Wrestling, arte da derrubada, desafia hegemonia do jiu-jitsu no MMA

Émile Patrício e Felippe Drummond Neto - Hoje em Dia
26/08/2013 às 12:43.
Atualizado em 20/11/2021 às 21:19

Jon Jones, Chris Weidman, Cain Velásquez, Georges Saint Pierre, Chael Sonnen, Randy Couture, Daniel Cormier e Dan Henderson. O que essas feras têm em comum? Todos têm o wrestling como principal base ou são exímios nesta modalidade, derivada da luta olímpica. Algo não tão comum entre os lutadores brasileiros, que, nos últimos tempos, buscam cada vez mais a técnica da derrubada, para não ficar para trás dos gringos no cage.

No MMA (artes marciais mistas) é mais difícil um lutador depender apenas do combate em pé para vencer. Ele terá de contar com muita técnica, um vacilo do oponente ou até mesmo sorte. Mas se o adversário for casca grossa e aguentar grande parte do round, pode quedar (derrubar o oponente) e inverter a vantagemcom ground n’ pound ou finalizar, com apenas alguns segundos de trabalho.

E é isso que está faltando aos lutadores brasileiros. De acordo com os melhores técnicos da modalidade, as lutas em pé são maioria e o país tem o mais eficiente jiu-jitsu do mundo, mas o brasileiro, na sua grande maioria, não sabe quedar ou não defende bem as quedas. Mesmo assim, alguns lutadores são exceções, como Minotauro, Vitor Belfort, Demian Maia, Werdum e Glover Teixeira, entre outros.

Mas, ao que tudo indica, esse panorama vai mudar. Até há pouco tempo, era difícil encontrar locais onde treinar wrestling. Porém, as academias já estão se atualizando. A Ely Kickboxing, por exemplo, já tem aulas de wrestling chinês com o treinador André Lins Coelho. 

“O MMA consiste em três valências: lutar em pé, derrubar e lutar no chão. Isso é essencial para o lutador conseguir se sobressair. O wrestling é a parte de derrubar e defender a queda e chega como um complemento às outras artes”, pontua Coelho, ressaltando que a procura pelo wrestling tem aumentado.

“Todos os lutadores profissionais estão procurando se especializar nesses três itens: a trocação, a derrubada e a luta no chão, no qual o Brasil é o fenômeno. É inegável que está havendo um crescimento considerável na procura do wrestling entre os brasileiros”.

Além disso, alguns resultados recentes apontam que lutadores de wrestling andam se dando bem nas principais competições de MMA, como é o caso do americano Chael Sonnen, que finalizou Maurício Shogun recentemente no UFC (Ultimate Fighting Championship). Já os grandes competidores que têm o jiu-jitsu como ponto forte estão decepcionando. As derrotas surpreendentes de Minotauro e BJ Penn, entre outros, que o digam.

“As regras do UFC ajudam os especialistas em wrestling, justamente pelo jogo que eles têm, que é derrubar e não ser derrubado. Eles ficam por cima, conseguem pontuar e amarrar o oponente”, analisa Minotauro, que, no ano passado, percebeu tal vantagem e contratou o treinador americano Eric Albarracim, especialista no wrestling, para a sua equipe.

Técnica é tradição nos Estados Unidos 

A história do UFC e das artes marciais mistas (MMA) quase se confundem com a evolução do jiu-jitsu brasileiro, como é chamado atualmente. Mas, há algum tempo, a “arte suave” não é mais uma unanimidade quando o assunto é eficiência. Para muitos especialistas, atualmente o wrestler é tão efetivo ou mais.

Prova disso é que, dos oito campeões do UFC, apenas dois, os brasileiros José Aldo, dono dos cinturões do pesos pena, e Renan Barão, do título interino entre os galos, não se especializaram na derivação da luta greco-romana.
 

Contratado recentemente pela equipe Team Nogueira, dos irmãos Minotauro e Minotouro, o treinador americano Eric Albarracim, conhecido como “Capitão América”, avalia que a discussão também passa por uma questão cultural. 

“Nos Estados Unidos, todas as escolas ensinam wrestling. Os atletas começam aos 15 anos, treinando duro, de segunda a quinta-feira, para na sexta-feira bater o peso e lutar no sábado. Descanso apenas no domingo. Isso toda semana. Os que são muito bons continuam na faculdade. No Brasil, quase ninguém aprende wrestling”, comenta Albarracim. 

Mesmo assim, o jiu jitsu ainda conta com seus defensores, como é o caso de André Pederneiras, o “Dedé”, treinador da equipe Nova União, do Rio de Janeiro, que conta com José Aldo e Renan Barão. 
Dedé foi eleito o melhor técnico de MMA do planeta, em 2010. Segundo ele, o wrestling apenas garante ao lutador a opção de escolher se o combate acontecerá em pé ou no chão.

“Não existe uma arte marcial individual mais efetiva. Uma completa a outra e não tem como um lutador sobreviver no MMA sabendo apenas um estilo de luta, tem que ser bom em todos. No caso do wrestling, ele lhe dá a vantagem de decidir onde o combate vai acontecer. Mesmo assim, ainda acredito que, se um wrestler enfrentar um lutador de jiu-jitsu, o segundo vai vencer por finalização”, aposta Dedé. 

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