Vinte e oito anos separam a publicação de dois artigos muito importantes e simbólicos, escritos por dois brilhantes intelectuais americanos. Em 1989, o hoje professor da Universidade Stanford na Califórnia, Francis Fukuyama, teve seu artigo intitulado “O Fim da História” publicado na revista “The National Interest”, no qual preconizava que a humanidade caminhava para “uma imperturbável vitória do liberalismo econômico e político”. Este ano, Nancy Fraser, professora da New School for Social Research em Nova York, anunciou o “Fim do Neoliberalismo Progressista”, em artigo publicado na revista “Dissent”.
O final da década de 1980 e a maior parte da década seguinte foram momentos de triunfalismo do neoliberalismo. O fim da URSS e a queda do muro de Berlim pareciam indicar que Fukuyama estaria certo. O encontro com a dura realidade começa a partir de 1997, com a chamada “crise asiática”. Inicia-se ali um período de elevação da instabilidade financeira – decorrente da globalização e da desregulamentação – que vai culminar na enorme crise de 2008.
A realidade parece indicar um início de século muito parecido com o anterior, com seguidas derrotas políticas do liberalismo econômico. Nos países ricos, a eleição de Donald Trump e o fortalecimento de uma ala antineoliberal no Partido Democrata simbolizada por Bernie Sanders nos EUA, o Brexit no Reino Unido, o crescimento da Frente Nacional na França e da extrema direita na Alemanha são eventos a evidenciar o enfraquecimento político do liberalismo econômico. Na América Latina, observamos que o desenvolvimento socioeconômico ocorre de forma mais significativa em países e em momentos nos quais o neoliberalismo é rechaçado, tendo como exemplos paradigmáticos o extraordinário fracasso do México e o retumbante êxito da Bolívia (o sucesso boliviano foi o foco de excelente artigo da BBC, na semana passada).
As últimas pesquisas eleitorais com cenários para a corrida presidencial de 2018 indicam um fracasso político do liberalismo econômico nunca antes visto no Brasil. Pela primeira vez desde a redemocratização, se configura a perspectiva de embate eleitoral de segundo turno sem a presença de um representante do liberalismo econômico. Tornou-se bastante plausível a presença no segundo turno da eleição presidencial de 2018 de um candidato de esquerda e de um candidato representante de uma direita conservadora, autoritária e que rechaça valores liberais (inclusive tem baixo ou nenhum compromisso com o estado democrático de direito). Para sorte do Brasil, o candidato de esquerda que lidera as pesquisas (o ex-presidente Lula) já deu provas, ao longo de seus governos anteriores, de sólido compromisso com a democracia e com a racionalidade política.