Embora a literatura ainda diga que as mulheres apresentam algum tipo de vulnerabilidade em determinadas atividades, elas têm mostrado que são necessárias em muitas coisas. Seja no levantamento de peso, no esporte, ou debaixo do sol na lavoura, elas demonstram competência
Valéria Esteves
Repórter
valeria@onorte.net
Em sua origem, pessoa do sexo feminino depois da puberdade; espécie de jogo, consorte, esposa; em todos os continentes, mulher. No campo ou na zona urbana, a mulher tem mostrado que é capaz de abrir um negócio e sustentá-lo com firmeza. Por esse motivo que o governo federal resolveu criar, dentro da linha do Pronaf - Programa nacional de agricultura familiar, uma linha que atendesse a mulher lavradora.
E parece que o investimento tem dado certo, segundo dados apresentados pelo banco do Nordeste, que afirmam que o Pronaf Mulher atendeu 584 mulheres agricultoras familiares dos grupos C, D e E em todo o estado de Minas Gerais. Desse total, foram desembolsados recursos da ordem de R$ 3.300.00.
Em 2005, foram atendidas 148 mulheres, totalizando R$ 843.000 em contratos firmados. Nesta estimativa, não estão incluídas as agricultoras dos grupos A e B que, conforme estimativas, devem ter atingido em 2006 um total de 2000 operações de créditos realizadas, num montante aproximado de R$ 2.000.
Em Minas Gerais, as contratações do Pronaf Mulher tiveram crescimento de 390% em 1 ano (2005 a 2006). Segundo Amilton França, gerente de negócios do Pronaf, essa expansão do Pronaf Mulher em Minas aconteceu pela divulgação intensiva em parceria com instituições e órgãos ligados à agricultura familiar, e também pela quebra de preconceitos e barreiras que persistiam com relação ao crédito ofertado à mulher.
Há exemplos no Norte de Minas que podem emoldurar esses números, como é o caso de dona Margarida Rosa de Lima e dona Maria de Fátima Costa, ambas do município de Pai Pedro. O que elas têm em comum é a vontade de aumentar a renda familiar e ajudarem os esposos a aplicarem mais recursos na propriedade rural. Sejam hortaliças, criação de galinhas, porcos, vacas, lavoura, as mulheres estão com gana de produzir.
Dona Margarida tem aumentado a cada dia sua clientela na venda de hortaliças em Pai Pedro. Segundo ela, o negócio começou devagar, até os vizinhos procurarem sempre suas verduras e legumes para comprar. A demanda foi aumentando e, daí, a necessidade de procurar uma instituição financeira para buscar recursos e tornar o negócio maior e mais atrativo.
PRODUÇÃO DE TAPETES
Outra boa história é de dona Maria de Fátima, que trabalha com produção de tapetes há mais de dois anos. As vendas são feitas nas cidades de Pai Pedro, Porteirinha e Belo Horizonte. Quando Dona Maria solicitou o empréstimo do Pronaf Mulher, pretendia investir em bovinocultura, mas descobriu no contato com o assessor do BNB, que poderia melhorar a qualidade de seus produtos ao invés de entrar para outro ramo de atividades. Maria de Fátima pinta lençóis e outros artigos, e, também, continua a todo vapor com sua fabricação de tapetes.
O MERCADO E A MULHER
Apesar de o mercado de trabalho ainda ocupar mais homens do que mulheres, basicamente em boa parte dos países o mercado informal tem apontado uma entrada significativa das mulheres no setor, em várias atividades. Algumas literaturas insistem em dizer que há uma vulnerabilidade do trabalho feminino em relação ao masculino.
Dados apresentados pela FCC - Fundação Carlos Chagas sobre a posição na ocupação, indicam que, em 2002, tanto entre os homens como entre as mulheres, o mais comum é ser empregado (respectivamente 59% e 47%).
No entanto, um percentual mais expressivo das mulheres (34%) quando comparado aos homens (9%) ocupa posições mais vulneráveis no mercado, seja como trabalhadoras domésticas, seja como não remuneradas, ou, ainda, como trabalhadoras para o consumo próprio ou do grupo familiar.
A pesquisa da FCC informa, ainda, que a presença da mulher nos quadros sindicais ainda é diminuta, embora também venha aumentando ligeiramente nos últimos anos. Em apenas 10% dos sindicatos de empregados urbanos, havia uma mulher na presidência em 1992, mas, em 2001, a proporção era 15,8%. No cargo de tesoureira, os índices avançaram de 16% para 22% no mesmo período.
São também considerados indicadores da qualidade do trabalho feminino as possibilidades de inserção das mulheres nos diversos setores econômicos, as ocupações que desempenham e a desigualdade salarial em relação aos homens.
No último quarto de século, constata-se, no Brasil e, no mundo, que as mulheres continuam submetidas à segregação setorial conforme, também, à segregação ocupacional.
Mas ao que tudo indica, pelo menos no Norte de Minas as mulheres vão mudar o quadro no mercado de trabalho. Em Montes Claros várias mulheres estão enveredando também no comércio. Inclusive, elas prometem melhorar a renda familiar, e ainda, contribuir para o crescimento econômico regional.