Afastados das urnas

Interesse dos jovens pelo voto é o menor em 30 anos no país

Herrmano Chiodi
hcfreitas@hojeemdia.com.br
19/03/2022 às 11:06.
Atualizado em 20/03/2022 às 12:30
Temas como Fundo Eleitoral ou a cota de 30% do fundo que hoje devem ser destinados às candidatas mulheres não devem ser abordados (Antônio Augusto/Ascom/TSE)

Temas como Fundo Eleitoral ou a cota de 30% do fundo que hoje devem ser destinados às candidatas mulheres não devem ser abordados (Antônio Augusto/Ascom/TSE)

Somente um em cada dez jovens entre 16 e 17 anos se interessou até o momento em tirar o título de eleitor para votar neste ano. É o menor patamar desde 1992, quando começou o registro histórico do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Naquele ano, o país teve 3,2 milhões de eleitores votando pela primeira vez, o que representava 25% do contingente.

Em 2022, conforme a Justiça Eleitoral, o país tinha, até fevereiro passado, 731 mil jovens entre 16 e 17 anos inscritos para votar, o que equivale a 9,6% da população total nessa faixa etária, estimada em 7,7 milhões. Em Minas, o contingente alcança 72.379 eleitores, ou 9,9% do total de mineiros entre 16 e 17 anos, que é de 726 mil jovens.

O que está por trás do desinteresse recorde dos jovens pelas urnas? Para o professor Adriano Gianturco, coordenador do curso de relações internacionais do Ibmec, é até normal uma redução dos números absolutos de jovens inscritos, devido à queda demográfica da população, mas isso não explica tudo.

Segundo ele, a digitalização das relações e o ambiente on-line tendem a aumentar a radicalização e afastar as pessoas menos dispostas ao conflito. “As eleições são o momento de maior acirramento dos pontos de vista. A ampliação das redes sociais aumenta ainda mais essa radicalização e pode afastar parte da população e nos propensa aos conflitos e ao embate”, disse.

“As pessoas querem acreditar que o debate político é pacífico, sensato, mas não é. O normal é o conflito”, defende. Esse acirramento, para Gianturco, acaba contribuindo para o afastamento de jovens que não estão interessados neste momento em exposições e confrontações.

Se a política real enfrenta dificuldades para atrair osjovens, na Internet o mundo é outro. Falando de jovem para jovem, influenciadores digitais que são também militantes na política tratando tema com desenvoltura e colecionam curtidas e cliques. Apesar de terem suas preferências partidárias, não há compromisso com regramentos e limitações típicas das instituições partidárias formais.

Sarah Marques, da União da Juventude Liberal, já soma 12 mil seguidores (Arquivo Pessoal)

Sarah Marques, da União da Juventude Liberal, já soma 12 mil seguidores (Arquivo Pessoal)

Influenciadores

Com mais de 100 mil seguidores em cada uma de suas redes sociais – canais no Youtube, Twitter, Instagram e Twitch –, a mineira Laura Sabino, de Ribeirão das Neves, se classifica como uma “jovem da quebrada”, que fala e consegue ser ouvida na rede. “Eu tenho que falar de forma simples sem ser simplista. As pessoas têm que entender o que eu digo, mas eu tenho que saber que ninguém ali é burro”, conta.

Militante de esquerda, Laura é ligada ao PT e ao MTST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Um dos seus vídeos mais assistidos, com 119 mil visualizações, usa o filme “O Diabo Veste Prada” para falar do feminismo liberal, e essa é uma estratégia comum utilizada por ela que, por exemplo, fala de comunismo utilizando o filme Monstros S.A. 

Laura Sabino, ligada ao MTST, usa animações para debatertemas políticos (Arquivo Pessoal)

Laura Sabino, ligada ao MTST, usa animações para debatertemas políticos (Arquivo Pessoal)

Laura Sabino, ligada ao MTST, usa animações para debatertemas políticos (Arquivo Pessoal)

Do lado oposto no espectro ideológico, Sarah Marques, de Belo Horizonte, ativista da União Juventude Liberal, já soma 12 mil seguidores nas redes sociais.

Ela defende que, para a política dar certo, é necessário adequar a linguagem, mas se diz preocupada.“Quando um jovem demonstra desinteresse, significa que  o futuro teremos uma sociedade desinteressada. Não é um problema só dos jovens”, diz.

Já o Partido Novo criou uma ação chamada Sociedade de Debate, na qual os jovens participantes podem fazer networking tanto entre eles como com profissionais já estabelecidos.

“Oferecemos conteúdo, contato com profissionais de destaque e formação para as profissões que elespretendem escolher”, diz Matheus Biancardine, responsável pela gestão da juventude no partido.

Leia Mais:

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por