Folia sem desperdício: catadores trabalham no Carnaval e movimentam indústria da reciclagem

Rafaela Matias
01/03/2019 às 22:35.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:48

(Maurício Vieira )

Além de aquecer o comércio e garantir a ampliação da ocupação em hotéis, apartamentos e hostels em Belo Horizonte, o Carnaval deixa otimista também a indústria da reciclagem na capital mineira.

Somente em latinhas, devem ser recolhidas neste ano 8 toneladas, o dobro do contabilizado após a folia do ano passado, conforme a rede Cataunidos. Considerando garrafas pets e copos plásticos, o total de material reciclável coletado pode chegar a 12 toneladas. 

Além da indústria, que reabsorve esses produtos e consegue aumentar os lucros, os cerca de 400 catadores que trabalham nas ruas comemoram a oportunidade de ter uma renda extra. 

“É um momento histórico, porque vários desses catadores foram contratados pela prefeitura de Belo Horizonte para fazer a coleta, o que torna o trabalho mais formal”, afirma Vilma da Silva Estevam, presidente da Cooperativa dos Trabalhadores e Grupos Produtivos da Região Leste (Coopersol Leste) e mobilizadora da rede Cataunidos. 

Cada catador recebe, em média, R$ 4,50 pelo quilo da lata de alumínio, o equivalente a 74 unidades. Já os autônomos, que não foram contratados pela prefeitura, devem ganhar cerca de R$ 3,50. Garrafas pet (R$ 2,80), copinhos de plástico (R$ 0,80) e vidro (R$ 0,07) valem menos, mas também serão reaproveitados. 

Segundo a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), a lata de alumínio é o material reciclável com maior valor agregado. O preço pago pela indústria por uma tonelada é, em média, de R$ 4 mil.

Em 2017, 97,3% do total das latas de alumínio disponibilizadas no mercado brasileiro foram recicladas, o equivalente a 295,8 mil toneladas. Conforme a Abralatas (Associação Brasileira de Produtores de Lata de Alumínio para Bebidas), o índice se mantém acima dos 90% desde 2004, colocando o país entre os líderes mundiais da reciclagem dessa embalagem.

Indústria
Para Guilherme da Mata Zanforlin, analista ambiental e especialista em resíduos sólidos do Sistema Fiemg, eventos como o Carnaval ajudam a movimentar ainda mais a indústria de reciclagem.

“Os eventos de grande concentração de público, como o Carnaval, fomentam o setor, pois geram aumento da receita dos catadores e das cooperativas, além de garantir mais matéria-prima para a indústria”, afirma 

Segundo ele, a reciclagem também gera economia. O processo de reaproveitamento do alumínio, por exemplo, consome apenas 5% da energia elétrica necessária para produzir a mesma quantidade de alumínio pelo processo primário. 


Em 2018, 70% do material reciclável foi parar no aterroA boa expectativa do setor de reciclagem neste ano é fruto da reorganização do que não deu certo no ano passado. 

Conforme a Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável (Asmare), 70% do lixo reciclável descartado pelo folião em 2018 foi parar no aterro de Macaúbas, em Sabará. 

“Faltou a participação da SLU para ajudar a recolher o lixo e conscientizar o folião”, afirma Alfredo de Sousa Matos, conselheiro fiscal da Asmare. 

Segundo ele, é importante que o material seja descartado em lixeiras ou entregue direto aos catadores, para facilitar o trabalho. 

“Se o lixo ficar todo espalhado pelo chão da cidade, fica quase impossível para os catadores darem conta de recolher tudo”, diz ele. 

Neste ano, a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) decidiu participar para evitar que o desperdício se repita. 

Cerca de 130 trabalhadores de cooperativas foram contratados para a coleta de papel, metal e plástico nos blocos Havayanas Usadas, Garotas Solteiras, Pisa na Fulô, Juventude Bronzeada, Ordinários, Volta Belchior, Quando Come se Lambuza, Bloco da Calixto, Pacato Cidadão, Angola Janga, Alô Abacaxi e Unidos do Barro Preto. 
A SLU também instalou 16 contentores para coletar recipientes de vidro, uma medida preventiva para garantir a segurança dos foliões. 

Desde 23 de fevereiro, quando começaram os pré-carnavais, cerca de seis toneladas de vidro já foram coletados. Todo o material será doado às cooperativas.

Conforme a PBH, além de girar a economia e gerar empregos, o material reciclável é capaz de prolongar a vida útil do aterro sanitário e gerar redução do gasto público.

“Isso implica no aumento da vida útil do aterro e em economia com os gastos com a limpeza urbana. O material reciclável também gera renda e emprego para muitas famílias carentes”, afirmou a SLU, por meio de nota. 

  

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por