Fazendo justiça com Mano Menezes

Publicado em 01/08/2017 às 19:33.Atualizado em 15/11/2021 às 09:52.

Todo sistema tático tem, no papel, suas falhas. Pontos em que, comparativamente, teoricamente, perde em relação a outros. O 4-4-2 com losango no meio, por exemplo, peca por não oferecer duas peças de lado ao desenho inicial. Já o 4-2-3-1, na prancheta e/ou na prática, tem chances maiores de ocasionar desvantagem numérica pelo centro quando seus adeptos enfrentam esquadrões com um trio de volantes. E por aí vai... Como futebol não é totó, cabe ao treinador nortear sua equipe para se movimentar de modo a compensar esses possíveis defeitos.

Desde que chegou ao Cruzeiro, em ótima medida, Mano conseguiu, com Robinho, contemplar com competência uma ideia que serviria para ilustrar o quadro pintado acima. E, acompanhando in loco a partida da Raposa frente ao Vitória, no último domingo, algo que já vislumbrava consolidou-se cristalinamente: como a citada peça faz falta na engrenagem celeste em termos táticos!

Na formação titular do escrete cinco estrelas, Cabral é o segundo homem do meio. Claramente, sua incumbência é atuar à esquerda do primeiro volante, apoiando o ataque sempre entre o centro e a ponta canhota. À frente do argentino, vem a trica de armadores, atletas de ligação: Robinho pela direita, Alisson pela esquerda (Thiago Neves ou Arrascaeta podem se adaptar por ali, para jogarem juntos), e o camisa 10 flutuando por trás do “falso 9”, Rafael Sóbis. Tendo em vista que o segundo volante cai sempre pela esquerda, o que faz Mano Menezes, inteligentemente, para não existir um vazio no que seria exatamente o mesmo labor de Cabral, só que do lado oposto? Guia Robinho para que ele seja uma espécie de dois em um: o cara da beirada, pela direita – grossíssimo modo, o ponta –, e o híbrido de volante e meia que preenche os espaços, faz a ligação entre o meio e o ataque, digamos, no setor “centro-direita” – ou seja, à direita de Henrique, mas não completamente pelo flanco. De novo numa espécie de redução, poder-se-ia dizer que Robinho seria, pelo lado direito, uma mistura do que Cabral e Alisson fazem pela esquerda: ocupa a faixa entre centro e beirada como o primeiro, e faz a extremidade como o segundo.

Enfrentando uma retranca como a do Vitória, com o intento de pressionar, amassar o oponente, claro, o Cruzeiro adiantou suas linhas. Tendo em vista, contudo, que – na escalação inicial – Élber e Sóbis davam amplitude pelas beiradas, Thiago Neves construía por dentro, claramente mais adiantado do que os volantes, e Cabral fazia o elo entre meio e armadores/ataque com tendências a cair pela esquerda, quem “levaria a bola”, executaria trabalho similar ao do argentino, porém com propensão a se aproximar da direita? Élber não tem essa característica. É um atacante/ponta mais “de raiz”. Se Mano o tira, e coloca um volante mais típico – Hudson e Romero chegaram a cumprir esse labor –, pode funcionar, e, ao contrário do que alguns “especialistas” diriam, o esquema não mudaria – e o time não ficaria “defensivo”. Mas é inegável que esses jogadores não têm a mesma completude de Robinho; no mencionado papel duplo, principalmente para a parte de se apresentarem como o meia-atacante nitidamente pela direita, possuem menos cacoete do que o titular da posição.

É preciso ser justo com Mano: os desfalques vêm atrapalhando num patamar descomunal, muitíssimo acima da média. O elenco do Cruzeiro é muito bom. Foi e segue sendo subestimado pela esmagadora maioria da imprensa. Não há no Brasil, todavia, plantel que passe impune à quantidade e ao tipo de ausências que a Raposa quase sempre tem. Faço um convite ao leitor: quando o Cruzeiro jogou mal com o que, eu considero, sua espinha dorsal – Romero e Robinho pelo meio, Sóbis mais adiantado, e, entre Alisson, Thiago Neves e Arrascaeta, pelo menos dois disponíveis? No primeiro tempo contra o Palmeiras, com um desenho nessa linha, 3 a 0. Saíram Romero e Robinho e (...)? 3 a 3.

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