Desde que fundaram a Liga Nacional de Basquete (LNB) e conseguiram a chancela da Confederação Brasileira de Basquete (CBB) para organizar o campeonato nacional masculino, os clubes brasileiros adotaram uma postura alheia aos problemas da entidade gestora da modalidade no País. Cada um cuidava de suas atribuições, sem interferir no trabalho do outro.
Agora, porém, a crise da CBB atinge diretamente as equipes. A punição imposta pela Federação Internacional de Basquete (Fiba) pela má gestão do basquete brasileiro impede não só as seleções nacionais de jogarem competições, mas tira também os clubes do país de eventos internacionais. A decisão, anunciada na segunda-feira (14), afeta Bauru Basket, Flamengo e, talvez, o Mogi.
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Campeão e vice da oitava edição do Novo Basquete Brasil (NBB), Flamengo e Bauru estavam classificados para a Liga das Américas, espécie de Copa Libertadores do basquete. Seu campeão joga um Mundial de Clubes contra o campeão europeu.
"Isso é péssimo. Não é nada que nós ocasionamos. Somos vítimas dos problemas da CBB. Não temos relação direta com a CBB. Somos impactados por algo que não fizemos. Conseguimos a classificação dentro da quadra", reclama Vitor Jacob, gestor do Bauru. "Os clubes não têm acesso algum à CBB. Nós não votamos, não temos direito a voto. É o grande erro do sistema."
Ainda que gerem orçamentos milionários, os clubes profissionais mal têm poder de decidir os presidentes das federações - em São Paulo, por exemplo, as ligas regionais cumprem esse papel. E são as 27 federações, mais a associação de atletas, que definem o presidente da CBB. Para a eleição do ano que vem, um candidato é o presidente da federação do Paraná, Estado que não tem times profissionais, e o outro é o técnico Antônio Carlos Barbosa, apoiado por federações do Norte, principalmente, pouco representativas.
Afetados diretamente pela gestão da CBB, os clubes agora exigem mudanças. A própria LNB, que historicamente adotava uma política de não interferência nos assuntos da CBB, hoje se diz "proativa" na busca de soluções.
"A LNB tem ciência de seu papel neste cenário e de maneira proativa estará, como sempre esteve, pronta para ajudar sob a liderança da Fiba e não medirá esforços para buscar junto às entidades que organizam o esporte no Brasil, como Ministério do Esporte e Comitê Olímpico do Brasil (COB), uma solução rápida para que a modalidade no País continue sendo desenvolvida da melhor forma possível", disse a Liga, em nota.
Os clubes, porém, se sentem de mãos atadas. "A primeira coisa é alterar o formato de eleição, se a CBB continuar existindo. Mudar a participação dos clubes, dos atletas", diz o dirigente bauruense. Para ele, a CBB é uma "instituição completamente falida" e o único caminho é criar uma nova entidade gestora do basquete no País.
Ainda segundo Jacob os clubes tinham expectativa de que as coisas poderiam melhorar na CBB após a Olimpíada, o que não aconteceu. Agora, com a punição, Bauru e Flamengo terão um "prejuízo de imagem absurdo" ficando fora da Liga das Américas, competição de mais visibilidade no basquete do continente.
O Mogi das Cruzes/Helbor, por enquanto, não é prejudicado. A equipe está na final da Liga Sul-Americana e poderá jogar a decisão contra o Bahía Blanca Basket, da Argentina. O problema é que, se for campeão, o Mogi não poderia usufruir da vaga que conquistaria na Liga das Américas.
"É uma vergonha para nós, agir para cima da gente e prejudicar quem investe no basquete. A gente não está sendo prejudicado de momento, mas estamos vendo o empenho de Bauru e Flamengo, que estão sendo penalizados. Cada time custa 5, 6 milhões de reais por ano. A gente sai à luta, monta um time e fica como agora?", questiona Nilo Guimarães, gestor do basquete de Mogi.
Os clubes devem aproveitar a presença de dirigentes da Fiba Américas em Mogi das Cruzes para os dois primeiros jogos da final, nos dias 23 e 24 de outubro, para tentar reverter a decisão. A Liga das Américas começa na primeira quinzena de janeiro, mas a punição à CBB vai pelo menos até 28 de janeiro, quando será reavaliada.
A LNB diz entender que "tal ato é compreensível na medida em que se busque o caminho para a retomada do crescimento do basquetebol no Brasil". "Esta ação, por mais dura que possa parecer, deve trazer consigo a esperança, o entendimento e a soma de esforços para que solucionemos os graves problemas que afligem a nossa Confederação", afirma a liga, que critica só a punição aplicada aos clubes. "Uma medida como essa serve, apenas, para agravar a atual situação", avalia.