(James Lawler Duggan/AFP )
DAMASCO - O Exército sírio intensificou nesta quarta-feira (22) seus ataques contra os rebeldes em Damasco e Aleppo (norte), um dia depois de o vice-primeiro-ministro sírio ter declarado em Moscou que o regime estava disposto a discutir uma saída de Bashar al-Assad do poder no âmbito de uma negociação com a oposição. França e Estados Unidos reiteraram, em resposta às declarações de Quadri Jamil, que o presidente sírio, Bashar al-Assad, deve abandonar rapidamente o poder. O primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault, afirmou nesta quarta-feira que "o objetivo é alcançar as condições de uma transição política" por meio da saída do poder de Assad. Já Burhan Ghalioun, uma das principais figuras da oposição síria, rejeitou as declarações de Jamil, dizendo que se trata de uma manobra para ganhar tempo. "Cada vez que o regime quer ganhar tempo ele pede diálogo, mas em nenhum momento pensa em colocar fim à guerra contra seu povo", declarou Ghalioun. Em terra, os combates prosseguiam sem trégua nesta quarta-feira, e durante a tarde 77 pessoas já haviam morrido, segundo um balanço do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). Com o apoio de helicópteros e de artilharia pesada, as tropas sírias lançaram uma grande ofensiva em Kafar Soussé, a oeste de Damasco, e em seus arredores, que causou a morte de ao menos 22 pessoas, indicou o OSDH. Em Doummar, perto da capital, um atentado com carro-bomba matou três pessoas, disse o OSDH. A organização denunciou, por sua vez, a morte de 42 civis em Maadamiyat al-Sham, a 6 km de Damasco, muitos deles vítimas de execuções sumárias. O registro pode piorar, já que o Exército abriu fogo contra um cortejo fúnebre nesta cidade de 200.000 habitantes onde convivem cristãos, sunitas e alauitas. Em Aleppo, a aviação do regime bombardeou os bairros rebeldes da grande metrópole do norte da Síria, onde há um mês insurgentes impõem uma feroz resistência às tropas regulares. Os rebeldes afirmaram nesta quarta-feira que haviam tomado o controle de vários setores da cidade de Boukamal, perto da fronteira com o Iraque, indicou o OSDH. Segundo o OSDH, centenas de soldados estão mobilizados nesta cidade, dificultando o seu controle completo pelos insurgentes. O conflito sírio ameaça cada vez mais se propagar para o Líbano, onde, de acordo com fontes médicas e de segurança, nove pessoas foram mortas e 84 ficaram feridas desde segunda-feira em Trípoli, cidade do norte do país sacudida por combates ligados ao conflito na vizinha Síria. Nesta quarta-feira à tarde, um cessar-fogo foi decretado após uma reunião de personalidades em Trípoli, mas nove pessoas ficaram feridas em tiroteios esporádicos, que prosseguiam no início da noite, segundo fontes dos serviços de segurança. Uma pessoa ferida de manhã não resistiu aos ferimentos. As Nações Unidas pediram que a comunidade internacional apoie mais o Líbano frente aos riscos de desestabilização relacionados ao conflito sírio. Os enfrentamentos armados entre partidários e opositores do presidente Assad no Líbano deixam clara a necessidade de uma ação internacional, declarou ao Conselho de Segurança o responsável pelas questões políticas na ONU, Jeffrey Feltman. "Enquanto a crise na Síria piora, a situação no Líbano se torna precária e a necessidade de um apoio internacional ao governo e às Forças Armadas libanesas é cada vez maior", declarou Feltman durante uma reunião sobre o Oriente Médio. "As tensões internas e ligadas à segurança permanecem fortes e podem ser facilmente exacerbadas pelos eventos sírios", acrescentou.