TERESÓPOLIS – “Como você poderia resumir a pessoa do Felipão”? Essa foi uma pergunta recorrente aos jogadores na Granja Comary, em Teresópolis, no Rio de Janeiro, local dos treinos da Seleção nesta Copa do Mundo. As respostas vinham sempre reforçadas por uma determinada palavra: “paizão”. Sim, a Família Scolari existe. Não foi somente outro rótulo criado em meio a uma disputa de Mundial, no caso o de 2002, na Coreia de Sul e Japão, e que persistiu em 2014. O jeito marrento de Luiz Felipe Scolari, muitas vezes, camufla os laços de amizade que o treinador cria com seus comandados.
A confiança do gaúcho junto aos seus atletas impressiona. Não é à toa que durante a divulgação dos 23 nomes que disputariam o torneio canarinho ele tenha dito “que iria até o inferno” com os campeões da Copa das Confederações do ano passado.
A prova mais recente dessa relação próxima é Oscar. Perto do nascimento da filha, o meia não rendeu nos treinamentos e amistosos – diante de Panamá e Sérvia – antes da estreia na Copa. Falava-se que havia se apresentado “baleado”, por causa da dura temporada no Chelsea, da Inglaterra. A reviravolta aconteceu contra a Croácia, em São Paulo, quinta-feira passada, na abertura do Grupo A.
“O Oscar foi espetacular. Todos sabemos que ele é esse jogador, não iria desaprender de um dia para o outro. Só precisava que eu continuasse acreditando nele, como sigo acreditando. Foi maravilhoso, excelente”, declarou Felipão, depois da vitória por 3 a 1.
Carinho
A partir de agora, o “carinho” de Scolari terá de recair sobre dois nomes em especial. Hulk e Paulinho são peças fundamentais no esquema tático do treinador.
O meia-atacante, além de avançar, ajuda na marcação. O volante deve aparecer como homem surpresa. Porém, frente aos croatas, não renderam o esperado.
Ambos até passaram pela zona mista do Itaquerão abatidos. Portanto, precisam se destacar nesta terça-feira (17), contra o México, às 16h, no Castelão, em Fortaleza, pela segunda rodada a chave, para não correrem risco de perder a titularidade. Essa é a primeira Copa de Hulk e Paulinho, que não têm a mesma “experiência” do goleiro Julio César e do lateral Daniel Alves, os outros criticados da turma. Só vale destacar que Hulk virou dúvida, após sentir dores na parte posterior da coxa esquerda no treinamento desse domingo (15).
Confiança
Felipão já recuperou jogadores de renome com uma competição importante prestes a começar. Ronaldo chegou à Copa de 2002 questionado devido à sequência de lesões e cirurgias nos joelhos. Scolari o bancou. O pentacampeonato coroou a escolha.
Situação parecida viveram os atacantes Fred e Neymar, antes de a bola rolar na Copa das Confederações de 2013. O motivo não era contusões, mas a irregularidade na Seleção. Novamente, Felipão deu um voto de confiança aos atletas, que arrebentaram e levantaram o troféu.
Torneios de tiro curto coroaram a carreira
No tarô, a carta Rei de Copas é aquela que mostra segurança de julgamento. O idealismo também faz parte das suas características. Luiz Felipe Scolari se enquadra bem na mística do baralho.
O técnico da Seleção construiu a carreira ao colecionar conquistas de “tiro curto”, as copas, se apegando à motivação dos grupos e às escolhas corretas. O hexa na Copa do Mundo no Brasil consagraria de vez o estilo do gaúcho.
“Ele consegue formar um grupo forte, unir todos na mesma direção, em busca do objetivo. É um verdadeiro líder”, descreveu bem o ex-craque português Luís Figo, que esteve em Teresópolis recentemente. O lusitano trabalhou com Scolari no combinado de Portugal, de 2003 a 2008.
Ponto alto
O ápice da carreira de Felipão foi na trajetória do pentacampeonato de 2002, na Coreia do Sul e Japão, quando surgiu a expressão “Família Scolari”, tamanha a união do elenco da Seleção. A história se repetiu na Copa das Confederações de 2013, já com a turma de Neymar.
“Gosto do Felipão. Ele conhece muito de futebol e sabe bem a forma de chegar nos nossos jogadores. Sabe como extrair 100% de cada um e tem essa capacidade de motivador. Tem capacidades fundamentais para um técnico de Seleção”, elogiou o parecido Bernardinho, treinador da seleção masculina de vôlei.
Apostando na fama de “pé quente” de Felipão em copas, a Federação Portuguesa de Futebol o buscou em 2003. Os esperados títulos não ocorreram, mas o brasileiro viveu momentos inesquecíveis na “terrinha”. Portugal ficou com o vice-campeonato da Eurocopa de 2004, em casa, e o quarto lugar na Copa do Mundo de 2006, na Alemanha.
“Tenho a honra de estar todo dia ao lado do Felipão. Desde pequeno eu o acompanho. Sugo o máximo da experiência dele, como também levo para o lado pessoal. Espero que possa puxar o lado vencedor dele e vencer essa Copa”, diz Neymar, estrela da Seleção.