Com a medalha de ouro no peito, Yane Marques aguarda o início do Hino Nacional. A espera dura mais que o normal e os poucos presentes na Escola Militar em Santiago, no Chile, ficam constrangidos. Alguém puxa o coro e todos começam a cantar sem a música, até mesmo Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). A falha durante a premiação nos Jogos Sul-Americanos, no último sábado, retrata a carência que ainda sofre o pentatlo moderno.
A modalidade - uma combinação de esgrima, natação, hipismo, tiro e atletismo - ganhou projeção nacional com o bronze conquistado por Yane na Olimpíada de Londres, em 2012. E o resultado não foi isolado: a pernambucana faturou a prata no Mundial em Taiwan no ano passado e hoje ocupa a quarta posição no ranking da União Internacional de Pentatlo Moderno (UIPM).
Apesar disso, o investimento dos patrocinadores não condiz com o sucesso trilhado pela atleta. "Estou começando a pensar que o problema não é Yane, o problema é o pentatlo, um esporte pouco conhecido. No Brasil, as pessoas ainda não sabem o que é. Como investir em um esporte que de repente não te dá o retorno esperado?", disse a medalhista olímpica.
Para ela, a questão é ainda mais abrangente entre os atletas olímpicos, lembrando as recentes dificuldades enfrentadas pelo ginasta Arthur Zanetti, que fez um dia de greve por conta de salários atrasados, e de Maurren Maggi, que aderiu à plataforma de crowdfunding (financiamento coletivo na internet) para continuar no atletismo. "Percebo que isso não é um problema só meu. Teve o caso do Arthur se queixando da questão do patrocínio e teve a Maurren também. Esse é um problema do Brasil", lamentou Yane.
Outra preocupação da atleta é a falta de praticantes de pentatlo moderno no Brasil. As três representantes brasileiras que competiram no Chile são do Recife, o polo da modalidade. "Precisa ser muito mais difundido, muito mais treinado no País inteiro. Hoje somos bem carentes nesse sentido. Acho que o Brasil tem um material humano que a gente precisa trabalhar e explorar", analisou.
Exemplo para futuras gerações, Yane se coloca à disposição para contribuir para a formação de novos atletas do pentatlo moderno. "Uma vez aposentada, quero passar para esse pessoal que está começando tudo o que eu vivi e tudo o que eu aprendi para que eles pulem algumas etapas que eu tive de passar", contou.
O fim da carreira de Yane deve acontecer depois dos Jogos Olímpicos do Rio. "Acho que 2016 vai ser a minha última Olimpíada. Depois vou continuar treinando, mas não profissionalmente", revelou a pernambucana de 30 anos, tem grandes chances de fechar o seu ciclo com uma medalha de ouro. "Se eu conseguir reproduzir o que faço no treino, posso ter motivos para comemorar."