“Ora (direis) ouvir estrelas. Certo perdeste o senso”. A poesia de Olavo Bilac vai encontrar, mais tarde, a de Murilo Mendes: “Há estrelas que veem, que ouvem/Outras surdas e outras cegas/Há muito mais estrelas que máquinas, burgueses e operários:/Quase que só há estrelas”.
Pois elas acabam de deixar a moradia dos poemas e do mundo onírico e caem mais perto de todos, sem exigir qualquer lirismo. A astrofísica não perdeu tempo e permitiu que homens ouvissem as estrelas, que conhecessem, finalmente, o grito do universo e comprovasse a teoria do grande Albert Einstein. A evolução dos telescópios é um trabalho quase silencioso, que não ocupa o noticiário das agências internacionais. Só se torna conhecido quando atinge o seu ápice, como recentemente.
Paixão pela Física eu tinha no colegial. Sim, sou do tempo do colegial, do segundo grau. Não curtia muito as aulas de Química, embora admirasse o professor Padre Capázio, o holandês que nunca sentia frio. Nem Biologia despertava em mim interesse em pesquisas extra-classe. Mas tinha fascínio pela Física, ainda que o Português, o gosto pela escrita, já houvesse definido meu destino. A mínima compreensão de uma lei do universo, a possibilidade de desvendar a lógica do que nos acontece neste planeta deixavam aquela menina que fui encantada.
Por isso, embora sem conhecer nada dos estudos atuais da astrofísica, foi com alegria que entrevistei o cientista mineiro que há 20 anos não vem ao Brasil, mas mantém contatos profissionais com equipes da UFMG. Antônio Claret dos Santos, entrevistado nesta edição do Página Dois, não é um nerd, alguém que dorme e acorda imerso em equações capazes de enlouquecer leigos como eu. Vivendo na Espanha e em conexão com os telescópios que ajudou a desenvolver e ficam também no México e na Nova Zelândia (captando o tempo todo imagens do céu infinito), também acompanha as políticas brasileira e internacional. Considera vergonhosa a forma como a Europa lida com os refugiados e, sobre a crise política por aqui, diz: “não aprovo a Dilma, não aprovo o Aécio, não aprovo o Moro”. E, sem querer, com um trabalho incrível e posicionamento político irreparável, acaba, no fundo, fazendo poesia com as estrelas.