Pesquisa inédita, divulgada nesta quinta-feira (22) na Casa Firjan, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, revela que 35 mil brasileiros em idade produtiva sofrem de esclerose múltipla (EM), acarretando impactos no ambiente de trabalho, uma vez que essa doença é difícil de ser identificada e diagnosticada e não tem cura. O pesquisador chefe do Centro de Inovação Sesi em Higiene Ocupacional, Antônio Fidalgo, comentou que a esclerose múltipla é uma doença que faz parte das chamadas doenças raras, tem incidência baixa, “mas, muitas vezes, traz impactos significativos na qualidade de vida das pessoas”.
Resultado da deterioração de algumas estruturas do sistema nervoso, a EM apresenta entre seus sintomas fadiga, problemas de visão e de memória, dificuldades na locomoção, dores crônicas, depressão. “Pode ser progressiva e ter uma série de efeitos resultantes da deterioração da bainha de mielina (membrana que envolve e isola as fibras nervosas responsáveis pela condução dos impulsos elétricos no cérebro, medula espinhal e nervos ópticos)”, disse Fidalgo à Agência Brasil.
Esclareceu que a pesquisa é específica, porque não trata da parte médica da doença, mas pretende entender como é a vida de um profissional com EM no ambiente de trabalho. “A nossa abordagem foi tentar entender como é a vida de um sujeito com essa doença e a capacidade dele se manter no emprego e os desafios dessa pessoa no mercado de trabalho”.
Afastamento
A sondagem avaliou informações contidas em 3.275 artigos científicos e bases públicas sobre os impactos da EM na atividade laboral, assim como o impacto no sistema de seguridade social.
Dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) mostram que, em média, uma pessoa com EM se afasta do emprego quatro meses por ano, ou seja, são 128 dias de afastamento. “A gente tem uma relação inversa da empregabilidade e da progressão da doença. Quanto mais tempo a pessoa tem essa doença, menores são as chances de se manter empregado”.
De acordo com a pesquisa, há duas possibilidades para um profissional com EM: ele se afasta do trabalho por vários períodos até o momento em que não consegue mais desenvolver suas atividades e se aposenta por invalidez. No Brasil, para essa doença, a idade média da aposentadoria é entre 30 e 45 anos, informou Antônio Fidalgo. Desde 2014 até 2018, há 7,5 mil registros de benefícios concedidos, dos quais 1,860 mil são aposentadorias por invalidez e o restante é algum outro benefício concedido, relatou o pesquisador chefe. As estimativas apontam que em 2020, os custos para o INSS envolvidos com afastamentos e aposentadorias de pessoas com EM ultrapassarão R$ 410,74 milhões. “É um valor significativo”. A faixa etária de 20 a 45 anos responde por 78,01% dos auxílios concedidos.
Diferenças
A consideração final do estudo é que quanto maior for a capacidade de a pessoa manter a doença estável, maiores são as chances de permanecer empregado. “E que a gente respeite essas diferenças”, ressaltou Fidalgo. A flexibilização da carga horária e pequenas adaptações na forma de execução das tarefas são ações que podem ser empreendidas pelas companhias e empregados em relação às pessoas com EM, para que elas continuem fazendo parte da força de trabalho.
Antônio Fidalgo explicou que o desconhecimento da doença pela população em geral pode gerar aumento das diferenças e criar um gargalo nas relações entre os funcionários, ou até mesmo evoluir para a prática de ‘bullying’ contra o doente com EM. A recomendação da pesquisa é investigar se a pessoa sofre de EM e, em caso positivo, considerar suas necessidades e respeitar as diferenças. De acordo com a pesquisa, o diagnóstico antecipado da EM, bem como o tratamento adequado, podem ampliar a qualidade de vida e a autonomia da pessoa com a doença.