega ao profissional e temos que orientá-los em muita coisa”, concluiu o comandante estrelado.
O problema não se resume ao futebol mineiro. A fama precoce e a pressão excessiva de empresários têm provocado o deslumbramento de várias promessas, o que prejudica o processe de transição da base para o grupo principal. Segundo os treinadores dos principais clubes do país, esse comportamento vem prejudicando a última etapa da formação do atleta.
Conselhos
Muricy Ramalho é um dos maiores críticos da nova realidade que toma a base no Brasil, fruto da relação criada pela Lei Pelé. Em entrevista recente ao programa Arena Sportv, o treinador do São Paulo relembrou os tempos em que esteve à frente do Santos (2011 a 2013). No período, precisou dar um puxão de orelha em Gabriel e Victor Andrade, duas promessas do Peixe.
“O grande problema do jogador hoje, principalmente com a questão da ‘Lei do Passe’, é que com 15 anos já se faz um grande contrato e fala que é o melhor do mundo. A dificuldade é muito grande com esses meninos. Tive um trabalho muito grande com o Victor Andrade e principalmente com o Gabriel, de chegar e sentar uma hora para falar com os dois”, afirmou o treinador.
Segundo Muricy, a pressão constante de procuradores prejudica o processo de formação do atleta.
“O cara lá na base já é ídolo com 15 anos, e, às vezes, ninguém cobra porque o procurador fica bravo com o treinador. Então o cara vem com bastante dificuldade, defeitos. Às vezes, essas pessoas que ficam do lado do jogador, ao invés de ajudar, atrapalham”, completou o treinador do São Paulo.