O primeiro-ministro interino do Egito, Hazem el-Beblawi, anunciou nesta segunda-feira (24) que ele e seu gabinete apresentaram sua renúncia ao presidente do país, Adly Mansour. A medida surpreendente pode ter como objetivo abrir o caminho para que o chefe militar do país, o marechal de campo Abdel-Fettah el-Sissi, concorra à presidência.
El-Beblawi não especificou as razões para a adoção da medida durante comunicado transmitido pela televisão estatal.
O governo de El-Beblawi, apoiado pelos militares, foi empossado em 16 de julho, menos de duas semanas após El-Sissi, atual ministro da Defesa, ter derrubado o presidente Mohammed Morsi depois de ele ter permanecido um ano no cargo.
A renúncia do governo, anunciada por El-Beblawi ao vivo pela televisão, acontece em meio a várias greve, dentre elas a dos trabalhadores de transportes públicos e dos coletores de lixo. Uma grave falta de gás de cozinha tem estado nas manchetes dos jornais nos últimos dias.
Ainda não estava claro se El-Beblawi permanecerá como chefe de um novo governo ou se dará lugar a um novo primeiro-ministro. Ele costuma ser ridicularizado pelos meios de comunicação por causa de sua indecisão e sua incapacidade de apresentar soluções eficazes para os problemas econômicos do país. El-Beblawi também é criticado por causa da incapacidade das forças de segurança de evitar ataques terroristas promovidos por militantes simpáticos a Morsi e à Irmandade Muçulmana.
El-Beblawi reconhece as condições difíceis nas quais seu gabinete funcionou, mas deu a entender que o Egito é um lugar melhor agora do que quando ele assumiu o cargo. "O gabinete tem, nos últimos seis ou sete meses, assumido um fardo muito difícil e delicado de forma responsável e devida e eu acredito que, na maioria dos casos, temos conseguido bons resultados'', disse ele.
"Mas como em qualquer empreitada, nem tudo é sucesso, mas acontece dentro dos limites do que é humanamente possível", declarou El-Beblawi. O objetivo, disse ele, era retirar o Egito de um "túnel estreito" provocado pelas pressões de segurança, políticas e econômicas.
Ao falar sobre a série de greves, o premiê advertiu aos egípcios que não é hora de fazer exigências. "Nós devemos sacrificar nossos interesses e os dos trabalhadores pelo benefício da nação."
O anúncio da candidatura de El-Sissi, bastante aguardado, fica facilitado com a queda do Ministério. O marechal de campo já garantiu o apoio do principal organismo militar do país, o Conselho Supremo das Forças Armadas, para lançar sua candidatura presidencial.
Militar de carreira que recebeu treinamento no Reino Unido e nos Estados Unidos, El-Sissi já tem agido de forma presidencial. Ele fez uma visita à Rússia no início do mês, quando garantiu o apoio do Kremlin à sua candidatura e negociou um acordo de armas com os russos em nome do Egito. Fonte: Associated Press e Dow Jones Newswires.
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