Ex-porta-voz de Kadhafi é preso um ano depois da morte do ditador

Imed Lamloum - AFP
20/10/2012 às 15:51.
Atualizado em 21/11/2021 às 17:24

(IBRAHIM CHALHOUB/AFP)

TRIPOLI - As autoridades líbias anunciaram neste sábado (20) a prisão de um dos últimos colaboradores de Muammar Kadhafi, seu porta-voz Mussa Ibrahim, justamente no aniversário de ano da morte do ditador depois de oito meses de conflito armado. Poucas horas antes, as autoridades lamentaram o fato do país não estar "totalmente livre" do regime kadhafista, citando como exemplo a cidade de Bani Walid, acusada de abrigar pessoas fieis ao ex-presidente e que são procuradas pela polícia, e que é palco há vários dias de confrontos violentos.   "A prisão de Mussa Ibrahim pelas forças pertencentes ao governo líbio de transição aconteceu em uma barragem de Tarhouna", uma cidade entre Trípoli e Walid Bani, indicou um breve comunicado do governo enviado à imprensa depois de rumores persistentes desde a manhã.   Ibrahim está a caminho de "Trípoli, onde vai ser apresentado às autoridades para começar seu interrogatório", segundo o comunicado.   O vice-primeiro-ministro Mustafá Abu Chagour confirmou a prisão de Ibrahim em sua conta no Twitter, dizendo que "o criminoso Mussa Ibrahim foi preso e está a caminho de Trípoli".   Rumores circularam pela manhã sobre a detenção de Moussa Ibrahim e de outras duas figuras do antigo regime quando tentavam fugir da cidade de Bani Walid, que foi cercada por forças pró-governo.   Esta detenção coincide com o primeiro aniversário da morte do coronel Kadhafi, no dia 20 de outubro de 2011, depois de oito meses de conflito armado.   Também ocorre poucas horas depois de as autoridades reconheceram que "a libertação do país não foi plenamente alcançada em algumas áreas", de acordo com o presidente da Assembleia Nacional da Líbia, Mohamed al-Megaryef.   Em um discurso transmitido nesta madrugada, Megaryef traçou uma imagem sombria do período pós-Kadhafi, citando um "atraso e uma negligência" na formação do exército e da polícia, o controle das armas, e a não-integração de ex-rebeldes nas instituições do Estado.   O chefe da Assembleia Nacional também citou um atraso na reforma da justiça e a questão da reconciliação nacional.   Ele afirmou que esta situação permitiu "remanescentes do antigo regime no interior do país se infiltrar nos órgãos do Estado e de conspirar com aqueles que estão fora do país contra a revolução e sua liderança legítima".   Campanha pelo retorno à legitimidade   Para justificar a operação militar lançada contra Bani Walid, um dos últimos bastiões de Muammar Kadhafi, Megaryef afirmou que a cidade "tornou-se um abrigo para um grande número de fora-da-lei hostis à revolução e até mesmo mercenários".   "Esta não é uma guerra de extermínio ou de limpeza étnica como alguns dizem falsamente, mas uma campanha para o retorno à legitimidade e para restaurar a segurança e estabilidade", declarou.   Mais de uma dúzia de pessoas foram mortas em Bani Walid esta semana em atentados reivindicados por grupos de ex-rebeldes que operam em nome do Exército líbio.   Em seu discurso, Megaryef considerou que as Forças Armadas "são as legítimas autoridades", implicitamente abrindo caminho para um amplo ataque contra Bani Walid.   "As autoridades deram permissão para que as milícias exterminassem a cidade", disse Salem al-Ouaer, líder militar do maior grupo armado de Bani Walid, chamando a ONU e o ocidente para proteger os civis na cidade.   "Bani Walid é o alvo de violentos bombardeios desde esta manhã. A situação humanitária é muito ruim", disse à AFP.   O porta-voz do Chefe do Estado-Maior, Ali Chikhi, informou por sua vez que suas forças avançam em direção ao centro da cidade.   A ameaça de um ataque pesa há várias semanas sobre Bani Walid após a morte de um ex-rebelde de Misrata, sequestrado e torturado na cidade, o que agravou as tensões entre Misrata e Walid Bani, cidades vizinhas e rivais históricas que escolheram lados opostos durante o conflito no ano passado.   Além disso, homens armados atacaram um quartel neste sábado no oeste de Trípoli, de acordo com o exército e testemunhas, que não foram capazes de identificar os assaltantes.

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