Feiras driblam crise: pequenos comerciantes criam alternativas em BH ento

Heraldo Leite
hleite@hojeemdia.com.br
Publicado em 30/06/2017 às 22:00.Atualizado em 15/11/2021 às 09:20.
 (Divulgação)
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A cada semana, pelo menos, uma feira reunindo pequenos artesãos, chefs amadores de cozinha, mestres cervejeiros de final de semana e músicos diletantes tem sido organizada em todas as regiões de BH. Alternativa para quem busca complementar o orçamento ou até mesmo garantir o sustento, as feirinhas – como são mais conhecidas – estão conquistando novos espaços e cada vez mais interessados.

“Nos últimos meses só vem aumentando o número de pessoas que buscam sobreviver do que sabem fazer, sejam pequenos artesãos ou músicos que nunca tocaram na noite. É um claro reflexo da crise”, atesta o músico Aleks Cabral, produtor de um destes eventos.

“A carteira de trabalho assinada vem há dois anos em um processo de queda. Foram mais de 2,7 milhões de postos de trabalho, então apesar da desaceleração da desocupação, fica claro que essas pessoas estão migrando para a informalidade”, justifica o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.

Roupas, sapatos e acessórios dividem espaço com artesanato, comidas típicas e cervejas artesanais

Organizadora de outra destas feirinhas – a Feira Apetrechos, no bairro Castelo – Dina Gaudereto também testemunha o aumento na procura. “Observo que há muitas pessoas desempregadas e que buscam alternativas para sobreviver. A galera quer trabalhar”, ilustra. A próxima edição – a quinta, desde dezembro do ano passado - da Apetrechos será no próximo dia 8. E a expectativa é reunir, pelo menos 80 expositores. “E já temos fila de espera”, acrescenta Dina Gaudereto.

Dina conta que tudo começou quando, cansadas da incerteza da venda de casa em casa e dos desagradáveis calotes, ela se juntou com duas colegas e tiveram a ideia de juntar outros comerciantes em um só ambiente. Olívia Fernandes e Janaína Simonini toparam a empreitada e a organização que começou em um aplicativo de WhatsApp hoje é praticamente uma atração na região.

Além das roupas e acessórios com preços mais acessíveis, a Apetrechos conta com barracas de alimentação, nas quais o visitante pode escolher entre iguarias japonesas, mexicanas e colombianas. São imigrantes daqueles países que exibem seus dotes culinários como forma de aumentar seus rendimentos.

O evento de Aleks Cabral leva o nome de Feito à Mão e tem atuado de forma itinerante. Passou pela região Centro-Sul, Pampulha e Barreiro sempre priorizando as pessoas de cada região. “Procuramos apostar na gastronomia, com comidas típicas, cerveja artesanal e músicos. Sempre promovendo gente da região”, afirma Aleks. Seu próximo evento, no dia 22 de julho, deve contar com pelo menos 20 expositores, também no Castelo.

Segundo técnicos do IBGE, é cada vez maior o número de trabalhadores que estão migrando para a informalidade

Instabilidade no país leva empreendedores a encerrar atividades

Outro reflexo da crise é o número de comerciantes que foi obrigado a encerrar suas atividades formais e partir para a comercialização direta nas feirinhas.Uma das organizadoras da Feira Apetrechos, Dina Gaudereto conta que uma comerciante (que pediu para não ter seu nome divulgado) precisou fechar sua loja no Centro de BH.

Como não tinha condições de quitar os débitos trabalhistas, repassou uma parte do estoque a uma funcionária. Mediante um contrato extra-judicial, a transação foi feita e a ex-empregada, satisfeita, participou de duas edições da Apetrechos garantindo seu pagamento.

Da Feito à Mão, Alexks Cabral também demonstra sensibilidade para o atual momento e revela que em suas feiras itinerantes, sempre três vagas – uma para a gastronomia e duas para artesanato – são disponibilizadas para pessoas da região e de comprovada carência.

“Estamos organizando uma feira em Casa Branca (distrito de Brumadinho, na Grande BH), no próximo dia 29. E a prioridade é para expositores da região”, informa.

Dina diz que gostaria de não ter de cobrar pela participação. E espera abrir o leque de parcerias. Hoje uma taxa de participação serve para cobrir as despesas com seguranças, faxina, músicos e os responsáveis pelo espaço infantil – com monitores e contadores de história.

“Nossa intenção é que ninguém pague nada. Estamos trabalhando para conseguir mais parceiros e aliviar a taxa de cobrança, o que vai aumentar o ganho dos expositores”, afirmou, sem divulgar o valor da taxa de participação.

Aleks Cabral disse que a opção por lugares fechados é restrita a Belo Horizonte, já que a Prefeitura não permite a realização de feiras sem licitação. Mas, que em outras cidades, com legislações diferentes, os expositores podem trabalhar em espaços públicos.

“Por isso sempre optamos por dar um aspecto cultural às nossas feiras, além, do aspecto comercial. Uma forma de prestigiar o que as pessoas fazem quase que despretensiomente. Daí o nome “Feito à Mão”, explica um dos idealizadores.

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