Estudo mostra redução da anemia em brasileiros menores de 5 anos

Agência Brasil
10/12/2020 às 14:04.
Atualizado em 27/10/2021 às 05:16
 (Pixabay)

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No decorrer do primeiro semestre de 2021, o consórcio de instituições acadêmicas, liderado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), divulgará novos resultados do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani 2019), realizado sob encomenda do Ministério da Saúde. O estudo tem o objetivo de conhecer a situação de alimentação e de nutrição das crianças brasileiras até 5 anos de idade.

Serão abordadas deficiências de micronutrientes, dados antropométricos para saber como está a obesidade e nutrição nessa parcela da população, com informações detalhadas de alimentação. A partir de janeiro, será liberada uma sequência de relatórios técnicos. Os pesquisadores se encontram, no momento, em fase de análise de dados.

Um resultado preliminar do trabalho, sobre aleitamento materno, foi conhecido em agosto passado e, nesta semana, foram divulgados resultados parciais do estudo abordando anemia e deficiência de vitamina A na primeira infância. O estudo, inédito, mostrou queda de 65,5% na prevalência de deficiência de vitamina A e de 50% na de anemia em menores de 5 anos nos últimos 13 anos. O único dado disponível no ministério até então era de 2006.

Anemia

A coordenadora adjunta do estudo, nutricionista Inês Rugani, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), disse à Agência Brasil que a prevalência de anemia diminuiu 52%, passando de 20,9%, em 2006, para 10%, em 2019. A queda foi observada em todas as regiões brasileiras, à exceção da Região Norte, onde a prevalência de anemia aumentou de 10,4%, em 2006, para 17%, em 2019.

A maior redução foi observada no Sudeste (14,7%) e a menor no Centro-Oeste (1,6%). O Enani revela também que a anemia é mais comum entre crianças de 6 meses a 23 meses. Nessa faixa etária, a prevalência no Brasil foi de 18,9% e alcançou 30% para na Região Norte. Entre os 2 e os 5 anos de idade, a prevalência foi de 5,6%.

Vitamina A

Inês Rugani salientou que, no caso da vitamina A, a redução foi ainda mais expressiva: 65,5%. A prevalência da deficiência de vitamina A na faixa etária analisada caiu de 17,4%, em 2006, para 6% no Brasil. “A redução foi de quase dois terços”, disse a coordenadora adjunta. As maiores prevalências foram encontradas nas regiões Centro-Oeste (9,5%), Sul (8,9%) e Norte (8,3%) e a menor na Região Sudeste (4,3%). De acordo com o estudo, não houve diferença significativa, em termos estatísticos, entre as faixas etárias de 6 a 23 meses (5,4%) e de 2 a 5 anos (5,9%).

Em relação à anemia ferropriva em crianças até 5 anos de idade, o estudo indica resultado de 3,6% no país, em 2019. A maior prevalência foi registrada na Região Norte (6,5%) e a menor no Nordeste (2,7%). Da mesma forma que ocorre com a anemia, a anemia ferropriva é mais comum entre crianças de 6 a 23 meses (8%) do que na faixa etária de 2 a 5 anos (1,3%).

Inês Rugani esclareceu que o foco nas crianças menores de 5 anos decorre do fato de se tratar de uma fase especial da vida. “A primeira infância é uma fase em que os indivíduos têm grande vulnerabilidade, porque estão crescendo e se desenvolvendo. Os dois primeiros anos são fundamentais para muitas coisas que vão acontecer depois na vida da criança. O motivo que faz a gente estudar as crianças pequenas é que são mais vulneráveis, e entendemos como uma prioridade na agenda de saúde pública. Os cuidados de saúde e a boa alimentação são prioritários para garantir que as crianças se desenvolvam bem”, acrescentou Inês.

Prevenção

Para prevenir a anemia nas crianças, Inês afirmou que, em termos individuais, a recomendação é sobre alimentos ricos em ferro, um dos nutrientes importantes na prevenção, e alimentos ricos em vitamina A, como frutas, legumes e carne. ”Que a alimentação seja a mais saudável possível, evitar os alimentos ultraprocessados, as guloseimas, os alimentos prontos que não fornecem adequadamente esses nutrientes, e priorizar os alimentos in natura ou minimamente processados”.

A professora da Uerj lembrou que há também, em termos de políticas públicas no Brasil, programas de suplementação preventiva. São suplementos com vitaminas e minerais que as crianças usam para essas doenças. Inês disse que, com esses novos dados, o Ministério da Saúde poderá dar novo direcionamento a esses programas. Um grupo de trabalho, formado por pesquisadores de todo o país, está sendo criado para pensar os aprimoramentos das políticas. Ela destacou que a prevenção não tem a ver somente com os nutrientes propriamente ditos, mas com condições gerais de vida. “Conseguir renda suficiente, ter acesso à água e esgoto melhoram as condições gerais de vida e, também, esses agravos”.

Segundo a coordenadora, o Brasil teve uma diminuição importante da desnutrição nos últimos anos, que tem a ver com políticas públicas mais estruturantes. “Tem a ver com as pessoas estudarem mais anos, com acesso à assistência à saúde, ao pré-natal. É um conjunto de medidas estruturantes que garantem que as crianças fiquem melhores, inclusive em relação à anemia e à vitamina A”.

Na avaliação do coordenador nacional do Enani 2019, o pesquisador Gilberto Kac, as principais consequências desses déficits nutricionais, além da ocorrência de anemia, são de crescimento, baixo desempenho cognitivo, comprometimento do sistema imunológico e cegueira noturna.

Enani

O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil é a primeira pesquisa com representatividade nacional que avalia, simultaneamente, práticas de aleitamento materno, alimentação complementar e consumo alimentar individual, estado nutricional antropométrico e deficiências de micronutrientes em crianças menores de 5 anos, incluindo as deficiências de ferro e vitamina A. Entre fevereiro de 2019 e março de 2020, foram realizadas visitas domiciliares em 123 municípios brasileiros, totalizando 14.583 crianças menores de 5 anos.

Encomendada pelo Ministério da Saúde, a pesquisa foi coordenada pelo Instituto de Nutrição Josué de Castro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com financiamento do Ministério da Saúde e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Também participam da coordenação do estudo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e a Universidade Federal Fluminense (UFF).

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