Fantasma do racionamento: níveis dos reservatórios voltam a apresentar queda

Tatiana Moraes
tmoraes@hojeemdia.com.br
Publicado em 08/01/2017 às 21:34.Atualizado em 15/11/2021 às 22:21.

Depois de uma leve recuperação em 2016, os níveis dos reservatórios de energia do Brasil voltam a apresentar queda. Por enquanto, a retomada do consumo de eletricidade é reflexo do intenso calor que pegou os brasileiros de surpresa, causando sensações térmicas superiores a 60ºC no litoral.

Somada ao comportamento dos termômetros, a recuperação econômica prevista para o decorrer de 2017 e consolidada em 2018 pode pressionar ainda mais o sistema, trazendo o fantasma do racionamento novamente à tona.

Para os próximos dois anos, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) projeta colocar em operação 16.556,8 megawatts (MW) por meio da construção de usinas das mais variadas fontes.

A título de comparação, a hidrelétrica Itaipu, gigante localizada na fronteira do Brasil com o Paraguai, possui 14.000 MW de potência. Segundo levantamento do Hoje em Dia, os mais de 16 mil MW custarão aos cofres públicos algo em torno de R$ 98 milhões.

À primeira vista, o reforço parece ser suficiente para suprir o crescimento do consumo energético. Conforme o presidente da CMU Comercializadora de Energia, Walter Fróes, para cada 3% de alta da economia é necessário incrementar a matriz energética em 1.200 megawatts. Ou seja, sobrará (e muita) energia.

Bonito no papel

O problema, segundo Fróes, é tirar todos os projetos do papel. “É muita coisa. Não sei se é possível viabilizar todos os projetos”, pondera o especialista.

Além do incremento de potência no parque energético, em dezembro, o Operador Nacional do Sistema (ONS) reviu para baixo a previsão de consumo energético para 2017.

Consumo maior

Embora a previsão para janeiro seja de alta de 3,7% na demanda, para o acumulado do ano as estimativas são de recuo de 2 mil MW médios na carga, pondera o analista da Safira Energia Lucas Rodrigues.

Como resultado, o uso de eletricidade em 2017 deve cair de 68.252 MW para 66.088 MW médios, conforme levantamento do Operador Nacional do Sistema (ONS).

A estimativa de retração é reflexo da fragilidade da economia ao atravessar 2017. A partir de 2018, no entanto, as previsões são de melhora no ambiente financeiro. Portanto, um reforço do sistema é imprescindível, dizem os especialistas.

Vale lembrar que nos últimos anos os alertas de racionamento foram constantes. Em 2016, a chuva voltou a dar o ar da graça entre outubro a abril, intervalo do ano chamado de período úmido. Depois, os níveis dos reservatórios voltaram a cair.

Reservatórios

Em janeiro de 2017, o nível médio dos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste, que respondem por 70% da geração de energia do país, ficou 25% mais baixo do que no mesmo período do ano passado.

Embora dezembro tenha chovido em abundância, janeiro ainda está abaixo da média histórica. E não é necessário apenas que chova. Precisa chover no local certo: no Triângulo Mineiro, o que não tem acontecido.

O ex-conselheiro de Furnas e diretor do Instituto de Desenvolvimento do Setor Energético (Ilumina), Roberto D’araújo, afirma que, por ter maioria de hidrelétricas, o sistema brasileiro é naturalmente dependente de água.

Ele destaca, porém, que gastar os reservatórios em demasia e poupar as térmicas é um risco grande. “A dependência tem que ter um limite seguro. É necessário muita prudência”, diz.

Subsistemas podem estar superestimados

O Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), o Operador Nacional do Sistema (ONS) e a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) iniciaram no primeiro dia útil do ano, 2 de janeiro, uma análise no subsistema Sudeste e Centro Oeste do país. Há suspeitas de que ele esteja superestimado.

Isso significa que o subsistema pode não ser suficiente para abastecer a população pelo período estimado. “Como os reservatórios estão conectados ao Sistema Interligado Nacional (SIN) todo o país estaria ameaçado”, observa o ex-conselheiro de Furnas e diretor do Ilumina, Roberto D’Araujo.

Desse forma, é possível que as projeções realizadas pelo governo para operar o sistema, como tomar a decisão de ligar ou desligar térmicas, aumentando ou diminuindo a tarifa, não estejam corretas.

Questionado sobre a possibilidade de a bandeira verde ter sido precipitada, reduzindo a tarifa, o ex-conselheiro de Furnas, Roberto D’Araújo, afirma que só no futuro será possível saber. Mas ele não descarta que a redução na tarifa tenha sido uma decisão política.

“Em uma visão pessimista, o governo deveria voltar com a bandeira vermelha. Vai ficar mais caro, mas vai evitar o pior. Alguma coisa está muito errada no sistema”, alerta.

Em nota, os órgãos que irão fazer a auditoria dizem que a redução na Energia Armazenada Máxima para o sistema foi detectada durante o processo de elaboração do Programa Mensal de Operação (PMO), divulgado pela ONS.

“Foi identificada ainda em primeira análise que a diferença estava nos resultados dos Reservatórios de Energia Equivalente (REE) do Sudeste e do Paraná, mais especificamente das usinas das bacias dos rios Paraíba do Sul e do Alto Tietê, onde são observadas operações de transposição de vazões”, diz o texto.

Ainda de acordo com o comunicado, o diagnóstico será divulgado nos sites das instituições assim que ele for concluído.

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