A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) lançou nesta segunda-feira (19), com apoio da Embaixada do Reino Unido, um guia com recomendações para mitigar os efeitos da pandemia da Covid-19 na população indígena, nas favelas e na desigualdade de gênero.
O guia foi elaborado por pesquisadores do Observatório Covid-19 da Fiocruz, que ressaltam que "a pandemia tem mostrado de forma clara as grandes desigualdades que atingem a população brasileira em todos os níveis".
O lançamento foi realizado na data em que é comemorado o Dia do Índio
Denominado "Ações e políticas públicas para conter a Covid-19 e seus impactos sociais", o material é apresentado como "um guia para gestores públicos sobre melhores práticas e iniciativas baseadas em evidências para enfrentar a doença e seus efeitos nocivos sobre populações marginalizadas durante e após a pandemia". As orientações podem ser acessadas na página da Fiocruz.
Povos indígenas
O lançamento foi realizado na data em que é comemorado o Dia do Índio e alerta que a pandemia chegou aos povos indígenas em um momento "de fragilização da política de saúde indígena".
"Agora há dois invasores contra os quais os indígenas precisam lutar: os de sempre, que querem tomar seus territórios e, muitas vezes, se apropriar de sua mão de obra, e o vírus", diz o texto, que aponta subnotificação dos registros de mortes de indígenas por Covid-19, já que, entre outros problemas, secretarias estaduais e municipais nem sempre informam a variável cor ou raça nos atendimentos e notificações.
A análise referente aos povos indígenas no guia é resultado de um trabalho desenvolvido pelas pesquisadoras Ana Lúcia Pontes e Daniela Alarcon, ambas da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). Segundo dados do Comitê Nacional pela Vida e Memória Indígena, até a sexta-feira (16), a Covid-19 fez 1.038 vítimas nos povos indígenas, nos quais foram registrados mais de 52 mil casos.
Entre os motivos que aumentam a vulnerabilidade dessa população à Covid-19 está o racismo, a invisibilidade e a elevada prevalência de desnutrição, anemia e doenças infecciosas como malária, tuberculose e hepatite B. Também têm sido mais frequentes nessa população doenças crônicas como hipertensão, diabetes e doenças renais. A falta de acesso a saneamento básico e o compartilhamento de objetos de uso pessoal agravam a situação, já que dificultam a adoção de medidas de prevenção nas aldeias.
Além dos óbitos, o guia destaca que os riscos impostos à população idosa faz com que boa parte das vítimas nas comunidades seja de anciãos, que têm um papel central na transmissão da cultura das tribos. "Nesse sentido, é como se a pandemia estivesse enterrando o passado desses povos junto com seus mortos, suas bibliotecas vivas. Suas mortes vão muito além da tragédia local e familiar".
O guia traz 13 recomendações para reduzir a vulnerabilidade dos povos indígenas à pandemia. Entre elas estão melhorar a qualidade da vigilância da pandemia e a testagem; conter as invasões e proteger os povos isolados e de recente contato; e fortalecer a atenção primária nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs).
O guia também pede que as autoridades ouçam os povos indígenas e suas lideranças. "Os conhecimentos locais são essenciais para identificar dificuldades e promover ações coordenadas que sejam eficientes localmente. Por isso, as comunidades, famílias e lideranças precisam participar em todas as etapas do processo de formulação e implementação de qualquer ação de enfrentamento da doença".
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