'Está todo mundo louco para voltar ao bar e ao restaurante', diz Paulo Solmucci Júnior

Lucas Borges
@lucaslborges91
10/07/2020 às 20:49.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:00

( LUCAS PRATES)

Um dos setores mais afetados pelo fechamento do comércio considerado não essencial em Belo Horizonte é o de bares e restaurantes. Diferentemente de segmentos que chegaram a reabrir na capital durante pouco mais de um mês, em uma tentativa de flexibilização, por parte da prefeitura, tais estabelecimentos estão fechados na cidade desde 20 de março – ou seja, prestes a completar quatro meses sem receber fregueses. 

O endurecimento das medidas de isolamento social adotadas pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD) no final de junho aumentou ainda mais o drama dos empresários e funcionários do setor, que seguem sem perspectiva para a retomada das atividades. 
Em entrevista ao Hoje em Dia, o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o mineiro Paulo Solmucci Júnior revela que desde o inicio da pandemia, mais de 5.500 estabelecimentos do segmento já fecharam as portas na Região Metropolitana de BH, e que mais de 40 mil funcionários perderam o emprego no período. 

Crítico à gestão do poder público na pandemia, Solmucci clama por um pacto entre as autoridades, os empresários e a população para a retomada das atividades em Belo Horizonte. 

Qual solução o senhor vê para a viabilizar a reabertura do comércio de Belo Horizonte?
O que propomos para BH é um grande pacto social, com os líderes da comunidade civil, empresariais, a prefeitura, a imprensa. Que todos façamos um grande investimento em passar para a população, seja lojista ou qualquer outro cidadão, as boas práticas que hoje são mundialmente consagradas. Tipo, não sair de casa se você estiver com qualquer sintoma de Covid, sair sempre de máscaras, não se aproxime de um estranho, um desconhecido a uma distancia inferior a um metro, para não aumentar a chance de se contaminar. Higienizar as mãos e os lugares de toque. Existe um conjunto pequeno, mas de muito êxito mundo afora, de procedimentos capazes de oferecer uma solução para esse momento que estamos vivendo. Onde não se investiu nesse pacto, ou morreu gente demais, ou, como no caso de Belo Horizonte, quebrou gente demais. No final das contas, vira as duas coisas. 

Quantos bares e restaurantes já fecharam na Região Metropolitana de Belo Horizonte desde o início da pandemia?
Tínhamos em março 22 mil estabelecimentos do setor, e pelo menos 5.500 já fecharam as portas. Já perdemos 40 mil postos de trabalho, e ficando fechados em julho esse número deve chegar a 60 mil na Região Metropolitana. É um dos piores resultados do Brasil. 

Quanto tempo o senhor acredita que será necessário para que o setor se recupere das perdas geradas nesse período de pandemia?
Tudo depende de como vai ser a retomada. A partir do momento em que se retoma a atividade, você começa nos 15 primeiros dias com faturamento na faixa de 10%, 15%. O primeiro mês fecha em torno de 30%. Temos histórias muito curtas de reabertura do comércio. A mais longa no Brasil é a de Santa Catarina. Quando se olha para fora do Brasil, você vê que o movimento está se recuperando um pouco mais rápido. O que tudo indica é que só devemos chegar ao faturamento previsto em dezembro. Vamos ter ainda uma caminhada de uns quatro meses após a reabertura contando prejuízos. 

Qual é a perspectiva das empresas do setor para 2021?
Quem sobreviver já chegará a dezembro deste ano – embora a gente entenda que o recuo do setor deva ser de 10%, na medida em que de 25% a 30% não devem mais reabrir – , encontrando para si um mercado suficiente para que sinta-se maior do que era antes da pandemia. Isso porque a oferta reduz e a demanda se estabiliza. Enxergamos que 2021, caso não haja uma segunda onda, deve ser um ano muito positivo para aqueles estabelecimentos que conseguirem sobreviver. Embora todos devam passar os próximos dois ou três anos pagando empréstimos e dívidas.

