Um clássico que está perdendo a graça

Alexandre Simões - Hoje em Dia
Publicado em 11/05/2014 às 09:57.Atualizado em 18/11/2021 às 02:31.
 (Samuel Costa)
(Samuel Costa)
No confronto válido pelo turno do Campeonato Brasileiro de 2010, Atlético e Cruzeiro iniciaram, na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas, a parte mais sem graça da história do clássico, que é a disputa de jogos com torcida única ou com o visitante recebendo apenas 10% dos ingressos. O motivo era o fechamento do Mineirão, que seria reformado para a Copa do Mundo. Neste domingo (11), às 16 horas, os dois rivais se enfrentam no Independência pelo turno da Série A de 2014. E o Gigante do Horto receberá apenas atleticanos.
 
São vários os motivos para que o ponto máximo da rivalidade, que é o encontro das duas torcidas, em condições de igualdade, num mesmo estádio, seja vivido.
 
Um deles é apontado pelo técnico atleticano, Levir Culpi, que volta a trabalhar no Brasil depois de sete anos no Japão. E com a credibilidade de quem é especialista dos tempos em que o clássico contava com as duas torcidas, pois participou de 31 confrontos, entre 1994 e 2007, comandando os dois clubes.
 
“Eu fico muito triste com isso. Chegamos num ponto em que não pode entrar torcida do outro time. No Japão, por exemplo, se você falar que nós estamos jogando com uma torcida só ninguém vai acreditar. Vão achar que eu estou mentindo. Mas acho que não é problema de federações ou dirigentes, é problema do governo. O povo precisa de educação e não está recebendo. As consequências são essas. Daqui a pouco está o Exército nas ruas. Esse é o preço que estamos pagando pela falta de educação”, ataca o treinador do Galo.
 
Do outro lado, Marcelo Oliveira revela a experiência de quem participou dos grandes tempos do confronto, na década de 70, como jogador.
 
“Lamentável um clássico com torcida única. Como atleta, participei de vários, aqui e no Rio de Janeiro, com as torcidas divididas. Eram momentos de festa, comemoração, alegria, Hoje isso não acontece por ações de pessoas que não são do futebol. É uma questão de polícia. O futebol fica mais interessante com estádio cheio e com duas torcidas”, garante o técnico cruzeirense.
 
As opiniões dos dois treinadores explicam o principal motivo de o jogo de deste domingo ser disputado com torcida única, assim como os dois confrontos anteriores no Horto este ano. Em outubro de 2013, pelo Brasileiro, as organizadas Máfia Azul e Pavilhão Independente se confrontaram no setor destinado aos cruzeirenses.
 
A briga fez com que o Cruzeiro perdesse dois mandos de campo. E o Atlético, por ser mandante, um. Além da pancadaria, objetos, entre eles bombas, foram atirados por cruzeirenses sobre os atleticanos, que estavam no setor inferior.
 
Com esse cenário, o presidente Gilvan de Pinho Tavares tomou a decisão de não pedir os 10% de ingressos que o Cruzeiro teria direito quando encarar o rival no Independência.
 
Reabertura do Mineirão foi um déjà vu
 
Em fevereiro do ano passado, na reinauguração do Mineirão, o espetáculo das duas torcidas no estádio lotado (foram 52.989 pagantes) e divido ao meio foi apenas um déjà vu, pois o remodelado Gigante da Pampulha não recuperou o posto de casa do maior clássico mineiro.
 
Com o Independência reconstruído, o Atlético assinou um contrato de parceria com a BWA, que ganhou a concorrência para exploração do estádio por dez anos.
 
Assim, o Galo abandonou o Mineirão, pois o presidente Alexandre Kalil não concordou com as condições que foram colocadas pela Minas Arena, que fez a reforma do estádio e vai explorá-lo por 25 anos.
 
O Cruzeiro fez do Gigante da Pampulha a sua casa, mas sempre que recebe o Atlético adota a prática dos 10% dos ingressos para os visitantes.
 
Com cada clube tendo contrato com a administradora de um estádio, o principal clássico mineiro com as duas torcidas dividindo o espaço fica a cada dia mais difícil de voltar a ser uma realidade.
 
E isso afeta diretamente a presença de público. Neste século, nos 41 confrontos entre Atlético e Cruzeiro, no Mineirão, com torcida divida, antes do fechamento do estádio para reforma, foram 1.653.876 pagantes, com média de 40.338.
 
O confronto pelo brasileiro de 2010, na Arena do Jacaré, marcou não apenas o início da era da torcida única ou dos 10% para o visitante, mas também a entrada de estádios com capacidade menor de público no clássico.
 
O recorde de pagantes no Independência são 22.342 torcedores, no jogo de ida da decisão do Campeonato Mineiro deste ano.
 
É um número muito próximo da média de público dos 17 clássicos disputados com torcida única ou com a regra de 10%, que é de 21.769 torcedores.
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