Com duas graduações e uma pós, a administradora Cristiane Andrade Toledo Gontijo, de 38 anos, está desempregada desde 2013. O currículo turbinado, até agora, não foi suficiente para vencer a barreira do preconceito que afeta mulheres, principalmente mães como ela, e negros no mercado de trabalho belo-horizontino. Na capital mineira, a crise pesou mais para esses grupos do que para homens e brancos.
Segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, baseada em dados do terceiro trimestre de 2016, enquanto a taxa de desocupação foi de 10,9% entre os homens, para as mulheres foi de 12,2%.
Além de ser maior, o índice de desemprego entre as mulheres vem crescendo mais durante a crise do que entre os homens. Tanto que, na comparação com o terceiro trimestre de 2015, a taxa de desocupação aumentou 1,1 ponto percentual no caso dos homens e 3,1 pontos percentuais entre as mulheres em BH.
“Existe uma gama de explicações para essa diferença entre homens e mulheres. Uma delas é a visão da sociedade de que elas são mais frágeis e que devem ficar em um plano secundário no mercado de trabalho”, afirma o economista do Sistema de Pesquisa de Emprego e Desemprego do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Fernando Duca.
Outro aspecto que torna o mercado desigual é a maternidade. “Muitas empresas optam por não contratar mulheres que pretendem ter ou já têm filhos. Existe um medo de que a produtividade seja afetada”, afirma.
E é exatamente isso que Cristiane, mãe de dois filhos, ouve nas entrevistas de emprego. “Já me perguntaram até o que eu faria se estivesse no trabalho e meus filhos adoecessem”, conta.
Na primeira gravidez, quando trabalhava em uma construtora, foi demitida assim que voltou da licença-maternidade. Três anos já se passaram, ela já teve outro filho e ainda não conseguiu uma recolocação no mercado.
Por cor
Da mesma forma que as mulheres, os negros também sofrem mais com o fechamento de vagas imposto pela crise. Enquanto a taxa de desocupação entre os brancos passou de 7,2% para 8,9% em Belo Horizonte; entre os negros saiu de 11,1% para 14,2%.
Como se não bastasse a dispensa maior, os negros convivem com uma diferença de salários absurdamente grande. Segundo projeções do IBGE, o rendimento médio dos brancos na capital gira em torno de R$ 3.506. Já entre os negros é de R$ 1.874, uma diferença de 46,5%.
Nesse caso, segundo o economista Fernando Duca, a explicação também é o preconceito histórico. “É claro que existem recrutadores que não escolhem uma pessoa apenas por ela ser negra. Mas tem também uma questão histórica ligada à escravidão e à forma como o negro foi incluído no mercado de trabalho em cargos de menor destaque, o que acaba sendo perpetuado”, pondera.
Menos escolarizados são excluídos em Belo Horizonte
O mercado de trabalho na capital é também segregador em se tratando de escolaridade. Apenas 0,8% das pessoas que trabalham na capital não têm instrução ou possuem até um ano de estudo, de acordo com dados do IBGE.
Grande parte das vagas (69,6%) são ocupadas por pessoas com ensino médio completo, ensino superior incompleto e completo. Somente os que possuem diploma de curso superior ficam com 28,9% das colocações em Belo Horizonte.
Para o analista do IBGE, Gustavo Fontes, o espaço maior para os escolarizados se justifica, em partes, pelo perfil do mercado de trabalho na capital.
“A verdade é que BH é uma cidade de serviços. A indústria e a agricultura é que dão mais oportunidades para os menos escolarizados”, afirma. (Veja nos gráficos abaixo)
Outro reflexo da crise no mercado belo-horizontino é o aumento do trabalho temporário. Entre 2013 e 2016, o percentual de pessoas que trabalhavam com contratos de curto prazo passou de 7,2% para 10,4%.
Editoria de Arte / N/A