Que tipo de auxílio o poder público para esses comerciantes nesse período de crise?
A MP que permitiu suspender ou reduzir a jornada de trabalho em até 70% foi fundamental para evitar mais desemprego. O que não havia funcionado no governo federal e começou a funcionar agora: o governo errou demais nas linhas de crédito. Estamos com quatro meses de crise e só na semana passada que começou a se achar uma solução para o crédito. Nos últimos dez dias, emprestou-se quase R$5 bilhões, quando, em quatro meses, não tinha sido emprestado mais que R$2 bi. Já o Município e o Estado até agora não entraram com ajuda nenhuma. O máximo que falaram foi de adiar impostos por alguns meses. Do município, a gente precisa de uma ajuda para o vale-transporte. As empresas de ônibus estão vivendo um momento muito difícil no Brasil inteiro, em BH também. Vamos lá (prefeitura), compre o vale transporte e dê para os funcionários das empresas que ficaram fechadas pelo menos por um mês para ajudar quando houver uma retomada. Isso vai ser positivo para as empresas de ônibus, porque elas vão ter uma demanda, e muito positivo para as empresas. Outra ajuda que nós pedimos e que a PBH ainda não sinalizou é permitir o uso das calçadas das áreas públicas, sem cobrar, pelo menos por seis meses, como aconteceu muito na Europa e nos Estados Unidos.

E quanto ao governo estadual?
Do Estado, que ainda não compareceu até o momento, precisamos de ajuda em relação às contas de luz e de água. São empresas públicas (Cemig e Copasa), e estão todos com contas atrasadas. Poderia, talvez, pegar as contas vencidas nesse período e parcelar por 12 meses, sem juros. 

O senhor citou a necessidade de um ‘pacto social ‘ para viabilizar a reabertura do comércio em BH, mas no Rio, por exemplo, muita gente não tem respeitado protocolos de segurança. Teme que isso possa acontecer em BH?
Como eu disse, precisamos de educação, de campanhas explicando e sensibilizando a população. Não foi feito isso em nenhum lugar do Brasil, a não ser no Sul. O Rio poderia ter investido um pouco mais. Agora, o que acontece no Rio: aquele movimento no Leblon, no primeiro dia, ficou restrito àquela região. No dia seguinte, a população já estava mais comportada. O problema foi tratado da maneira que eu penso que deve ser e não como fizemos aqui em Nova Lima. Teve um problema, um comportamento inadequado da população, foi-se lá consertou o problema. No dia seguinte a região estava tranqüila. A abertura em São Paulo foi errática do ponto de vista do Estado, mas do ponto de vista da prefeitura foi excelente, vem tudo funcionando muito bem. Acho que não tem porque supormos que em Belo Horizonte não funcionaria bem também. 
 

Acredita que o interesse e o comportamento da população será diferente após a retomada?
Todas as pesquisas que fizemos no Brasil inteiro mostram que está todo mundo louco para voltar aos bares e restaurantes. O ser humano nasceu para socializar e o bar é o lugar perfeito para isso. 
O senhor e outros representantes do empresariado têm criticado a gestão de leitos hospitalares na capital, apontando-a como responsável pela saturação do sistema, causado pela Covid...
O grande desafio dessa crise sempre foi a gestão de leitos. Porque o vírus sempre foi um inimigo incontível. Você tem como conseguir espalhar ele no tempo, com objetivo de ajustar a capacidade do sistema de saúde. Sempre fui a favor de fechar (o comércio) e acho que fechou na hora certa. Acho, contudo, que a reabertura poderia ter sido feita antes. Quando se estava com o sistema de saúde com 15%, 20% de ocupação, você abriria aos poucos e poderia ocupar os 60%, 70% (de ocupação) e buscaria a imunidade de rebanho, com o conforto no sistema de saúde. 

Por fim, é seguro reabrir os bares e restaurantes em Belo Horizonte neste momento?
Temos absoluta certeza que sim. O nosso problema não está em não reabrir por falta de protocolo ou por culpa da população. Está por uma questão de mau planejamento (do poder público) que esperamos ver superado. 


 

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