Governo promete respostas na semana que vem: protesto ganha repercussão e força o presidente Lula a tomar posição em relação à situação dos produtores rurais

Jornal O Norte
18/05/2006 às 11:06.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:35

Valéria Esteves


Repórter


valeria@onorte.net

Parece que os protestos dos produtores em todo o Brasil resultarão numa resposta quase que imediata do governo federal. Em reunião com governadores dos estados de Goiás, Mato Grosso, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Maranhão, Distrito Federal, Tocantins, Bahia, e ainda com o vice-governador do Paraná e com o secretário da Agricultura de Minas Gerais, o ministro da Agricultura Roberto Rodrigues recebeu uma carta endereçada ao presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva contendo as reivindicações sobre a atual conjuntura da crise na agropecuária do país. Sobre pressão o ministro se viu obrigado a anunciar que no dia 25 próximo o governo dará uma resposta às reivindicações.




Renegociação das dívidas rurais ainda não foi sinalizada


pelo governo, mas a esperança é de que isso


ocorra nos próximos dias
(foto: Wilson Medeiros)

Há alguns dias os produtores têm demonstrado sua indignação quanto ao veto do presidente Lula sobre a renegociação das dívidas agrícolas aumentadas e corrigidas pela TJLP-Taxa de juros a longo prazo. Segundo informou a O Norte, Júlio Pereira, presidente do Sindicato Rural de Montes Claros, as dívidas se aproximam de R$ 20 bilhões. Uma possível renegociação com o Banco do Nordeste teria acontecido, de acordo com Júlio, mas mesmo assim elas continuam bem altas.

Segundo informações do BNB, o débito na área rural do Norte de Minas é de R$ 664,6 milhões e deste saldo apenas 6% esta em atraso.

Os produtores alegam que tanto a produção de alimentos quanto a produção de gado de leite quanto de corte têm registrado os piores preços dos últimos anos sem contar com o longo período de estiagem em algumas regiões a exemplo do Norte de Minas, onde animais morreram e a as plantações se perderam.

REAÇÃO

Em Montes Claros, o protesto que se somou aos demais que aconteciam no país durou por volta de uma hora e bloqueou o trevo da BR 251. Em Minas Gerais os protestos foram pacíficos e mais curtos, sendo que nos outros Estados como no Paraná foram registrados ao todo 72 pontos de bloqueio. Mas foi no Mato Grosso do Sul onde a onda de protesto foi mais intensa e reivindicadora. Na capital, Campo Grande, a prefeitura suspendeu o expediente e o comércio parou durante toda manhã. Lá mais de 500 tratores paralisaram o trânsito no centro dessa capital e em Montes Claros cerca de 50 tratores desfilaram do parque de exposições João Alencar até o trevo do leite na pista e ainda passaram em frente ao BNB e ao banco do Brasil.

Para o presidente da Sociedade Rural de Montes Claros, Alexandre Vianna o governo tem dito que os produtores são caloteiros, mas esquece de dizer que esses mesmos produtores são responsáveis pelo superávit na balança comercial e que isso implica em uma fatia de 40% da economia brasileira.

Nessa reportagem, O Norte publica na íntegra a carta dos governadores ao presidente Lula.

CARTA DE REIVINDICAÇÃO

Luiz Inácio Lula da Silva


Presidente da Republica Federativa do Brasil


Brasília/DF

Senhor Presidente,

Os governadores abaixo assinados concordam que a economia brasileira passa por um momento delicado em razão da crise da agropecuária e seus reflexos nos demais segmentos, que direta ou indiretamente são afetados, conforme observações a seguir.

As perspectivas apontam para uma queda nas atividades do campo e em quase todos os segmentos voltados ao comercio exterior com sérias conseqüências na geração de renda e empregos.

Os efeitos se farão sentir com mais gravidade no decorrer do 2ºsemestre de 2006 e ao longo do ano de 2007, onde a arrecadação dos Estados deverá sofrer drástica redução, impedindo-os de cumprir com os compromissos elementares com a saúde publica, educação, segurança e outras obrigações institucionais mínimas.

Por isso, Senhor Presidente, se faz necessária uma criteriosa avaliação do atual momento e buscar as alternativas possíveis para minimizar os efeitos desastrosos que se avizinham.

Brasília, 16 de maio de 2005.

PREMISSAS

A crise da agropecuária brasileira não foi promovida pela incompetência dos produtores e muito menos pelos preços das principais commodities nos mercados internacionais. Os preços dos produtos agrícolas no mercado internacional nos atuais níveis sempre remuneraram o produtor adequadamente.

Os produtores, por sua vez, ao tomarem empréstimos tiveram seus projetos analisados sob o ponto de vista de viabilidade econômica. Nenhum banco os aprovaria caso os resultados previstos não dessem capacidade de pagamento.

Portanto, as dificuldades por que passa a nossa agropecuária foram provocadas, principalmente, pela política econômica do governo orientada para o fortalecimento da moeda real frente ao dólar.

CAUSAS

Juros extremamente altos, atraindo bilhões de dólares especulativos para compra de títulos da divida interna.

Isenção de IOF na internação de recursos externos para aplicação em títulos da divida interna. Em menos de dois anos o dólar desvalorizou em 45%, com reflexos diretos na renda do produtor. No mesmo período o Litro de Óleo diesel aumentou 40% em reais e 100% em Dólar.

Autor: Assessoria de Imprensa Faep

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