A PARTIR DE 19/9

'A Beleza do Imperfeito': mostra exibe arte, educação e sobrevivência no cárcere

Exposição reúne obras desenvolvidas em unidades prisionais e Apacs mineiras, trazendo reflexões sobre a liberdade, a família, a sobrevivência, a fé, a educação, o trabalho e os sonhos dos encarcerados

Do HOJE EM DIA
portal@hojeemdia.com.br
16/09/2024 às 18:46.
Atualizado em 16/09/2024 às 19:11
 Grupo usa a arte para questionar o que o Estado, os representantes de todos os poderes e as organizações da sociedade civil podem fazer para que o cumprimento da pena não seja meramente uma punição para aquele que cometeu um crime, mas tenha também um caráter educativo (Divulgação)

Grupo usa a arte para questionar o que o Estado, os representantes de todos os poderes e as organizações da sociedade civil podem fazer para que o cumprimento da pena não seja meramente uma punição para aquele que cometeu um crime, mas tenha também um caráter educativo (Divulgação)

“A Beleza do Imperfeito” é o nome da exposição de arte, educação e relatos da vida no cárcere que será inaugurada nesta quinta-feira (19) no Centro de Arte Popular, à rua Gonçalves Dias, 1.608, Lourdes, em Belo Horizonte. A entrada é gratuita. 

Com obras desenvolvidas em unidades prisionais convencionais do Estado e em Apacs, a exposição questiona o perfeito e o imperfeito, que podem estar na percepção de quem observa, nas ausências, na presença de quem nunca esteve ou em tantos outros lugares, pessoas e situações. O que é perfeito? O que é imperfeito?

A mostra traz reflexões sobre a liberdade, a família, a sobrevivência no cárcere, a fé, a arte e a educação, o trabalho e sobre os sonhos dos encarcerados.

“Cartas escritas num projeto de educação integram o acervo, numa espécie de interação de quem escreve de uma cela de um presídio com quem, do lado de fora, as lê, aproximando aqueles que não estão tão distantes em vários aspectos e, ao mesmo tempo, que se distanciam em outras tantas situações”, afirma Tio Flávio, professor universitário e um dos curadores - o grupo reúne os artistas e professores Angelita Mercês, Helena Macedo, Luhh Dandara, Marcella Mafra, Mari Flecha, Odette Castro, Tê Araújo e Varda Kendler. 

O tema da exposição é uma provocação para que a sociedade entenda a complexidade do assunto. O Ministério da Justiça e Segurança Pública aponta que em 2023 o número de pessoas privadas de liberdade no Brasil ultrapassou a marca de 850 mil homens e mulheres. Em 2000, os dados registravam pouco mais de 230 mil pessoas no cárcere.

A quantidade alarmante dispara um alerta da necessidade de repensar o que pode ser feito para evitar que mais pessoas tenham acesso ao crime e engrossem esta linha ascendente que pode chegar, em breve, a um milhão de indivíduos encarcerados nas unidades prisionais do país.

O estímulo ao acesso e à permanência em programas de educação, oportunidades de desenvolvimento profissional, incentivo ao esporte e ao acesso à cultura, programas de assistência social, diminuição da insegurança alimentar - que entre leve, moderada e grave atingem cerca de 30% da população brasileira, segundo o módulo de Segurança Alimentar da Pnad Contínua de 2023. 

Segundo os curadores, tudo isso vem à tona quando se fala em aprisionamento. O grupo questiona o que o Estado, os representantes de todos os poderes e as organizações da sociedade civil podem fazer para que o cumprimento da pena não seja meramente uma punição para aquele que cometeu um crime, mas que tenha também um caráter educativo.

Para o grupo, uma discussão que deveria interessar a toda a sociedade, uma vez que ignorada esta questão, além de um aumento da população carcerária, o brasileiro tem ressaltada a sua sensação de insegurança e um crescimento da brutalização das relações humanas.

Ângela Davis, presa nos anos de 1970, e que recebeu uma retratação do Estado, lembra que na década de 1950, “a educação de Malcolm na prisão foi um grande exemplo da capacidade de um prisioneiro de fazer do seu encarceramento uma experiência transformadora”.

Porém, os contextos do aprisionamento brasileiro ainda não contemplam tamanho êxito. De modo geral, ações de cultura e educação como agentes de transformação dependem de uma mudança do sistema, que tem que contemplar a valorização da arte, do esporte, da educação, da relação familiar e do acesso a outros direitos.

A iniciativa é da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, com a realização conjunta do movimento voluntário Tio Flávio Cultural e do Conselho da Comunidade da Comarca de Igarapé.

Serviço
Exposição “A beleza do imperfeito”
Local: Centro de Arte Popular – CAP. Rua Gonçalves Dias, 1.608, Lourdes, BH
Período: de 19/9 a 20/10/24
Horário de visitação ao CAP – terça a sexta, das 12h às 18h30; sábados e domingos, das 11h às 17h

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