Em três anos, o número de alunos na universidade com Financiamento Estudantil, o Fies, aumentou mais de dez vezes e chegou a 893 mil em 2013. Só no primeiro semestre, 327 mil contratos foram firmados, o que representa 87% do montante de 2012. O Ministério da Educação (MEC) espera que o ano termine com 1 milhão de alunos.
O salto vertiginoso se deve a facilitações nas condições de financiamento e também à postura ativa de instituições particulares em cooptar alunos pelo programa. Ao mesmo tempo que o Fies resulta no maior acesso de estudantes ao ensino superior, é também tido pelas instituições privadas como sinônimo de ganho certo e queda nos calotes de alunos.
O índice de inadimplência nas instituições caiu de 8,46% em 2011 para 8,43% em 2012 - na contramão da inadimplência das pessoas físicas no Brasil, que teve alta de 7,7% para 8% no período. Os dados são do Semesp, o sindicato paulista das mantenedoras das faculdades.
O grande salto nas contratações do Fies foi a partir de 2011, ano que passaram a valer as novas regras anunciadas no ano anterior - como a queda nos juros, ampliação de carência e abertura para contratação em qualquer momento do ano.
Entre 2011 e 2012, o número de financiamento dobrou, chegando a 599 mil no fim do ano passado. Mas a expansão do financiamento continua e os contratos do primeiro semestre já superam em 32% os do mesmo período de 2012. Os contratos representaram R$ 29,1 bilhões de 2010 a 2012.
Oportunidade
O vendedor Rudy Monteiro, de 30 anos, diz nunca ter tido a oportunidade de cursar faculdade. Virou pai novo e o orçamento sempre ficou apertado. "Eu pago mais de R$ 500 de escola para meu filho, de 10 anos, mais as despesas. Fica difícil pagar mensalidade", disse ele, no 2.º ano de Marketing, com financiamento integral. "Pagar depois de formado ajuda, acho que vou conseguir um bom emprego mais fácil."
O nascimento da filha quando Thiara Mota tinha 18 anos também colocou na gaveta o sonho de faculdade. Mas, no meio do ano passado, ela conseguiu fazer a matrícula no curso de Processos Gerenciais, de duração de 2 anos. "Sempre quis fazer faculdade, mas estava difícil pagar um curso e educar minha filha. Mas nunca desisti e agora que ela está grandinha, já é possível", diz ela, hoje com 25 anos.
Thiara já conseguiu comemorar outras conquistas. No final do ano passado, ela foi promovida na administradora em que trabalha. "Quando for começar a pagar, já vou estar formada, espero que ganhando mais e vou procurar fazer uma pós."
Segundo o diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, o novo Fies, de 2010, é um "divisor de águas" - tanto para os alunos quanto para o setor. "O financiamento ajuda quem não se encaixa No ProUni (bolsa para baixa renda), mas não tem dinheiro para arcar com mensalidades nem teve oportunidades para concorrer em universidade pública", diz. "Para o setor, é um grande instrumento. Se o estudante deixa de pagar, a escola já oferece o Fies."
Grandes grupos educacionais têm surfado nesta onda. O grupo Anhanguera, por exemplo, fechou o primeiro trimestre com 87 mil contratos.
O presidente da Federação dos Professores de São Paulo (Fepesp), Celso Napolitano, diz que é importante ter jovens mais pobres em maiores níveis de escolaridade, mas é necessário acompanhar com atenção os repasses de recursos para as instituições. "Quem não quer cliente cativo e receita certa? Já há componente de qualidade (para a instituição participar), mas seria importante ter outros critérios de qualidade." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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