Não é exagero: negligenciar a higiene íntima pode, sim, ser um golpe na saúde e na autoestima do homem. Quem faz o alerta é o médico urologista José Eduardo Fernandes Távora. Ele explica que a falta desse cuidado aumenta o risco de surgimento de câncer de pênis, principal causa de amputação do órgão. “Tanto que a incidência da doença no povo judaico é pequena por causa da circuncisão, que é a retirada do excesso de pele (do pênis)”, completa.
O tema veio à tona após declaração do presidente Jair Bolsonaro, nesta quinta-feira (25), afirmando estar alarmado com a quantidade de homens que têm o pênis amputado no Brasil por “falta de água e sabão”. O número – mil brasileiros por ano – é divulgado pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) em campanha para conscientizar o público masculino.
Segundo Távora, ex-presidente da regional mineira da SBU, o alerta feito de forma inusitada – na saída de um encontro de Bolsonaro com o ministro da Educação, Abraham Weintraub – não está errado.
“Quando a menina menstrua, a mãe geralmente leva ao ginecologista para as devidas orientações e cuidados. Mas, culturalmente e por preconceito, os pais não têm o costume de levar o filho ao urologista quando ele atinge a idade de conhecer melhor o corpo”, diz o médico.
Ainda de acordo com ele, que também é diretor técnico de cirurgia robótica da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, a prevenção ao câncer de pênis é muito importante e deve ser tratada como questão de saúde pública. A doença pode matar.
“Nos países onde a circuncisão é preconizada, a taxa de câncer peniano cai muito. Em estados mais carentes, a SBU promove mutirões para operar a fimose e diminuir a taxa de amputação de pênis”, afirma. A fimose é o excesso de pele que recobre o pênis e dificulta que a glande (cabeça do órgão) seja exposta e limpa de forma mais eficaz.
O especialista alerta ainda que a medicina já concluiu que o HPV – vírus transmitido, em geral, durante o ato sexual – também contribui para os casos de câncer peniano.
A SBU relançou este ano uma campanha de 2007 sobre a importância de prevenção à doença. Uma revista em quadrinhos com linguagem bastante didática pode ser baixada diretamente no site para orientar a população. Clique aqui.
De acordo com a publicação, um sintoma comum da doença é o aparecimento de ferida ou tumor persistente (que não some) no pênis ou na virilha. O ferimento pode ter secreção e mau cheiro.