Festival de Arte Negra de BH propõe reflexão sobre as conexões e influências da cultura bantu

Izamara Arcanjo
Especial para o Hoje em Dia
04/12/2021 às 09:31.
Atualizado em 08/12/2021 às 01:12
 (Reprodução)

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“Muvuca de Pretuntu” é o conceito que permeia toda a 11ª edição do Festival de Arte Negra de Belo Horizonte – (FAN BH), que começa neste sábado (04) e vai até o próximo domingo (12). Polifônico, evento propõe uma reflexão sobre as conexões e influências da cultura africana bantu na formação da identidade brasileira e suas relações com Minas Gerais, segundo o artista plástico, pesquisador e um dos curadores do festival, Froiid.

“Os bantos tiveram participação de destaque na formação do povo brasileiro, inclusive na linguagem, e, por isso, várias palavras do português falado no Brasil têm origem na língua bantu. Muvuca é uma delas e significa agrupamento, ajuntamento, uma bagunça ruidosa”, explica.

O artista conta que a temática do FAN deste ano parte do pressuposto de que mesmo não estando em um momento em que a aglomeração física seja permitida, sempre é possível “muvucar” ideias e diversas formas de cultura, integrando África e Brasil.

“Nesse momento tão difícil, em que a pandemia de Covid-19 não nos permite estar muito próximos, o FAN chega trazendo uma aglomeração de ideias, conceitos, diversas pessoas de cidade diferentes. É a potência da união de diferentes artistas que nos permite transcender todas essas dificuldades. É a cultura nos salvando mais uma vez, esta é nossa proposta”, pontua Froiid.

Ainda segundo o curador, o termo “ntu” que forma a palavra “pretuntu” e que compõe o nome do festival, também tem origem no bantu e significa “o princípio”, a origem das coisas. Assim como o FAN, “ntu” retrata a união do povo preto. 

“São artistas de origem diferentes, mas que se juntam e, por isso, é imprevisível saber o que vai sair da dramaturgia, da música, das linguagens das muvucas”, garante o curador.

Muvucas artísticas 

O desejo de aproximação, reflexões, trocas de experiências e de afetos durante o FAN-BH se dará a partir de processos de criação colaborativos, chamados “Muvucas Artísticas’’. Aline Vila Real é diretora artística do festival e diretora de Promoção das Artes da Fundação Municipal de Cultura. Segundo ela, o FAN vai congregar mais de 30 nomes da arte negra do Brasil e quatro africanos.

“Nas Muvucas Artísticas a criação acontece no encontro entre atores, instrumentistas, cantores, dançarinos, artistas do circo, rappers, artistas visuais, roteiristas, em uma explosão de potências negras criativas”, afirma.

Vila Real frisa que as Muvucas incluem artistas convidados e outros selecionados no processo das inscrições realizadas em outubro. “Os muvucandes (como são chamados os artistas durante o FAN) apresentarão espetáculos inéditos em teatros e nas ruas da capital durante o festival, que vai mais uma vez se colocar como palco e espaço fomentador de novos nomes da cena cultural, da experimentação e da criação na arte negra”, conclui a diretora.

‘Muvuquinha’ contempla arte para crianças e adolescentes

Apesar de os espetáculos serem abertos a todos os públicos, o FAN BH 2021 não deixou de fora da programação momentos mais voltados para crianças e adolescentes. 

O chamado “Muvuquinha” terá espetáculos para o público infanto-juvenil no próximo sábado (11/12) e contará com a “Makamba Brincante”, que traz jogos e brincadeiras brasileiras e africanas, além do “Cortejo Boi Livre”. 

De acordo com Sérgio Pererê, compositor, instrumentista e pesquisador das manifestações afro-brasileiras, os dois eventos serão momentos nos quais os mais jovens estarão longe das tecnologias e mais próximos das brincadeiras que têm traços ancestrais. “O boi livre, por exemplo, é comandado pelo mestre Faria, que tem vasta experiência como brincante. A presença do boi é uma herança africana muito forte e faz parte também da cultura popular em Minas, como nas tradições dos reinados”, explica Pererê, que também é um dos curadores do FAN 2021.

No domingo (12), a atriz e contadora de histórias Mafuane Oliveira apresenta Kianda e outros contos de Kalunga. Pererê explica que Kianda é uma divindade das águas do povo de Angola. “De modo mágico, ela é guardiã das chaves e quando ela abre uma porta, saem todas essas histórias do povo preto”, diz.

Ainda de acordo com Sérgio Pererê, Mafuane se apresenta na companhia do artista Alysson Bruno, que faz a costura com a contação de histórias. “A nossa intenção não é dar uma aula de línguas bantu, mas apresentar uma filosofia de vida. Uma das coisas muito importantes nessa cultura, nessa forma de ver o mundo, é que não há distanciamento entre quem conta história, aquele que dança e o artista que toca. Sempre foi nosso objetivo fazer um festival com característica mais horizontal, que prime pela arte, pelos encontros de múltiplas vozes”, conclui.

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