AMBIENTE VIRTUAL

Adolescentes de 13 a 15 anos são os que mais sofrem com o cyberbullying

Pesquisa da UFMG mostra que 13,2% dos jovens entrevistados são vítimas da agressão; estudo relaciona violência com depressão e ideias suicidas

Felipe de Paula*
@lippedepaula
10/09/2024 às 15:04.
Atualizado em 10/09/2024 às 18:26
Estudo pioneiro é da Escola de Enfermagem da UFMG e do IBGE (Freepik)

Estudo pioneiro é da Escola de Enfermagem da UFMG e do IBGE (Freepik)

Estudantes de 13 a 15 anos são as maiores vítimas do cyberbullying no Brasil. A constatação de que os adolescentes desta faixa etária são os que mais sofrem com ofensas, intimidações e perseguições no ambiente virtual está em um estudo pioneiro da Escola de Enfermagem da UFMG e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisadores apontam a necessidade urgente de maior monitoramento e novas soluções para garantir o enfrentamento efetivo do problema.

O levantamento foi feito com 159 mil alunos de 13 a 17 anos, dos ensinos fundamental e médio de escolas públicas e privadas. Conforme as amostras, 13% dos jovens já foram alvo de ataques na internet, com a divulgação de imagens, vídeos ou mensagens ofensivas. A prevalecência é maior entre meninas, filhos de mães sem escolaridade e estudantes de escola pública. Veja outros recortes da prevalecência do cyberbullying:

  • Estudantes que admitem uso de drogas (26,4%)
  • Dizem não ter amigos (26,1%)
  • Sofrem agressão dos pais (22,6%)
  • Afirmam que a vida não vale a pena (22,3%)
  • Estudantes que fumam (24,8%)
  • Estudantes que usam bebidas alcóolicas (19,1%)
  • Sentem que ninguém se importa com eles (18,6%)
  • Faltam às aulas sem autorização dos pais (18,4%)
  • Não têm supervisão dos pais no tempo livre (18,1%)
  • Estudantes que relataram ter tido relação sexual (17,1%)
  • Estudantes que se sentem tristes (17%)
  • Não moram com os pais (15,4%)

Os percentuais foram obtidos após a resposta de um questionário, com participação voluntária, conforme explica a coordenadora do estudo, professora Deborah Carvalho Malta, do Departamento de Enfermagem Materno-infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem. Segundo a docente, os alunos foram previamente informados sobre os objetivos e as principais características da pesquisa.

“Eles responderam a um questionário estruturado, autoaplicável por meio de smartphone, sob a supervisão de pesquisadores do IBGE, que contemplava informações sobre situação socioeconômica, contexto familiar, experimentação e uso de cigarro, álcool e outras drogas, violência, segurança, acidentes e outras condições de vida”.

Outra preocupação é com a saúde mental dos estudantes, já que o relatório aponta entre as vítimas pessoas que dizem não ter amigos ou acreditar que ninguém se importa com eles. “Esses resultados estão em conformidade com a literatura, que identificou que essas vítimas tiveram um aumento substancial nos riscos relacionados com depressão, ideações suicidas, tentativas de suicídio e automutilação”, reforça Deborah Malta.

A pesquisadora reforça que uma lei aprovada neste ano estabelece que os municípios devem adotar protocolos de proteção às crianças e adolescentes contra todas as formas de violência no ambiente escolar, além de viabilizar a capacitação de profissionais. Para Deborah Malta, as medidas são positivas e precisam ser executadas em parceria com os estados e a União.

"A lei define punições e multas para adultos que cometem bullying contra crianças ou adolescentes. No caso de agressão cometida por adolescentes, eles respondem por meio de medidas socioeducativas; no caso de crianças, os responsáveis legais são processados, com pena de reclusão de dois a quatro anos e pagamento de multa para situações de intimidação na internet, redes sociais, aplicativos ou jogos", detalha a professora.

No entanto, o estudo conclui ainda ser necessário monitorar a prática de agressões em ambientes digitais e propor soluções para o enfrentamento efetivo. A pesquisadora reconhece a dificuldade na identificação dos autores e as poucas punições existentes.

"Esses aspectos indicam a necessidade de avançar nas ações regulatórias das redes sociais e estabelecer punições claras, ações nas áreas de saúde, educação, poder judiciário e família, visando cumprir a agenda 2030 relacionada ao bem-estar dos adolescentes”, acrescenta Deborah Malta.

Enfrentamento ao bullying nas escolas de Minas

Por nota, a Secretaria de Estado de Educação (SEE-MG) informou que desenvolve diferentes iniciativas, ações e projetos no combate à violência no ambiente escolar. Dentre elas está o Programa de Convivência Democrática, que tem como foco a promoção da paz no ambiente escolar. Protocolos orientam sobre as intervenções e encaminhamentos nos casos necessários.

Já em 2022, a Secretaria implantou o Núcleo de Acolhimento Educacional (NAE), formado por uma equipe de psicólogos e assistentes sociais, que presta atendimento psicossocial e realiza palestras e ações sobre diversos temas, incluindo o combate à violência, racismo, bullying, dentre outros.

Neste ano, a SEE/MG iniciou também a implementação do Projeto Socioemocional, que visa desenvolver ações de promoção da saúde mental e emocional de estudantes, gestores e professores. 

*Estagiário, sob supervisão de Renato Fonseca 

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